Os cavalos marinhos de Portugal estão desprotegidos

Sergiu Iacob / Pexels

Espécie está na lista vermelha da biodiversidade. Poluição, pesca acessória e perda de habitat são os seus três “inimigos”. “Sabe-se muito pouco” em Portugal sobre a sua distribuição.

As áreas marinhas em Portugal e em Espanha são insuficientes para proteger os cavalos marinhos, concluíram investigadores do MARE-Ispa, num estudo divulgado esta terça-feira que revelou baixos níveis de proteção e de conhecimento dos habitats.

De acordo com o trabalho publicado na revista Global Ecology and Conservation, as áreas marinhas protegidas apenas cobrem cerca de 20% do habitat estimado em Portugal continental, e menos de 12% na frente atlântica de Espanha, sendo que menos de 0,5% são áreas de proteção total.

“Os investigadores acreditam que estes valores são sobrestimados, uma vez que a cobertura das Áreas Marinhas Protegidas confere baixos a moderados níveis de proteção, permitindo em muitos casos o uso de redes e armadilhas de pesca, que capturam os cavalos-marinhos de forma acessória”, afirmou, em comunicado, o Instituto Universitário (ISPA).

“Não há medidas específicas” para proteger espécie

A grande maioria das áreas marinhas “não contempla medidas específicas para a proteção” destes animais, nos planos de gestão. “Isto quando existem planos de gestão”, alertaram os autores do estudo.

“É absolutamente fundamental criar medidas de proteção para estas espécies e dotar as Áreas Marinhas Protegidas de recursos humanos, financeiros e técnicos para que se possam gerir as atividades e a biodiversidade de uma forma sustentável”, referiu o coordenador do estudo, Gonçalo Silva, citado no comunicado.

Os cavalos-marinhos vivem normalmente em zonas costeiras onde existe o maior impacto de atividades humanas, ficando por isso “muito suscetíveis à poluição, à pesca acessória e à perda de habitat”.

As espécies foram incluídas na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), bem na Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção (CITES) e na Convenção de Berna, sublinharam os investigadores.

“Recentemente, foi aprovada uma resolução no congresso da UICN que visa a conservação de singnatídeos (cavalos-marinhos, marinhas e dragões-marinhos) e que enfatiza o impacto das atividades humanas nos habitats críticos, como por exemplo as pradarias marinhas, e outras zonas de extrema importância para as fases juvenis destas espécies e que se encontram ameaçadas em toda a Europa. Assim, urge implementar as diretrizes que esta resolução define, nomeadamente a de recolha de informação do estado das populações de singnatídeos bem como promover ativamente a sua conservação”, exigiram.

Em Portugal, acrescentaram, “sabe-se muito pouco” sobre a distribuição dos cavalos-marinhos, sendo as populações da Ria Formosa as mais estudadas. “Na última década, a abundância sofreu uma redução na ordem dos 90%”, devido sobretudo a pressões causadas pelo homem.

No resto do país, advertiram, “não há estudos que permitam inferir sobre as tendências populacionais”. O presente estudo confirma que os estuários do Tejo e do Sado, a par da Ria Formosa, são os locais mais importantes para os cavalos-marinhos em Portugal.

Também recentemente foi descoberto um núcleo de cavalos-marinhos no estuário do Tejo de interesse ecológico e para a conservação, na baía da Trafaria (concelho de Almada), confirmando os resultados deste artigo, onde o estuário do Tejo surge como “um hotspot de cavalos-marinhos”.

Recorde-se que Portugal falhou na proteção da biodiversidade e pode vir a ser castigado pela União Europeia. Bruxelas abriu, no mês passado, um processo de infração a Portugal por falhas na proteção da biodiversidade.

ZAP // Lusa

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