Um dos filósofos mais conhecidos criticava vários aspectos da sociedade. Com ou sem ironia, também deixou uns escritos sobre mulheres.
“Os filósofos, sempre ridiculamente sérios e graves, nunca entenderam de mulheres, jamais perceberam as nuances do ‘eterno feminino'”.
Não, a frase não é de Friedrich Nietzsche. Foi escrita há uns anos por Oswaldo Giacoia Junior, filósofo e escritor brasileiro, especialista em estudos sobre Nietzsche.
Friedrich Nietzsche, um dos filósofos mais conhecidos de sempre, um dos pensadores mais influentes, deixou críticas a vários sectores da sociedade, “disparava” quase para todo o lado – sobretudo para a religião, talvez.
Mas também deixou palavras, digamos, diferentes, sobre as mulheres.
Nomeadamente no seu livro muito conhecido Para além do bem e do mal. Na sétima parte, intitulada ‘Nossas virtudes’, a secção 232 começa assim: “A mulher quer tornar-se independente: e para isso começa por esclarecer os homens sobre a ‘mulher em si’ – isso é um dos piores progressos desta Europa mais feia. Pois o que tem que vir à luz em todas essas grosseiras tentativas de cientificidade feminina e autodesnudamento?”
E depois, esta frase: “A mulher tem tantas razões para ter vergonha”.
E a explicação: “Na mulher há muito escondido de pedante, superficial, de mestre-escola, de pouca presunção, pouco desenfreamento e pouca imodéstia – basta estudar o seu relacionamento com as crianças! -, coisas que, no fundo, foram até agora reprimidas e contidas da melhor maneira pelo medo do homem”.
“Ai, se alguma vez ‘o que é eternamente aborrecido na mulher’ – e ela é rica nisso! – tiver a permissão para se aventurar”, continua o livro.
Depois, outro tipo de discurso. Parece. Ai de nós, sugere Nietzsche, se a mulher “começa a esquecer radicalmente e por princípio a sua inteligência e a sua arte, a inteligência e a arte da graça, do jogo, do afugentar as preocupações, do tornar as coisas leves, do aligeirar, da sua subtil destreza para os desejos agradáveis”.
O filósofo sugere que, em última instância, podemos sempre ter muitas dúvidas sobre tudo o que as mulheres escrevem sobre “a mulher”: a mulher quer mesmo o esclarecimento sobre si mesma? E pode querer isso?
“Se, com isso, uma mulher não está à procura de um novo adorno para si – eu penso, com efeito, que o adornar-se faz parte do eternamente feminino -, bem, então, o que ela quer é despertar medo dela; com isso, talvez, queira domínio”.
E mais: “Mas não quer a verdade: que importa a verdade à mulher! Desde o princípio, nada resulta mais estranho, repugnante, hostil na mulher, do que a verdade – a sua grande arte é a mentira, a sua máxima preocupação são a aparência e a beleza”.
Depois vem uma confissão… masculina: “Confessemos, nós homens: é precisamente essa arte e esse instinto na mulher que amamos e honramos“.
Por fim, perguntas: “Alguma vez uma mulher atribuiu profundidade a uma cabeça de uma mulher, ou justiça a um coração de uma mulher? E não é verdade que, no geral, ‘a mulher’ foi até agora menosprezada pela própria mulher – e nunca por nós homens?”.
“Nós, homens, querermos que a mulher continue a não estar comprometida com o esclarecimento: assim como foi o cuidado e a protecção do homem pela mulher que levaram a Igreja a decretar: mulier taceat in ecclesia!” – ou seja, ficar em silêncio na presença do homem, segundo vários estudiosos.
Parece um discurso de rebaixamento da mulher.
Mas, como tantas vezes acontece, as palavras de um filósofo devem ser bem analisadas.
Oswaldo Giacoia Junior (outro filósofo, recordamos) vê nesta parte do livro Para além do bem e do mal uma crítica ao enfraquecimento e à atrofia dos instintos mais femininos; talvez o mais repugnante sintoma da tal Europa mais feia.
Nietzsche, um “médico da cultura” tentou combater esta tendência. Achava que a mulher era uma hipótese de redenção de uma Europa que se estava a transformar num deserto.
Ou seja, a mulher seria uma salvadora da Europa.