Obras em Lisboa são fiscalizadas por profissionais não qualificados. “Câmara não se preocupa”

Fiscalizam, mas não são fiscais. Câmara de Lisboa diz que situação foi temporária, mas profissionais da área desmentem, e sentem-se “desvalorizados”.

Um grupo de 52 fiscais da Câmara Municipal de Lisboa tem denunciado que as obras públicas na cidade são fiscalizadas… mas não por fiscais.

A notícia, avançada pela CNN, é admitida pela própria Câmara, liderada por Carlos Moedas. Só que, segundo a autarquia, este cenário só aconteceu durante o “segundo semestre de 2023”.

Obras, ocupações, publicidade ilegal ou feiras têm, desde há seis anos, de ser fiscalizados por profissionais que frequentem um curso de 6 meses (ou estejam em funções na área há pelo menos 30 anos). Existem ainda outros critérios que habilitam os trabalhadores a serem fiscais.

“A presença de fiscais qualificados é essencial para assegurar que as obras sejam executadas de forma segura, eficiente e em conformidade com as normas estabelecidas”, ressalta a Ordem dos Engenheiros.

Os profissionais que denunciaram a situação numa exposição escrita apresentada à Polícia Municipal de Lisboa, explicaram que a fiscalização era feita por assistentes técnicos ou assistentes operacionais não qualificados.

A Polícia enviou a exposição à própria Câmara Municipal, que admitiu que não é permitido que estes profissionais fiscalizem as obras. “Parece-nos que os trabalhadores que integram esta carreira não detêm a necessária qualificação profissional para o exercício de funções de fiscalização que se enquadram na carreira especial de fiscalização”, escrevera a autarquia em 2022.

No entanto, segundo contaram vários fiscais numa Assembleia Municipal de maio de 2024, a situação não se limitou a um semestre, como a Câmara justificara, argumentando estar a passar por um período de “transição”. Argumentaram que esta situação continua a prejudicar as suas carreiras.

“Enquanto existirem funcionários não habilitados a fiscalizar, a Câmara Municipal de Lisboa não se preocupa em reforçar os quadros, nem em valorizar o trabalho dos fiscais”, escreveram. “Há um sentimento de desvalorização”.

A Câmara garante não ter conhecimento da situação, e “a CML disponibiliza a frequência desse curso a todos os trabalhadores que, tendo no passado exercido funções de fiscalização, mas que atualmente não se encontrem integrados na nova carreira especial de fiscalização, o queiram frequentar”, comunica também a autarquia.

Atualmente, serão 13 os “fiscais” não qualificados a operar nas obras de Lisboa. Um parecer elaborado pelo Chega sobre o assunto será analisado na próxima sessão plenária da Assembleia Municipal. O apelo é para que a autarquia “reconheça que as funções de fiscalização sejam apenas desempenhadas pelos trabalhadores que se encontrem legalmente habilitados para o seu exercício”.

ZAP //

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