Alguns dos autores do estudo divergem na ideia de que os gatos são animais apenas semi-domesticados, quando comparados com os cães, por exemplo.
Apesar das mostras que o seu felino possa dar da sua inteligência, é provável que o seu cérebro tenha dimensões mais pequenas quando comparado com as dos seus antepassados, isto de acordo com um novo estudo científico que poderá dar aos especialistas mais informações sobre a forma como os animais se adaptam quando são domesticados por humanos e passam a viver no mesmo espaço físico que estes. Ao longo da investigação, os cientistas compararam o tamanho dos crânios dos gatos domésticos e selvagens na Europa e em África — de onde se acredita que muitos dos felinos tenham evoluído.
A equipa também considerou os animais “híbridos”, gatos que vivem tanto em contextos domésticos como de vida selvagem, descobrindo que o tamanho dos seus cérebros ficou num intervalo entre os dois outros grupos, numa indicação de que pode efetivamente ser a domesticação que está na origem destas mudanças. “Os nossos dados indicam que os gatos domésticos têm volumes cranianos mais pequenos em relação aos europeus e aos antepassados selvagens, os africanos — em linha com o que já apontavam pesquisas recentes. “Verificamos ainda que os híbridos de gatos domésticos e de gatos selvagens europeus têm volumes cranianos que se agrupam entre os das duas espécies-mãe”, pode ler-se no estudo, citado pelo Science Alert.
O tamanho do cérebro dos gatos é algo que os cientistas têm vindo a analisar desde a década de 1960. No entanto, a tendência de diminuição dos cérebros já aparecer há algum tempo noutras espécies, como ovelhas, cães ou sapos, sugerindo que algum fenómeno está claramente a acontecer. Estes cientistas exploraram ainda a ideia existente de que a seleção natural para a domesticação leva à produção de menos células de crista neural nos animais. Isto tem como consequência alterações na resposta dos corpos ao stress, no tamanho do cérebro e na morfologia corporal, no geral.
O tamanho do palato também foi medido, apesar de não terem sido encontradas diferenças cognitivas entre os gatos domésticos e selvagens. Tem havido também discussões sobre a relação entre a redução da crista neural e um focinho mais curto, assim como um menor crânio, apesar de tal não ter sido provado neste estudo. De facto, muitas das conclusões do estudo não serem novas, mas atualizam pontos de investigação que há anos não eram trabalhados, dando aos cientistas novos dados para teorizarem sobre a domesticação.
“As comparações do tamanho dos cérebros são frequentemente baseadas em literatura antiga e inacessível e, em alguns casos, estabelecem relações entre animais domésticos e espécies selvagens que se pensa já não representarem as verdadeiras espécies progenitoras das espécies domésticas em questão”, escrevem os investigadores no estudo.
Uma das sugestões que a investigação faz — mas que não é unânime entre os seus autores – é a de que os gatos estão apenas “semi-domesticados”, quando comparados com os cães, por exemplo — uma visão que sugere que os gatos escolhem estar com humanos em vez do contrário, e por isso não podem ser considerados como totalmente domesticados.
Ainda assim, o estudo indica como os gatos provaram a sua utilidade no passado, nomeadamente em explorações agrícolas e em navios, e que a sua relações com as pessoas tem por base mais do que a simples procura de uma fonte alimentar fácil. Na realidade, o estudo considera que os gatos domésticos continuam a ser escolhidos como animais de estimação com base no seu temperamento, dizem os investigadores, o que os torna um assunto adequado para domesticação.
Em última análise, os investigadores consideram ser necessário recolher mais dados sobre mais espécies para compreender plenamente o efeito que a domesticação tem tido sobre os gatos, incluindo o seu tamanho cerebral — e que continuam a existir limitações à informação que tem sido recolhida até agora. “Devemos sempre reconhecer que estamos a comparar uma população viva de animais selvagens (ou recente) com a forma doméstica, e não a verdadeira população ancestral”, explicam os cientistas.
“Este será sempre um fator de confusão, uma vez que raramente temos acesso à população antiga que produzia os nossos animais domésticos (embora o ADN antigo possa melhorar parcialmente esta questão para comparações genéticas)”.