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O que é isto?! Obras polémicas na Cascata do Tahiti no Gerês

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Câmara Terras de Bouro

Imagem 3D das obras previstas para a "Cascata do Tahiti" no Gerês.

Imagem 3D das obras previstas para a “Cascata do Tahiti” no Gerês.

Os acidentes com turistas na chamada “Cascata do Tahiti” no Parque Nacional Peneda-Gerês levaram a Câmara de Terras de Bouro a avançar com obras para reforçar a segurança. Mas há muitas críticas ao projecto.

A cascata de Fecha de Barjas, mais conhecida como “Cascata do Tahiti“, situa-se em Vilar da Veiga, na aldeia da Ermida, no concelho de Terras de Bouro, em Braga.

É um local muito frequentado por turistas, sobretudo no Verão, que dá umas óptimas fotos para o Instagram. O problema é que também é um local perigoso, com muitos declives num caminho sinuoso e sem protecções.

Muitos turistas deslocam-se ao local sem o calçado apropriado, além de terem comportamentos descuidados que propiciam os acidentes.

Já várias mortes aconteceram nas cascatas, nos últimos anos, o que levou a Câmara de Terras de Bouro a agir, avançando com um projecto que está a ser muito criticado.

As obras incluem a colocação de uma estrutura metálica para conseguir ver as cascatas de forma segura, com um gradeamento ao redor da queda de água.

Além disso, olhando para os planos em 3D divulgados pela autarquia, parece haver a intenção de cimentar as pedras que existem em torno da água e que são íngremes e escorregadias.

O investimento é de 205 mil euros e as obras deviam ter-se iniciado a 1 de Agosto, mas dada a polémica, não chegaram a arrancar.

O presidente da Câmara de Terras de Bouro, Manuel Tibo, eleito pelo PSD, revela-se indiferente às críticas. “Quem manda em Terras de Bouro são os terrabourenses”, nota em declarações citadas pelo Jornal de Notícias (JN).

Depois das obras, tudo “ficará mais seguro e melhor”, assegura o autarca.

Obras vão “destruir” paisagem única

O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) emitiu um “parecer favorável condicionado” para as obras, sujeitando o projecto “ao cumprimento de um conjunto de requisitos que visam a minimização do impacto causado pela intervenção”, conforme nota enviada pelo Conselho Directivo da instituição ao JN.

Mas não são revelados quais são esses requisitos.

“A proposta de intervenção permitirá o ordenamento e a melhoria das condições de visitação à Cascata de Barjas, minimizando o impacto da presença humana sobre os valores naturais existentes, bem como eventuais riscos associados à utilização de uma área de afloramentos rochosos, ao mesmo tempo que contribuirá para melhorar as condições de resgate e socorro em caso de acidente”, aponta ainda a nota do ICNF.

Mas para a Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade (FAPAS), o que se está a fazer é a “destruir” uma paisagem natural do Parque Nacional Peneda-Gerês (PNPG), o único parque nacional do país, conforme nota num comunicado citado pelo jornal Terras do Homem.

“Segundo as montagens 3D divulgadas pela Câmara Municipal de Terras de Bouro, o que pretendem fazer é transformar um troço de paisagem natural, das mais valiosas do PNPG, num cenário completamente artificial e de características urbanas“.

Assim, a FAPAS pretende que o ICNF impeça a obra e espera também a intervenção da ministra do Ambiente.

Além disso, a associação pede a “alteração da co-gestão do PNPG“, o “reposicionamento dos autarcas no seu lugar apropriado” e a “nomeação de directores de áreas protegidas, como prometido no programa deste Governo”.

A procura do “lucro imediato”

A FAPAS nota, de resto, que as obras na “Cascata do Tahiti” não são o único caso problemático no PNPG e alerta que nos arriscamos a perder o único parque nacional que temos.

“Se perdermos a classificação da Peneda-Gerês, não teremos outro parque nacional em Portugal, com todo o prejuízo que isso significaria para a conservação da natureza e para as economias locais que se desenvolveram muito à custa da marca”, avisa a FAPAS.

“Para a história ficarão os nomes daqueles que, em nome de um falso desenvolvimento de um lucro imediato e de um crescimento não sustentável, contribuíram para a delapidação do nosso único parque nacional”, conclui a associação.

PAN e Os Verdes contra, Chega a favor

O partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) já se manifestou contra as obras, considerando que o projecto da Câmara de Terras de Bouro “desrespeita a paisagem natural do local” e “vai muito para além da promessa de segurança” que também é importante garantir.

No mesmo tom, o partido Os Verdes realça que as obras previstas suscitam “algumas dúvidas relativamente à integridade da paisagem” e à “conciliação com os objectivos de conservação e preservação dos valores naturais e paisagísticos do Parque Nacional”.

Também o PCP de Braga já criticou o projecto da autarquia de Terras de Bouro, apelando ao “indispensável envolvimento de todas as entidades públicas com competências para tal” no desenho de uma solução que acautele a segurança dos visitantes e a protecção da natureza.

Por outro lado, o Chega de Braga está a favor das obras. O presidente da Comissão Política Distrital de Braga do Chega, Filipe Melo, também deputado na Assembleia da República, diz mesmo que já deviam ter sido feitas “há mais tempo, para garantir segurança aos turistas e locais que aproveitam os meses de Verão para conhecer este espaço”, refere em declarações citadas pelo JN.

Susana Valente, ZAP //

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3 Comments

  1. Os Terrabourenses devem impedir que tal aconteça assim como o Estado, não se pode viabilizar uma intervenção num espaço público e natural com estas características apontando como justificação o facto de já terem morrido «…turistas…», pois neste caso a culpa não é do terreno mas sim de quem o visita – os «…turistas…» – que «….deslocam-se ao local sem o calçado apropriado, além de terem comportamentos descuidados que propiciam os acidentes…».
    Se «…a intenção de cimentar as pedras que existem em torno da água e que são íngremes e escorregadias…» se vier a verificar, os Terrabourenses e o Estado devem intervir na defesa da sua Terra e garantindo que este projecto não destrua nem desfigure, neste caso concreto, a paisagem natural, devendo ser substituído por outro.
    Não é pela ignorância, estupidez, e falta de noção de uns que se justifica cimentar uma parte daquela paisagem natural, aliás, compete ao Executivo do Partido Social Democrata que Governa a Câmara Municipal de Terras de Bouro garantir que quem visita as cascatas tenha conhecimento/seja informado de como deve circular na zona, dos perigos que na mesma existem, e recomendar o uso da indumentária correcta para o terreno.

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