A pesquisa relata a descoberta de um buraco cavado no chão revestido de tijolo que estava repleto de lixo hospitalar.
Um novo estudo publicado na Antiquity relata a descoberta inesperada de uma cova com lixo hospitalar datado do Renascimento, no século XVI. O lixo terá tido origem no Ospedale dei Fornari, ou Hospital do Padeiro, que foi fundado em 1564 e foi construído no lugar que já tinha acolhido o Fórum de César, em Roma.
A equipa acredita que a cova terá sido usada para armazenar objetos possivelmente infetados, de forma a tentar controlar a propagação de uma doença e conter as epidemias, escreve o Science Alert.
As escavações que descobriram o buraco foram feitas em 2021. Os cientistas encontraram uma câmara peculiar revestida de tijolos com cerca de 2,8 metros de profundidade, com uma camada de argila compacta a esconder os seus conteúdos.
A cisterna datava do século XVI e não foi usada nem antes nem depois da deposição dos objetos que foram encontrados. A equipa acredita, por esta razão, que o buraco teve um único uso e foi coberto logo depois.
No buraco, os investigadores descobriram um conjunto curioso de objetos, como cacos de vidro e cerâmica, pequenos vasos cerâmicos de alta qualidade intactos e objetos pessoais, como estatuetas de terracota, medalhas religiosas, espirais e uma única conta de um rosário. A caixa continha ainda vários grampos de chumbo frequentemente usados em ferragens de móveis e alguma madeira queimada.
Esta não é a primeira vez que os cientistas encontram buracos com lixo hospitalar nas imediações do Hospital do Padeiro. Em 2009, a mesma equipa liderada pela arqueóloga Cristina Boschetti da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, encontrou mais um buraco datado do início do século XVII.
Na altura, os investigadores encontraram aproximadamente 1200 cacos de vidro que especulam que serão de frascos de urina.
“Durante o período medieval, o exame visual da urina – urinoscopia – tornou-se uma ferramenta de diagnóstico central na prática médica e assim permaneceu até ao século XVIII. A urina do paciente seria despejada num frasco para permitir que o médico observasse a sua cor, sedimentação, cheiro e às vezes até gosto”, relatam.
Esta descoberta sugere que deve ser dada mais atenção à forma como os nossos antepassados lidavam com a contenção de doenças, principalmente em grandes centros urbanos como Roma.
“Antes do presente estudo, o descarte moderno de resíduos hospitalares e médicos, a fim de prevenir a propagação de doenças, recebia apenas atenção arqueológica esporádica, com investigação limitada de contexto cruzado. Como consequência, as evidências apresentadas aqui aumentam significativamente a nossa compreensão das práticas de descarte de resíduos no Renascimento”, escrevem.