Novo teste permite diagnosticar 25 doenças raras (mais depressa do que nunca)

Os cientistas desenvolveram um teste genético rápido que consegue diagnosticar uma grande variedade de doenças musculares e nervosas raras, com uma precisão quase perfeita.

As doenças de repetição tandem são uma família com mais de 50 doenças hereditárias, incluindo a doença de Huntington e a esclerose lateral amiotrófica (ELA), que parecem ocorrer quando se repetem demasiadas vezes sequências curtas de ADN, de acordo com a Science Alert.

As repetições tandem podem surgir através de erros na replicação do ADN, que são depois transmitidos às gerações seguintes.

Contudo, muitos são benignos, e todos os seres vivos os têm, em diferentes padrões e combinações, tornando-os uma ferramenta útil para determinar as relações entre indivíduos, como a filiação ou o rastreio das origens das infeções. Mas por vezes surgem em partes problemáticas dos nossos genomas.

Dependendo de onde ocorrem, formas invulgarmente longas destas sequências repetidas podem conduzir a degeneração neurológica ou neuromuscular.

No entanto, como existem 37 genes conhecidos e ligados a perturbações de repetição tandem curta, é possível fazer múltiplos testes, antes de identificar os responsáveis pelos sintomas dos doentes.

Para pacientes como John, um dos participantes envolvidos num novo estudo, pode demorar mais de uma década a reduzir as opções. As descobertas da investigação foram publicadas na Science Advances, a 4 de março.

John foi diagnosticado com ataxia cerebral, neuropatia, e síndrome de areflexia vestibular (CANVAS). Esta é uma desordem neurodegenerativa do movimento, que está ligada a uma expansão de sequências repetidas de ADN no gene RFC1.

Apenas neste gene, há uma diversidade de formas de repetição de sequências curtas de ADN, o que cria dificuldades em realizar um teste de diagnóstico geral.

Fiz testes após testes durante mais de 10 anos e não tive absolutamente nenhuma resposta sobre o que estava errado”, diz John.

A neurologista Kishore Kumar, autora do estudo, juntamente com outros investigadores do Garvan Institute for Medical Research na Austrália, referem-se a este processo de espera como a “odisseia diagnóstica“.

À medida que pacientes como John esperam anos e anos por respostas, os seus sintomas vão-se agravando gradualmente.

Embora atualmente não exista cura para as perturbações repetidas em tandem, o diagnóstico precoce pode ajudar os doentes a gerir os seus sintomas, e espera-se que estagnem parte da progressão da doença, pelo que o teste recentemente desenvolvido deverá fazer uma grande diferença para os doentes.

“Este novo teste irá revolucionar completamente a forma como diagnosticamos estas doenças, uma vez que agora podemos testar todas as doenças de uma só vez com um único teste de ADN e ter um diagnóstico genético claro”, sublinha Kumar.

“Ajuda os pacientes a evitar anos de biópsias desnecessárias a músculos ou nervos para doenças que não têm, ou tratamentos arriscados que suprimem o seu sistema imunitário”, acrescenta.

A avaliação recentemente desenvolvida baseia-se na tecnologia nanopore, que pode analisar fragmentos longos de ADN ou RNA em regiões repetitivas, conhecidas do genoma humano.

Tirando uma única amostra de ADN do sangue de um indivíduo, os investigadores podem passar os ácidos nucleicos através de um nanoporo proteico, utilizando alterações na corrente elétrica, resultantes das interações moleculares, para descodificar em tempo real as sequências de 40 genes conhecidos por estarem ligados a 25 doenças de repetição tandem.

Entre 37 pacientes que foram testados com este método, incluindo John, todos foram corretamente diagnosticados com a sua doença neurogenética.

Diagnosticámos corretamente todos os doentes com doenças já conhecidas, incluindo a doença de Huntington, síndrome do X frágil, ataxias cerebrais hereditárias, distrofias miotónicas, epilepsia mioclónica, doença neuronal motora, e mais”, conta o investigador Ira Deveson, também do Instituto Garvan.

Os acuais testes de sequenciação genética requerem máquinas tão grandes como frigoríficos, enquanto a tecnologia de nanoporos não é maior do que um agrafador.

Também custam centenas de milhares de dólares a menos, o que significa que poderiam ser facilmente distribuídos por vários locais.

Os investigadores estão agora a tentar que o método seja clinicamente aprovado, e esperam que daqui a dois ou cinco anos o teste seja utilizado regularmente.

Alice Carqueja, ZAP //

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