O Presidente foi condenado por tráfico. Agora, a esposa quer ocupar o cargo

Wang Yu Ching/Wikimedia Commons

Ana García de Hernández, mulher de ex-líder condenado por tráfico, concorre à presidência das Honduras

O ex-Presidente das Honduras “queria enfiar as drogas no nariz dos gringos” e enfrenta prisão perpétua nos EUA por tráfico de drogas e armas. Agora a sua esposa candidata-se à presidência para o vingar.

Não é só ficção, neste caso na série House of Cards, onde Claire Hale Underwood substituiu o seu marido Francis Underwood como presidente dos EUA.

A mulher do antigo líder das Honduras Juan Orlando Hernández, condenado no sábado por tráfico de droga e armas nos EUA, anunciou na terça-feira a candidatura às eleições presidenciais de 2025.

Ana García de Hernández descreveu a candidatura pelo Partido Nacional, atualmente na oposição, como “uma cruzada pela justiça” perante “as injustiças (…) nos últimos tempos” e “também a pedido de milhares de hondurenhos que expressaram apoio”.

Numa mensagem divulgada na rede social X (antigo Twitter), García de Hernández disse que sabe “o que é preciso fazer” e destacou “a dedicação e a luta” do marido face às “grandes necessidades em que hoje vivem as Honduras”.

“Não estou a fazer isto só pela minha família, estou a fazer isto por todo o povo hondurenho, que foi atacado, tratado e insultado”, acrescentou, referindo-se à condenação de Juan Orlando Hernández, de 55 anos.

Tráfico de droga e armas com “El Chapo”

No sábado, Hernández foi considerado culpado de tráfico de droga e armas por um júri de Nova Iorque e enfrenta prisão perpétua, depois de um julgamento histórico para a justiça norte-americana.

Hernández, que os procuradores federais disseram ter criado um narcoestado durante oito anos na presidência entre 2014 e 2022, foi considerado culpado de conspiração para cometer tráfico de drogas e tráfico de armas, bem como posse de armas.

A sentença será pronunciada a 26 de junho pelo juiz Kevin Castel. Os EUA negaram um visto a Ana García de Hernández para estar presente na audiência.

Cinquenta hondurenhos que estavam no exterior do tribunal comemoraram a condenação, assim que foi conhecido o veredicto, de acordo com a agência de notícias Efe.

A acusação indicou que Juan Orlando Hernández recebeu milhões de dólares em subornos de cartéis de drogas, incluindo o cartel de Sinaloa, liderado pelo notório traficante de drogas mexicano Joaquin “El Chapo” Guzman, condenado a prisão perpétua pelos tribunais norte-americanos em 2019 e atualmente a cumprir pena numa cadeia de alta segurança.

Estes subornos teriam sido recebidos em troca da proteção dos traficantes contra extradições e da garantia, através de assistência militar, policial e judicial, do transporte de drogas da Colômbia para o mercado norte-americano.

Aliado de Donald Trump nos esforços para deter os migrantes ilegais, Juan Orlando Hernández recebeu milhões de dólares para ajudar a exportar as drogas.

As acusações surgiram num processo apresentado em 2021 em Nova Iorque, no caso de Geovanny Fuentes Ramirez, um suposto narcotraficante hondurenho atualmente preso, responsável por um laboratório que produziu centenas de toneladas de cocaína por mês.

Uma das alegações refere que o Presidente, de 52 anos, terá dito a Geovanny Fuentes Ramirez que “queria enfiar as drogas no nariz dos gringos”.

Durante a presidência, as Honduras tornaram-se numa ‘autoestrada’ para a cocaína colombiana, disseram os procuradores. A justiça norte-americana detalhou ainda que entre 2004 e 2022, a rede apoiada por Hernández contrabandeou mais de 500 toneladas de cocaína para os EUA.

O antigo chefe de Estado hondurenho (2014-2022) foi extraditado em abril de 2022 para os EUA, três meses depois de ter deixado o cargo. O júri foi convencido pelos depoimentos prestados por conhecidos traficantes de drogas que testemunharam contra o hondurenho, depois de já terem sido declarado culpados, presumivelmente à procura de um alívio na sentença.

ZAP // Lusa

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