Durante décadas um polvo gigante passou despercebido. Não acredita? Mas aconteceu. Os cientistas já desconfiavam que o polvo-gigante-do-pacifico, o maior conhecido até ao momento, é, na verdade, duas espécies.
O primeiro passo para identificar uma nova espécie é observar um indivíduo com atenção. Não precisa de ser um animal totalmente diferente de tudo que já foi visto. Em alguns casos, os cientistas notam características subtis suficientes num animal para acreditar que estão a olhar para uma espécie ainda não catalogada.
Às vezes, essas espécies escondem-se à vista de todos, como aconteceu recentemente com uma bióloga brasileira que identificou várias espécies de tamanduás-anões a partir de uma única conhecida.
E como aconteceu agora com investigadores da Universidade Alaska Pacific, no Alasca, e do Serviço Geológico dos Estados Unidos, que descobriram que os polvos normalmente identificados como polvo-gigante-do-pacifico, que vivem desde a Califórnia ao Japão, pertencem na verdade a duas espécies distintas.
Em 2012, os cientistas encontraram um grupo geneticamente distinto desses polvos na Enseada do Príncipe Guilherme, no Golfo do Alasca. Infelizmente, tinham recolhido apenas pequenos cortes de tecido dos tentáculos para análise de ADN antes de devolver os polvos ao seu habitat, por isso não conseguiram descobrir se os dois grupos também poderiam ser visualmente distintos.
Mais tarde, Nathan Hollenbeck, estudante da Universidade Alaska Pacific, decidiu estudar essas criaturas para a sua tese, tendo a ideia de observar capturas colaterais de pesca de camarão.
Pescadores de camarão no Alasca usam armadilhas que ficam nas águas por um dia inteiro. Ocasionalmente, um polvo-gigante acaba por ser capturado com os camarões – ou melhor, nestes casos, geralmente o polvo come a pesca toda.
Analisando esses polvos, que foram pescados por engano, Hollenbeck explica que as duas espécies são visualmente diferentes: a mais nova exibe “pregas” distintivas ao longo do corpo. Esses polvos franzidos também exibem curiosas “pestanas” de pele elevada e dois pontos brancos na frente da cabeça, onde os polvos-gigantes-do-pacífico têm apenas um.
Para confirmar que o grupo visualmente distinto era também geneticamente distinto, Hollenbeck cortou pequenos pedaços dos tentáculos dos polvos. Embora o polvo se consiga regenerar, como o cientista também queria saber se trabalhos futuros poderiam evitar esta técnica de amostragem invasiva, ele tentou recolher ADN ao passar cotonetes na pele dos animais.
Os cientistas têm por hábito usar técnicas de amostragem não evasivas em mamíferos e aves, mas Hollenbeck foi o primeiro a experimentá-las num polvo. E funcionou. O ADN das pontas dos tentáculos e dos cotonetes concordaram: o polvo-franzido é uma espécie diferente do polvo-gigante-do-pacífico.
Hollenbeck e o seu orientador, David Scheel, publicaram os resultados na revista científica American Malacological Bulletin.
O novo polvo ainda não possui um nome em latim, mas deve manter o mesmo género que o parente: Enteroctopus.
Isto não se trata apenas de polvos que são “um pouco distintos visualmente”: as diferenças anatómicas entre as espécies podem ser profundas o suficiente para representar diferenças mais fundamentais no estilo de vida, dieta ou reprodução.
Afinal, as pregas no corpo da nova espécie devem ter uma função que ainda tem de ser estudada. Além disso, a nova espécie também parece preferir águas mais profundas. Neste habitat podem ser bastante comuns, apesar de habitarem em menos locais que os seus “familiares”.
ZAP // HypeScience / Earther
Caros jornalistas: no 9.° parágrafo pode ler-se “técnicas evasivas”. Há seguramente uma confusão conceptual: evasivas=evasão, invasivas=invasão/intrusão. Estou certo que era ao segundo conceito e não ao primeiro que pretendiam referir-se. Ora, corrijam lá isso s.f.f.. E, continuação de Boas Festas!
Muito bem observado!
Ora aí está ele bem vermelhinho e de que tantos se queixam que provoca muitos estragos com os seus enormes tentáculos, desta vez vais ser apanhado!