Navios naufragados numa ilha isolada lembram campo de batalha esquecido da 2ª Guerra Mundial

Exploring Attu’s Underwater Battlefield and Offshore Environment/ThayerMahan, Inc.

Kotohira Maru, o cargueiro japonês descoberto em Attu

As forças americanas e japonesas combateram nas Ilhas Aleutas, “perdidas” no meio do Pacífico. Uma delas é mesmo considerada um monumento nacional dos EUA, mas só há poucos anos se descobriu o que jazia por baixo das calmas águas.

O momento, em julho, em que o navio da investigação liderada de Wolfgang Tutiakoff avistou pela primeira vez a ilha de Attu parecia quase sagrado: “Foi muito emotivo e literalmente de cortar a respiração”, conta à National Geographic. “Cerca de vinte pessoas ficaram em silêncio durante pelo menos cinco minutos até que alguém dissesse alguma coisa.”

No final da cadeia de ilhas Aleutas do Alasca (que pertencem a território norte-americano), Attu é o território mais ocidental dos Estados Unidos — tão ocidental que, tecnicamente, se situa no hemisfério oriental e a Linha Internacional de Data contorna-o.

Atualmente, não vive ninguém nessa ilha, e é considerada um monumento nacional. Parecem esquecidas pela história, mas já foram um lugar muito importante para os EUA.

Em junho de 1942, em plena Segunda Guerra Mundial, as ilhas de Attu e Kiska foram invadidas pelo Japão. Tornaram-se o único território dos EUA invadido durante essa guerra.

Tutiakoff descreve-o como “campo de batalha esquecido”. E não é para menos: quase 3.000 pessoas morreram e milhares ficaram feridas, muitas vezes devido ao frio extremo durante a fatídica Batalha de Attu, que acabou com a expulsão dos japoneses por parte dos americanos e canadianos.

Agora, os arqueólogos marítimos Jason Raupp, da Universidade da Carolina do Leste, e Dominic Bush, que agora faz parte do grupo sem fins lucrativos Ships of Discovery, lideraram a expedição a Attu em julho de 2024, em busca de destroços e outras relíquias afundadas a bordo do navio de investigação Norseman II.

Na altura, viviam pessoas na ilha, e o avô de Tutiakoff era uma delas. A jovem é descendente da tribo Unangan, que povoava o local e foi deslocada para outras ilhas. Apenas cerca de metade das quase mil pessoas sobreviveram à Guerra.

Consortium Library, University of Alaska

Os nativos da ilha de Attu, em 1935

Agora, os investigadores descobriram novos artefactos de guerra que contam a história das ilhas esquecidas, nomeadamente o cargueiro japonês Kotohira Maru, que tinha 6000 toneladas e transportava mantimentos do Japão.

Mas já em 2018 tinha sido feita um excursão semelhante: durante uma viagem à ilha de Kiska, foi encontrada a popa do USS Abner Read, um destroyer americano gravemente danificado em agosto de 1943, quando atingiu uma mina marítima japonesa. O navio foi salvo, mas 71 tripulantes morreram em Kiska e dezenas sofreram ferimentos graves.

Foram ainda encontrados destroços de um submarino da Marinha Imperial Japonesa, um submarino japonês “anão” de dois homens, destinado a lançar torpedos contra navios de guerra inimigos, e peças do bombardeiro americano B-24 Liberator que foi atingido por fogo antiaéreo enquanto atacava posições japonesas na ilha.

A mais recente investigação à ilha de Attu já trabalhou com veículos especializados e leves operados remotamente (ROVs), amarrados ao navio de investigação e forneceram vídeo em direto das profundezas escuras.

Dominic Bush diz que a nova investigação, combinada com factos históricos, permitiu perceber melhor as intenções dos japoneses ao invadirem as ilhas do Alasca. E estes poderiam mesmo estar a planear nelas uma base militar para ataques aéreos aos EUA.

“Os japoneses chegaram a pensar que tomar o território dos EUA na América do Norte seria vantajoso do ponto de vista estratégico”, conta. “Chamaram a Attu o seu ‘porta-aviões não afundável’.”

ZAP //

Siga o ZAP no Whatsapp

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.