A mulher de João Rendeiro escusou-se a prestar declarações em tribunal na audiência relacionada com o paradeiro desconhecido das obras de arte apreendidas ao ex-banqueiro, de que ela é fiel depositária, alegando não ter “condições psicológicas” para o fazer.
Maria de Jesus Rendeiro é fiel depositária da colecção de arte arrestada desde 2010, no âmbito dos processos judiciais contra o ex-presidente do BPP. E foi nessa condição que compareceu em tribunal nesta sexta-feira, 29 de Outubro.
“Não estou em condições psicológicas, peço muita desculpa”, disse Maria de Jesus Rendeiro à juíza da audiência, com uma voz muito emocionada e com algumas lágrimas.
Também a advogada de Maria de Jesus Rendeiro disse que a sua cliente não queria prestar declarações, até porque não se podem ignorar as condições em que está e porque à margem deste processo deverá correr um processo-crime.
A mulher de poderá ser acusada do crime de descaminho, pois algumas das obras de arte apreendidas têm paradeiro desconhecido. Mas, para já, não é ainda arguida.
A Polícia Judiciária visitou a casa de João Rendeiro e de Maria de Jesus Rendeiro, no condomínio da Quinta Patino, em Cascais, não tendo sido encontradas 15 obras que deviam estar à sua guarda. Além disso, quatro obras encontradas apresentavam indícios de não serem originais.
Quadro apreendido exposto ao público em Bruxelas
Antes das lágrimas de Maria de Jesus Rendeiro em tribunal, os advogados do BPP já tinham dito ter provas da venda de algumas das obras de arte, bem como da existência de quatro falsificações.
Rendeiro terá lucrado 1,3 milhões de euros com a venda destas obras, segundo os mesmos advogados.
Um dos quadros apreendidos que terá sido vendido encontra-se em exposição numa galeria em Bruxelas, conforme adianta o Público.
Trata-se de um quadro de Frank Stella intitulado “Piaski” e datado de 1936 que se encontra exposto na Charles Riva Colletion na capital belga, como nota o mesmo jornal.
Esta obra foi vendida por cerca de 90 mil euros em Março deste ano, a par de mais dois quadros de Frank Stella que estariam também entre as 124 obras apreendidas a Rendeiro. No total, os três quadros terão sido vendidos por 229 mil euros, como nota o Público.
João Rendeiro foi condenado a três anos e seis meses de prisão efetiva num processo por burla qualificada, encontrando-se em parte incerta, depois de ter fugido à justiça.
O colapso do BPP, banco vocacionado para a gestão de fortunas, aconteceu em 2010, já depois do caso BPN e antecedendo outros escândalos na banca portuguesa.
O BPP originou vários processos judiciais, envolvendo burla qualificada, falsificação de documentos e falsidade informática, bem como um outro processo relacionado com multas aplicadas pelas autoridades de supervisão bancária.
Um defende-se com a doença de Alzheimer, outro pôs-se em fuga, esta Sra . desata a chorar em Tribunal e a audiência é suspensa. E dizem que o crime não compensa ?