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Rei Carlos VI de França
Síndrome era até estudada pelos mais reputados filósofos, que davam ouvidos às queixas de reis e restantes elementos da nobreza.
Pode parecer um fenómeno difícil de perceber à luz dos dias de hoje, mas no século XIV uma estranha fixação imperava entre os nobres, realeza e membros da elite daquela sociedade. Conhecido como a ilusão de vidro, o fenómeno consistia na crença de que o seu corpo, leia-se cabeça, braços ou até pernas, eram feitos de vidro, o que os impedia de se exercitarem de forma mais extrema, com medo de partirem.
Tal como lembra o Ancient Origins, Carlos VI subiu ao trono em 1380 com 11 anos, apesar de só ter começado a tomar decisões de forma independente em 1388. No início, era considerado um jovem monarca promissor, tendo implementado reformas para melhorar a burocracia e reduzir a corrupção – esta abordagem valeu-lhe o cognome de o Bem-Amado.
No entanto, em 1392, Carlos VI adoeceu e teve o que os historiadores acreditam ter sido o seu primeiro episódio esquizofrénico. Passou a acreditar que era feito de vidro e que não se movia sem usar roupas reforçadas. Segundo consta, sentou-se numa sala, imóvel, durante horas, e só se movia com extrema cautela, de modo a evitar estilhaçar-se. Isto continuou de forma intermitente para o resto da sua vida, ao ponto de passar a ser conhecido como O Louco.
Surpreendentemente, a ilusão de vidro foi difundida entre as classes altas do final da Europa medieval e do início da Europa moderna. Era até suficientemente comum ser mencionada por vários grandes médicos, cientistas e filósofos, incluindo René Descartes. No entanto, a razão pela qual era tão conhecida é um mistério. Igualmente misteriosa é a razão pela qual desapareceu quase completamente após o século XIX, exceto por um punhado de casos obscuros.
O corpo humano era considerado por muitos filósofos e teólogos na altura como um frágil recipiente temporário para a alma que em breve seria descartado para um novo corpo ressuscitado ou um estado de pura existência não-corporal. Esta associação de fragilidade com o corpo humano e o material de vidro pode ter dado à ilusão uma espécie de credibilidade psicológica na mente dos primeiros europeus modernos. Os que sofrem da ilusão de vidro podem ter estado bem conscientes da sua fragilidade e na procura de uma forma de lidar com ela.