Há nove doenças que tiram o sono aos epidemiologistas

Há três anos, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) informava sobre um novo coronavírus, que tinha sido identificado pela primeira vez na China e que se tinha espalhado ao ponto de se tornar uma emergência de saúde pública.

A OMS mantém uma lista de vírus e bactérias com potencial pandémico. Jill Weatherhead, da Faculdade de Medicina de Baylor, disse que a prioridade às doenças baseia-se geralmente em dois fatores: a sua capacidade de propagação e a capacidade de os seres humanos as tratarem.

Essa lista ajuda a orientar cientistas, governos e organizações no investimento de energia e fundos para estudar os agentes patogénicos mais suscetíveis. A OMS desenvolve “plantas” com objetivos estratégicos e prioridades de investigação para cada doença da lista.

De acordo com a NPR, espera-se a divulgação de uma lista revista nos próximos meses. Em finais de 2022, a OMS reuniu com mais de 300 cientistas para avaliar e atualizar a lista ainda em vigor. Nessa lista há nove doenças que tiram o sono aos epidemiologistas, começando pelo vírus Nipah.

Essa doença é transportada por morcegos e animais domésticos – como os porcos, os cavalos, os gatos e os cães -, que a transmitem aos humanos. Estes últimos podem depois disseminá-la entre si. A sua taxa de mortalidade varia entre 40% a 75% e o vírus pode causar encefalite.

Atualmente ainda não existe vacina contra o vírus Nipah, nem para os animais, nem para os humanos. As terapias monoclonais de anticorpos estão em desenvolvimento.

Surtos da doença ocorrem quase todos os anos em partes da Ásia, mas existem formas de prevenção: evitar a exposição a morcegos e animais doentes; evitar o consumo de frutas que os morcegos possam ter mordiscado e não beber sumos de frutas de que os morcegos se alimentam. O risco de transmissão internacional pode ser diminuído ao lavar cuidadosamente essas frutas, descascando-os antes de comer.

A segunda doença é a febre hemorrágica da Crimeia-Congo. Os humanos geralmente apanham o vírus através do contacto com carraças ou gado infetado. Para transmitir o vírus entre humanos é preciso haver troca de sangue ou fluidos corporais.

A sua taxa de mortalidade varia entre 10% a 40%. A doença é endémica, o que significa que ocorre regularmente, em África, nos Balcãs, no Médio Oriente e na Ásia. O vírus causa surtos graves de febre e hemorragias graves, podendo pode danificar o sistema orgânico e cardiovascular.

Embora uma vacina esteja a ser utilizada na Bulgária, não foi publicada qualquer investigação sobre o seu funcionamento e não está licenciada em nenhum outro lugar. Outras vacinas estão em desenvolvimento e um medicamento antiviral, chamado ribavirina, parece ajudar a tratar as infeções.

É difícil saber quando um animal está infetado e deve ser evitado. A OMS diz que as carraças que transportam o vírus são numerosas e generalizadas. A ameaça pode ser reduzida ao evitar picadas de carraças e ao usar luvas e outro vestuário de proteção ao tratar o gado.

A terceira doença é a febre de Lassa, transportada por ratos e outros roedores. O vírus é endémico em partes da África Ocidental. Os ratos excretam o vírus e os humanos apanham-no quando expostos à urina e fezes dos roedores, quer por contacto direto, quer através da ingestão de alimentos contaminados.

Pode também propagar-se entre humanos através do contacto direto com as secreções de uma pessoa infetada (sangue, urina, fezes), através do contacto sexual e em ambientes médicos.

A taxa de mortalidade varia entre 1% e 15%. Pode ser mortal para fetos no terceiro trimestre de gravidez. Para além da morte, uma complicação comum é a surdez, que pode ser permanente. Ainda não existe vacina, mas a ribavirina parece ajudar a tratar infeções.

Como o principal método de transmissão é a exposição a um certo tipo de rato, o potencial de propagação da doença é limitado aos países onde existem ratos.

