O ataque com um helicóptero que disparou e lançou explosivos contra a sede do Supremo Tribunal e do Ministério do Interior foi considerada pelo Presidente venezuelano um “ataque terrorista”. Porém, a oposição diz que tudo não passa de uma “encenação” para desviar as atenções do regime e para que este possa ser ainda mais repressivo.
“Ativei todas as forças armadas para defender a ordem. Capturámos rapidamente o helicóptero e aqueles que realizaram este ataque terrorista“, declarou Nicolás Maduro, momentos depois do ataque que não registou feridos.
O Governo afirmou que foram disparados 15 tiros contra o Ministério do Interior e lançadas quatro granadas contra o Supremo Tribunal, a partir de um helicóptero tomado por Óscar Pérez, inspetor adstrito à divisão de transporte aéreo da polícia científica (CICPC).
O ministro da Comunicação e Informação, Ernesto Villegas, indicou ainda que o polícia está a ser investigado pelas ligações à CIA e à embaixada dos EUA na Venezuela.
Esta foi a versão do regime de Maduro mas, de acordo com a oposição, tudo não passa de uma “encenação” e de uma “montagem” para desviar as atenções sobre outros factos importantes que ocorreram no mesmo dia.
Segundo o Público, o ataque aconteceu logo depois da criação de “unidades ligeiras de acção especial” dentro das Forças Armadas e no mesmo dia em que o Supremo decidiu entregar mais poderes ao defensor do regime, Tarek Saab, o que enfraquece a posição dos procuradores, especialmente de Luisa Ortega, que é crítica do Governo.
Além disso, à mesma hora do ataque, os legisladores do partido da oposição Mesa de Unidade Democrática (MUD) encontravam-se encurralados no Parlamento, sob o cerco de brigadas populares apoiantes do regime e da Guarda Nacional Bolivariana.
Em declarações à Reuters, citado pelo Diário de Notícias, o ex-ministro do Interior e da Justiça, Miguel Rodriguez Torres, diz não ter ficado “convencido” com o incidente do helicóptero. “Foi um espetáculo barato. Quem ganha com isto? Só Nicolás por duas razões: para dar credibilidade à sua conversa de golpe de estado e para acusar o Rodriguez”, referindo-se a si próprio (por ter sido associado ao ataque).
“Parecia um filme. Algumas pessoas dizem que foi uma montagem, outros que foi verdadeiro”, contou o presidente da Assembleia Nacional, Julio Borges, da oposição venezuelana, citado pelo mesmo jornal. “Estão a acontecer milhares de coisas e eu sintetizo-as de uma maneira: um governo que está decadente e a apodrecer e um país que está a lutar por conquistar a sua dignidade”, acrescentou.
Um polícia que também é ator
Óscar Pérez usou a sua conta no Instagram para divulgar vários vídeos a reivindicar o ataque com o helicóptero. No entanto, conta também o Diário de Notícias, um dado interessante sobre este polícia é que também tem uma carreira na representação.
Pérez foi um dos protagonistas e produtor do filme “Morte Suspensa”, de 2015, inspirado no caso do sequestro de um empresário português em Caracas e libertado onze meses depois pela CICPC.
Na Venezuela, as manifestações a favor e contra Nicolás Maduro intensificaram-se desde abril, depois de o Supremo Tribunal de Justiça divulgar duas sentenças que limitavam a imunidade parlamentar e em que aquele organismo assumia as funções do Parlamento.
Entre queixas sobre o aumento da repressão, os opositores manifestam-se ainda contra a convocatória de uma Assembleia Constituinte, feita a 1 de maio por Nicolás Maduro.
Mais de mil pessoas ficaram feridas durante os protestos e mais de 70 morreram.
Até na Venezuela já fazem “false flags”?