Novo anticorpo humano sintético é eficaz como antídoto contra veneno de cobras

Depois de mais de um século a produzir antídotos de origem animal, os cientistas utilizaram agora compostos sintéticos para desenvolver tratamentos mais seguros e eficazes contra a mordedura de cobras.

Embora as cobras ataquem de forma defensiva, algumas espécies de serpentes  podem mesmo ser fatais para o ser humano.

Segundo a The Scientist, o envenenamento por mordedura de cobra mata mais de 100.000 pessoas por ano e deixa muitas delas com incapacidades permanentes.

Os antivenenos derivados de anticorpos animal são os principais métodos terapêuticos contra o envenenamento, mas estes apresentam diversas falhas.

A sua origem não humana pode desencadear reações imunitárias perigosas e ainda a dificuldade em atingir de forma eficaz a grande variedade de toxinas nocivas do veneno das cobras.

“A estratégia que está a ser utilizada atualmente para tratar as mordeduras de cobra tem mais de 100 anos”, diz Kartik Sunagar, investigador do Instituto Indiano das Ciências (IISc) e co-autor de um estudo recentemente publicado na Science Translational Medicine.

No novo estudo, uma equipa de investigadores aplicou tecnologias modernas para resolver este problema de saúde pública e desenvolveu um anticorpo humano sintético que bloqueia os efeitos letais de uma neurotoxina chave encontrada em várias espécies de serpentes mortais.

O anticorpo, que se liga amplamente a múltiplas variantes desta neurotoxina, mostra como a modernização e a racionalização do processo de descoberta de antivenenos pode ajudar a criar terapias mais seguras para as vítimas de mordeduras.

Os investigadores criaram antivenenos imunizando animais de grandes dimensões, como cavalos, ovelhas e camelos, com doses subletais de veneno de serpentes, isolando o soro do sangue e transformando a amálgama dos anticorpos resultante num tratamento.

A equipa deu um passo importante para criar um antídoto de largo espetro ao visar uma subfamília de toxinas chave: as alfa-neurotoxinas de cadeia longa. Estas proteínas letais, encontradas nos venenos de muitas espécies de serpentes, bloqueiam os recetores nicotínicos de acetilcolina nas ligações neuromusculares, causando paralisia e morte.

No decorrer do estudo, foi desenvolvida uma plataforma totalmente sintética para explorar o reconhecimento molecular que ocorre entre o sistema imunitário e os antigénios.

Após aplicarem engenharia de células de mamíferos para produzir diversas variantes de 3FTx-L, os investigadores usaram uma técnica de expressão de proteínas na superfície de células de levedura para analisar 100 mil milhões de anticorpos humanos sintéticos contra as toxinas.

Após várias seleções, os investigadores identificaram dezenas de candidatos  promissores que ligavam todas as variantes 3FTx-L. No entanto, um anticorpo, a que denominaram 95Mat5, destacou-se por ser o mais potente.

Para testar o desempenho do seu anticorpo em células humanas, os investigadores administraram o 95Mat5 juntamente com a variante 3FTx-L alfa-bungarotoxina. O anticorpo foi capaz de neutralizar as toxinas da cobra de monóculo, uma espécie que se encontra em todo o Sul e Sudeste Asiático.

Para testar o seu anticorpo em animais, os investigadores pré-incubaram o 95Mat5 com alfa-bungarotoxina e injetaram-no em ratos, que sobreviveram.

O facto de muitas vítimas esperarem horas por tratamentos levou os investigadores a realizar experiências de salvamento, nas quais administraram o antiveneno 20 minutos após o envenenamento com o veneno completo da cobra.

Enquanto os ratinhos não tratados morreram no espaço de três horas, os que receberam o anticorpo 95Mat5 viveram sem sinais de neurotoxicidade durante pelo menos 24 horas.

“Este é um anticorpo que está a neutralizar serpentes venenosas em todos os continentes, o que representa um espetro muito amplo de neutralização nunca visto antes”, conclui Sunagar, doutorado em 2013 em Biologia Evolucionária pela  Universidade do Porto.

A equipa precisa ainda de descobrir anticorpos adicionais que sejam capazes de neutralizar outros ingredientes letais em venenos de cobra antes que eles possam chegar mais perto de criar um antídoto universal.

Soraia Ferreira, ZAP //

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