O seu cérebro está a precisar de pausa? Pode resolver-se num piscar de olhos (literalmente)

Pestanejar pode dar ao nosso cérebro uma micro pausa para repormos as ideias. E, ainda que não pensemos nisso, não piscamos os olhos ao acaso.

Em 1945, Arthur Hall, da Universidade de Sheffield, no Reino Unido, analisou a frequência com que as pessoas pestanejavam enquanto liam em voz alta, descobrindo que coincidia maioritariamente com lacunas na impressão.

Sugeriu então que o pestanejar pode ajudar as pessoas a fazer pausas durante a leitura, explica a New Scientist.

Louisa Bogaerts, da Universidade de Ghent, na Bélgica, e os seus colegas decidiram testar essa ideia. Analisaram dados recolhidos para um novo estudo publicado em dezembro e intitulado “Ghent Eye Tracking Corpus”.

Durante a experiência, 15 pessoas foram monitorizadas enquanto liam silenciosamente um romance de Agatha Christie ao longo de quatro sessões. Ao todo, piscaram os olhos 30 367 vezes. Mas não de maneira arbitrária.

“Os resultados mostram claramente que não pestanejamos ao acaso durante a leitura”, explica Bogaerts. Isto porque as pessoas piscavam menos os olhos depois de lerem palavras que ocorriam frequentemente no texto. Mas, quando não conheciam alguma palavra, piscavam mais.

“O aumento do pestanejar após a fixação em palavras de menor frequência sugere que o esforço cognitivo influencia o comportamento de pestanejar”, afirma Bogaerts. Piscar os olhos pode proporcionar uma “pausa cognitiva”, concluíram então os investigadores.

O estudo registou também que a quantidade de “piscares de olhos” eram 4,9 vezes mais elevadas em qualquer sinal de pontuação, em média, em comparação com outras posições no texto. Eram também 3,9 vezes mais elevadas no final de uma linha numa página e 6,1 vezes mais elevadas quando os sinais de pontuação e os finais de linha coincidiam.

“O aumento do pestanejar nos sinais de pontuação e nos finais de linha reflete provavelmente o facto de estes serem pontos de interrupção naturais da atenção — alinhamos com estes pontos de interrupção no texto e fazemos uma pausa para pestanejar”, diz Bogaerts.

“Em conjunto, estas descobertas apoiam a hipótese de que o tempo de pestanejar durante a leitura não é aleatório, mas estrategicamente alinhado com as exigências cognitivas colocadas pelo texto.”

“Pestanejar permite uma pausa momentânea na entrada visual para permitir a integração de novas informações”, concorda Paul Corballis, professor da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia.

“Penso que ainda falta algum tempo, mas posso imaginar a utilização do rastreio online de ‘piscadelas’ e movimentos oculares para monitorizar a consciência situacional de pilotos ou controladores de tráfego aéreo, ou de qualquer pessoa que precise de se manter vigilante enquanto monitoriza e dá sentido aos dados recebidos — quem sabe incluindo os ‘condutores’ de carros sem condutor.”

ZAP //

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