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No GP da Bélgica não se correu. Mas atribuíram-se pontos e os três primeiros subiram ao pódio

Na que ficará na história como a corrida mais curta — e, quiçá, a mais bizarra — da Fórmula 1, foram atribuídos metade dos pontos aos dez primeiros classificados, resultantes da qualificação de sábado, já que foram cumpridas apenas quatro voltas e atrás de safety car.

É um dado adquirido da Fórmula 1 que muito do que acontece ao domingo, dia da corrida, fica decidido ao sábado, dia da qualificação em que a grelha de partida para a corrida fica decidida. No entanto, o que se assistiu este fim-de-semana em Spa Francorchamps elevou esta máxima a um novo nível.

A corrida, que deveria ter começado às 14h, foi atrasada sucessivamente em intervalos de cinco minutos devido à muita chuva que caía — e continuou a cair pela tarde fora —, com os pilotos a arrancarem para a tradicional volta de formação de grelha de partida 25 minutos depois da hora inicialmente prevista. Perante as condições meteorológicas, a direção de corrida decretou que o início da corrida seria atrás de safety car e não parado, como tradicionalmente costuma acontecer, com os carros a seguirem-no em fila, sem possibilidade de ultrapassagem.

Só que após duas voltas e com relatos dos pilotos para as equipas de que as condições eram impraticáveis para uma corrida de Fórmula 1 — devido à falta de visibilidade e de aderência dos monolugares à pista — foi decretada bandeira vermelha, o que levou à interrupção da corrida, desta feita por tempo indefinido. Nas redes sociais e nas transmissões televisivas seguiram-se debates sobre os regulamentos e o que dizem estes sobre os prazos para a duração máxima possível de um Grande Prémio, mas também sobre quantas voltas haviam sido efetivamente feitas.

A discussão prolongou-se durante quase três horas, período em que, após os procedimentos de arranque terem sido interrompidos, a corrida esteve suspensa e os carros parados no pitlane — enquanto a direção de corrida, de olhos postos no radar meteorológico, tentava encontrar uma janela temporal para encaixar a algumas voltas de corrida que permitissem obter uma classificação.

Tal acabou por acontecer, mas de uma forma que causou a revolta dos fãs da Fórmula 1 e de corridas de automobilismo, já que a solução encontrada pela direção de corrida foi, com o mau tempo a não dar tréguas, pôr os monolugares em pista novamente em pista atrás de safety car, com os dez primeiros — resultado da qualificação de sábado — a receberem metade dos pontos normalmente atribuídos num Grande Prémio, mas decorridas apenas quatro voltas (novamente sem possibilidade de ultrapassagem e de discussão de lugares), antes de nova situação de bandeira vermelha.

Sérgio Pérez foi a exceção, depois de nas voltas de instalação ter atirado o seu Red Bull contra as barreiras e ter obrigado os seus mecânicos a operar uma recuperação in extremis, sendo obrigado a sair de último e promovendo uma subida de posição para os pilotos que se qualificaram atrás de si.

Para além da atribuição de pontos polémica muito contestada após a corrida do mundial de Fórmula 1 mais curta da história, o Grande Prémio da Bélgica teve ainda direito a cerimónia de pódio, ao qual subiram Max Verstappen (Red Bull), George Russell (Williams) e Lewis Hamilton (Mercedes).

Depois de ser oficializado o fim do Grande Prémio, a maioria dos pilotos, em declarações aos jornalistas, mostraram-se contra o sucedido, alguns pedindo desculpa ao público que permaneceu toda a tarde à chuva nas bancadas e afirmando que não viam motivo para serem premiados com pontos já que nada fizeram para os merecer.

Lewis Hamilton foi dos mais vocais, utilizando mesmo a entrevista pós-corrida para apelar à devolução do preço dos bilhetes aos espectadores nas bancadas. O britânico deixou mesmo no ar a ideia de que a direção de corrida optou por retomar a prova só para cumprir com o mínimo de voltas e se proteger desta possibilidade.

Sinto-me muito mal pelos fãs hoje. Ninguém tem culpa do tempo, mas os fãs têm sido incríveis em ficar connosco este tempo todo e esperar por uma hipotética corrida. Eles [direção de corrida] sabiam quando nos mandaram voltar aos carros que as condições da pista não tinham melhorado e fizeram-no na mesma só para que fizéssemos as duas voltas atrás do safety car, o que é o requisito mínimo para uma corrida. Espero mesmo que os fãs tenham o seu dinheiro ressarcido.”

Na sua página do Instagram, o sete vezes campeão do mundo deu continuidade às críticas, apelidando o que tinha acontecido de “farsa”.

Como ficam as classificações?

Feitas as contas, Hamilton e a Mercedes continuam a liderar ambos os campeonatos, com as diferenças para a Max Verstappen e para a Red Bull a serem reduzidas — no caso do mundial de pilotos, para três pontos. A McLaren, com o quarto lugar de Daniel Ricciardo (o melhor resultado esta época), conseguiu superiorizar-se à Ferrari na luta pelo terceiro lugar no mundial de construtores, depois de Charles Lecrerc e Carlos Sainz terem conquistado, em conjunto, apenas 2,5 pontos.

Lando Norris (McLaren), que na qualificação de sábado sofreu um aparatoso acidente, continua no terceiro lugar do mundial de pilotos apesar de não ter pontuado — tal como aconteceu a Valtteri Bottas (Mercedes) e Sério Pérez, os adversários mais próximos.

Com os dois pilotos a pontuarem pela segunda corrida consecutiva, a Williams solidifica a sua posição como oitava equipa no mundial de construtores, a qual não deve conseguir ser desafiada pela Alpha Romeo face à diferença pontual construída nos dois últimos Grandes Prémios.

Depois do fim de semana em Spa Francorchamps, que marcou o regresso da pausa de verão, a Fórmula 1 está de regresso já na próxima sexta-feira, em Zandvoort, nos Países Baixos, onde se espera uma corrida mais corrida.

ARM, ZAP //

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