Já a febre do Vale do Rift é transportada por mosquitos. Os insetos podem transmitir o vírus tanto aos humanos como à sua própria descendência. O gado bovino, ovino, caprino, búfalo e camelo também podem ser infetados. Transmite-se às pessoas através do contacto com sangue, fluidos corporais ou tecidos de animais infetados.

Embora o nível de mortalidade seja inferior a 1% e a doença seja leve para a maioria das pessoas, cerca de 8% a 10% dos infetados desenvolvem sintomas graves, incluindo lesões oculares, encefalite e febre hemorrágica. Embora tenha sido desenvolvida uma vacina, esta ainda não está licenciada ou disponível.

A febre do Vale do Rift propagou-se de África para a Arábia Saudita e o Iémen. As cheias parecem contribuir porque os mosquitos infetados espalham-se após fortes chuvas. A deteção rápida de casos, incluindo testes laboratoriais, tem limitado os surtos recentes.

O vírus da Zika também é transportado por mosquitos, passando também da mãe para o feto, através de sexo e de transfusões de sangue. Raramente é fatal, mas pode causar defeitos cerebrais graves nos fetos, incluindo microcefalia. Está também sido associada a aborto, nado-morto e defeitos congénitos.

Não existe nem vacina, nem tratamento. Até ao momento, está largamente limitado às áreas onde vivem os mosquitos Zika.

O Ébola e o vírus de Marburg. Acredita-se que morcegos e primatas são portadores dos vírus e que ambos se espalham da mesma forma. Após o contágio inicial de um animal, os humanos propagam os vírus entre si através do contacto direto com sangue ou fluidos corporais. Os vírus podem também propagar-se através de objetos ou superfícies contaminadas.

A taxa média de mortalidade é de cerca de 50%, embora as taxas tenham variado de 25% a 90% em surtos anteriores.

Foram utilizadas vacinas para o Ébola na Guiné e na República Democrática do Congo. Os anticorpos monoclonais aprovados pela FDA em 2020 também podem ajudar no tratamento do Ébola. As vacinas para o vírus de Marburg estão em desenvolvimento.

Estes vírus podem propagar-se rapidamente em ambientes de cuidados de saúde, especialmente quando a esterilização não é adequada. No entanto, a doença só se propaga quando uma pessoa é sintomática, o que facilita o controlo.

A MERS (síndrome respiratória do Médio Oriente) é transportada pelos camelos. Após o evento inicial de propagação de camelos para humanos, este coronavírus propaga-se de pessoa para pessoa através do contacto próximo.

A taxa de mortalidade registada é de 35%. Várias vacinas estão em desenvolvimento, mas nenhuma foi aprovada. Desde 2012, 27 países comunicaram infeções. O coronavírus que provoca o MERS cresce profundamente nas vias respiratórias, tornando-o menos suscetível de ser transmitido através de espirros e tosse.

Quanto à SARS (síndrome respiratória aguda grave), os civetas de palma foram largamente culpados pelo surto de 2003. Os morcegos e possivelmente outros animais selvagens também o transportam.

Após o evento inicial de propagação de animal para humano, a SARS pode espalhar-se entre humanos através do contacto próximo. Acredita-se que espalha-se normalmente através de gotículas de tosse e espirros e por vezes através de superfícies. A sua taxa de mortalidade é inferior a 1%.

Nenhum tratamento ou vacina foi aprovado. Ao contrário do SARS-CoV-2, que se pode propagar antes de as pessoas saberem que estão infetadas, este vírus é geralmente propagado apenas pelos sintomáticos, tornando muito mais fácil a sua contenção através de medidas de saúde pública.

E por fim a doença X. A OMS diz não classificar as doenças por ordem de ameaça potencial, mas reconhece a possibilidade de que uma doença ainda desconhecida possa causar uma pandemia grave.

No seu trabalho com vírus de morcegos, por exemplo, Raina Plowright, da Universidade de Cornell, indicou que, mesmo na pequena proporção de espécies estudadas, esses animais transportam milhares de vírus.

ZAP //

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