Duas mulheres que governaram o império de Genghis Khan (e uma tinha razões para recusar)

Enquanto o imperador andava a expandir o território mongol e a unir os seus compatriotas, mulheres assumiam o controlo do império.

Genghis Kahn morreu há quase 800 anos mas ainda continua a aparecer em artigos, em análises.

Ainda há poucos dias, aqui mesmo no ZAP, referimos a estimativa que aponta para que, em cada 200 homens vivos, um deles é descendente do antigo chefe do maior império de sempre – o Império Mongol.

No entanto, se Genghis Kahn andava constantemente a conquistar (e/ou a destruir) territórios, era preciso alguém para ficar a governar o território original, que o líder tinha deixado.

E aí entram as mulheres.

A revista Atlas Obscura começa por lembrar o caso de Börte. Casou-se com Genghis Khan quando praticamente nem se conheciam. Se o marido estava em viagem, era ela que ficava encarregue de liderar a Mongólia “original”.

Qualquer indicação, qualquer pergunta: era Börte que coordenava ou esclarecia, era ela quem dava ordem. E chegou a orientar migrações sazonais que envolviam milhares de pessoas: as procissões de carroças eram coordenadas por Börte.

Acabou por se tornar a Grande Imperatriz do Império Mongol, aos 28 anos. 11 anos depois do casamento.

Anne Broadbridge, especialista em assuntos da Ásia Central, explicou à revista que não se deve colocar a pergunta: o que faziam as mulheres que ficavam encarregues dos campos da Mongólia? A pergunta correcta é: o que elas não faziam?

“É que, a nível de gestão, faziam tudo. A Börte, por exemplo: responsável por um acampamento, pela sua casa, pelas crianças, falava com os comerciantes sobre a economia, responsável pela alimentação, pelo vestuário, pelos rituais religiosos, pelo entretimento…”, enumerou.

“Muitas vezes, o trabalho da mulher é ser o parceiro hospitaleiro, trazer comida e receber os convidados. E depois há todas as mil e uma coisinhas que toda a gente faz todos os dias – consertar coisas, verificar as pessoas, as crianças, ter a certeza de que as crianças não estão lutar muito, etc”, continuou Anne.

Depois de Börte, destacou-se Töregene, já depois da morte de Gengis Khan e depois da morte do seu filho, Ögedei.

A curiosidade é que foi ela a pedir ajuda a todas as pessoas mais velhas da família do imperador, a perguntar o que se devia fazer, por causa da morte do herdeiro de Genghis. A resposta que recebeu foi: “Deves ser tu a regente”.

Töregene passou a governar toda a Mongólia em 1241, cerca de 14 anos depois da morte de Genghis Khan.

Conseguiu vários “desvios” ao seu gosto e, provavelmente, o essencial foi colocar na linha de sucessão o filho que ela queria que fosse o sucessor de Ögedei. Convocou uma assembleia geral, organizou tudo (e pagou) para que a sua intenção – diferente do marido falecido – fosse aceite pela maioria.

E Töregene tinha entrado na família – ao casar-se com Ögedei – depois de o exército de Genghis Khan ter assassinado…o seu marido anterior.

No geral, as mulheres também eram influentes no terreno. Ao contrário do que se podia pensar, há indicações que apontam que 20% do exército daquela época era composto por mulheres.

Embora não haja muitos dados sobre essa época, tem-se a noção de que as mulheres no poder eram aceites pela maioria da população: “As mulheres têm autoridade. Na altura, era normal”.

Sem as mulheres mongóis, não haveria conquista mongol, nem império mongol. Não haveria nada. Sem as mulheres nos bastidores a comandar tudo o resto, os homens não teriam ido a lugar nenhum”, avisa Anne Broadbridge.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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