Há inscritos nos Centros de Emprego a “desaparecer por milagre”

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Paulo Novais / Lusa

Economista acusou o Governo de “vender” à opinião pública a ideia que o emprego tem aumentado e que o desemprego tem diminuído, criando a ilusão que Portugal teria o melhor dos mundos.

Eugénio Rosa alertou para o facto de em Portugal existirem duas entidades oficiais — o Instituto Nacional de Estatística e o Instituto de Emprego e Formação Profissional — a publicarem estatísticas sobre o desemprego, tratando números distintos e oferecendo uma fotografia diferente da mesma realidade. Em entrevista ao Jornal I, o economista lembrou os desempregados que não se inscrevem, e são muitos, não são considerados.

Destacou ainda, a título de exemplo, os dados de agosto, período no qual o número de desempregados que se inscreveu caiu (eram 37 121), para no mês seguinte se assistir a uma subida abrupta (57 668) — a qual foi continuada no seguinte (50 580).

“A dimensão da gravidade deste elevado número de desempregados que se inscreveram todos os meses nos centros de emprego ainda se torna mais clara quando se compara com o reduzido número de desempregados que consegue arranjar trabalho“, após a inscrição, notando ainda que “no período compreendido entre setembro de 2021 e outubro de 2022 se inscreveram nos centros de emprego 541 521 desempregados e estes conseguiram arranjar trabalho a 99 941, ou seja, apenas a 18,5%.

Como tal, o economista considera estranho “que nem o Governo nem a direção do IEFP  deem qualquer explicação“, isto porque o número de desempregados inscritos mensalmente nos centros de emprego é sempre muito superior ao número apresentado, quando “o número total de desempregados inscritos nos centros de emprego no fim de cada mês que é divulgado todos os meses pelo Governo tem descido”.

Mais recentemente, no mês de outubro, o INE anunciou que 446 700 trabalhadores estavam no desemprego, apesar de apenas 289 125 (64,7%) estarem inscritos nos centros de emprego. Simultaneamente, apenas 161 815 (36% do total). “Segundo o INE, o desemprego é a principal causa da pobreza pois 46,5% dos desempregados estão na pobreza. E não é difícil prever que toda esta situação se agrave mais em 2023 devido à recessão económica causada pela guerra”.

Eugénio Rosa acusou ainda o Governo de “procurar ‘vender’ à opinião pública a ideia que, no nosso país, o emprego tem aumentado e que o desemprego tem diminuído criando a ilusão que Portugal teria o melhor dos mundos possíveis”, isto numa altura em que se prepara para atribuir 240 euros aos agregados familiares mais vulneráveis.

ZAP //

6 Comments

  1. Se fosse só isso… Falta referir o esquema do IEFP com as empresas de exploração de trabalho temporário, as formações ridículas que não servem para nada com o chamado «portefólio reflexivo de aprendizagem», as cunhas para se arranjar trabalho via IEFP, e a dificuldade/incompetência desse organismo para resolver o problema de desemprego dos cidadãos.

    • Precisamente, as formações ridiculas só servem para justificar que as pessoas estão a “trabalhar”. O IEFP é uma grande treta se a pessoa realmente quiser trabalhar pode esperar sentada.

      • As formações do IEFP para além de medíocres e ridículas no seu conteúdo e método, são um grande esquema para entidades privadas, «formadores», e «formandos». Existe gente (pseudo-formandos) a viver dessas «formações», inscrevem-se para receber os subsídios, e o pior é que o IEFP não selecciona através de testes psico-técnicos as pessoas para frequentar essas formações, ou seja, a maioria não tem perfil para as mesmas.

  2. O estratagema é simples:
    – Após o fim do período de atribuição de subsídio (de desemprego) a manutenção da inscrição no IEFP fica dependente da resposta “em 10 dias úteis” aos postais que são remetidos a mando do IEFP. Acontece que esses postais chegam sistematicamente atrasados e não contêm nenhuma data ou referência que os identifique, fazendo com que raramente sejam devolvidos dentro do prazo. A inscrição é automaticamente cancelada, sem qualquer aviso ao utente.
    Resultados:
    – As inscrições canceladas deixam de contar para os números do desemprego
    – Qualquer benefício para efeitos de emprego ou de aposentação ficam impossíveis de obter
    – Os serviços do IEFP estão inundados de pedidos de reposição de tempo de desemprego

  3. Este truque sempre existiu e todos os governos têm sido cúmplices desta vigarice.
    São várias as formas de eliminarem os desempregados inscritos nos Centros de Emprego (os funcionários e dirigentes deveriam ser criminalizados por esses actos) e uma parte dos desempregados de facto acabam por não se inscreverem sequer.
    O IEFP que supostamente deveria ser uma organização estatal a favor dos desempregados funciona de forma inversa, tudo faz para criar problemas aos desempregados e nada faz para os favorecer ou apoiar, portanto o problema é estrutural e só será eliminado quando os políticos deixarem de enganar o Zé Povinho com as suas vigarices que é do que estamos a falar.

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