O medo de Trump é tanto que até os imigrantes legais estão a apagar tudo da Internet

1

Casa Branca/Flickr

Donald Trump

O receio de deportação nos EUA está a levar residentes legais a apagar posts nas redes sociais sobre Donald Trump e a abandonar os protestos. “Sinto-me cobarde, mas não posso arriscar a perder tudo o que construí aqui”.

Maria apagou todas as publicações que fez nas redes sociais a criticar as políticas de Donald Trump e Isabel deixou de participar em protestos pró-Palestina, tudo por receio de deportação, apesar de ambas estarem legalmente nos Estados Unidos.

Maria e Isabel – nomes fictícios – falaram com a agência Lusa sob condição de anonimato por temerem retaliações no seu estatuto migratório.

As notícias que têm sido divulgadas nos últimos dias – sobre uma maior repressão por parte do Governo de Donald Trump até mesmo contra titulares de ‘Green Card’, ou seja, estrangeiros com autorização de residência permanente nos Estados Unidos – fez com que as duas imigrantes alterassem a forma como se expressam publicamente.

Maria, que tem um ‘Green Card’, confessou à Lusa que se sente “uma cobarde” por ter apagado todo o seu histórico de publicações a criticar as políticas do Presidente norte-americano, mas frisou que tem “muito a perder e não pode arriscar tudo o que construiu nos Estados Unidos”, especialmente num momento em que já iniciou o seu processo para a obtenção da cidadania norte-americana.

Porém, lamenta ter a sua liberdade de expressão condicionada desta forma.

Liberdade condicionada

Na semana passada, Paris indicou que um cientista francês teve a sua entrada negada nos EUA após as autoridades norte-americanas terem encontrado trocas de mensagens no seu telemóvel que expunham uma visão crítica das políticas adotadas por Donald Trump.

Segundo uma fonte diplomática francesa, o cientista – que viajava a trabalho – teria passado por uma verificação aleatória na chegada ao território norte-americano, durante a qual o seu computador de trabalho e telefone pessoal foram revistados.

Terá sido acusado de enviar mensagens “que exprimem ódio contra Trump e que podem ser classificadas como terrorismo”.

O Governo norte-americano negou a versão do executivo francês, indicando que o investigador foi impedido de entrar nos Estados Unidos não pelas suas “convicções políticas”, mas por estar na posse de “informações confidenciais” de um laboratório de investigação nuclear.

Mas simplesmente o facto de o cientista ter o seu telemóvel e computador revistados no aeroporto fez soar os alarmes junto de estrangeiros que residem ou que visitam o país.

Nas últimas semanas, ocorreram várias deportações de cidadãos com vistos de estudante ou que trabalham em território norte-americano, sendo o exemplo mais mediático o de Mahmoud Khalil, um estudante da Universidade de Columbia que liderou protestos contra a guerra na Faixa de Gaza, que teve o seu ‘Green Card’ revogado e o processo de deportação iniciado.

Constituição ameaçada

Isabel, que estuda numa universidade norte-americana, era presença assídua em protestos contra a guerra em Gaza. Mas agora, optou por não comparecer mais.

Desde que Donald Trump assumiu uma postura de repressão contra estudantes que participaram nesse tipo de protestos – os quais acusa de estarem envolvidos em “atividades pró-terroristas -, Isabel e muitos outros estudantes deixaram de participar nestas manifestações por receio de retaliação e de perderem o seu visto.

Grupos de defesa dos direitos civis acusam o Governo de Donald Trump de ataque à liberdade de expressão protegida pela Constituição norte-americana.

O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, informou na quinta-feira que os EUA já revogaram os vistos a mais de 300 estudantes universitários por protestos relacionados com a guerra em Gaza.

“Fazemos isso todos os dias, cada vez que encontro um destes ‘maluquinhos’“, disse Rubio, questionado sobre o número de revogações de vistos a universitários acusados de ativismo pró-palestiniano.

Legais ou ilegais: imigrantes são alvo

“É uma vergonha o que se está a passar nos Estados Unidos. Onde está a liberdade de expressão? Não é suposto ser esta a ‘Terra dos Livres’?”, questionou, num tom de indignação, uma ativista que está legal nos Estados Unidos.

Os EUA estão, hoje, muito longe de ser a Terra da Liberdade prometida.

Donald Trump garantiu que irá expulsar “milhões e milhões” de imigrantes ilegais, uma das principais promessas da sua campanha eleitoral, durante a qual prometeu levar a cabo a “maior deportação em massa da história” do país.

Há cerca de 11 milhões de imigrantes indocumentados nos Estados Unidos, segundo estimativas do Departamento de Segurança Interna de 2022, o ano mais recente com dados disponíveis

Contudo, ninguém esperava que também estrangeiros em situação legal nos Estados Unidos, sem registo criminal, fossem alvo dos agentes de imigração, incluindo mesmo os detentores de ‘Green Card’.

Essa situação tem levado ao aumento da procura por escritórios e advogados de imigração por parte de residentes legais, que tentam agora saber o que fazer caso sejam abordados por agentes do Governo.

Cerca de 12,8 milhões de portadores de ‘Green Card’ vivem nos Estados Unidos, de acordo com as últimas estimativas do Gabinete de Estatísticas de Segurança Interna.

ZAP // Lusa

1 Comment

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.