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Mosquitos tropicais estão a chegar ao Mediterrâneo

James Gathany / CDC

Um mosquito tigre (Aedes Albopictus) na pele humana

Um mosquito tigre (Aedes Albopictus) na pele humana

As alterações climáticas e o aumento da temperatura média na bacia do mediterrâneo estão a trazer para esta região mosquitos tradicionalmente de zonas tropicais, alguns perigosos transmissores de doenças, como o “mosquito-tigre” (Aedes Albopictus), alertam as autoridades de saúde.

Um relatório publicado em Novembro pelo Centro Europeu para a Prevenção e o Controlo das Doenças traça um “mapa de risco” da transmissão de doenças pelo Aedes Albopictus na Europa, lembrando que nos últimos anos foram confirmados centenas de casos de chikungunya em Itália e de dengue na Croácia e em França.

Sendo um vector (transmissor) de dengue menos efectivo que o Aedes Aegypti (conhecido como mosquito da dengue), a sua chegada à Europa, devido à globalização do comércio e das viagens, facilitada pelas alterações climáticas, está a ser acompanhada de perto pelas autoridades de saúde.

António Tavares, Delegado de Saúde Regional de Lisboa e Vale do Tejo, disse à agência Lusa que, embora ainda não tenha sido detectado em Portugal, há uma grande atenção a este vector, uma vez que foi identificada a sua presença na zona de Barcelona (Espanha).

A Rede de Vigilância de Vetores (Revive) tem um papel fundamental na prevenção destas doenças, disse, lembrando os alertas lançados sobre a possibilidade de aparecimento de dengue na Madeira provocado pelo Aedes Aegypti, como veio a acontecer.

“Durante mais de cinco anos detectou-se o vector, devido às ligações da Madeira a África e à América do Sul. Basta um doente e torna-se uma cadeia incontrolável”, alertou, sublinhando que estas são doenças transmissíveis, ao contrário do que acontece com outras como os enfartes.

A gravidade das doenças transmitidas por vectores é tal que a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou como tema para o Dia Mundial da Saúde 2014 (07 de Abril) “Pequenas criaturas, grandes ameaças“.

“É um tema muito actual”, disse António Tavares à Lusa, sublinhando que, pela forma de transmissão, rapidamente a doença se transforma em pandemia.

“No século XX, a doença que mais matou foi a gripe e não a SIDA, designada como doença do século. As pessoas não estão muito despertas para isto”, disse, lembrando que “em África morre uma criança em cada minuto de malária” e que o dengue é a doença que mais tem crescido nos últimos anos (40 por cento da população mundial está em risco).

A Revive, criada em 2008, tem permitido melhorar o conhecimento das espécies de vectores existentes em Portugal, esclarecer o seu papel como agentes transmissores de doença e detectar a introdução de espécies invasoras.

Além da vigilância durante todo o ano em portos e aeroportos, as equipas da rede fazem recolhas em vários pontos do país, entre Maio e o final de Outubro, sobretudo em zonas húmidas e pantanosas, sabendo que a larva se desenvolve em locais que contenham água (buracos, pedras, bambus, bromélias, latas, pneus).

As equipas que andam no terreno recolhem amostras (de mosquitos mas também de carraças) que verificam depois se estão infectadas, permitindo detectar atempadamente qualquer alteração na abundância, na diversidade e papel de vector, de modo a que sejam tomadas medidas.

António Tavares sublinhou que às medidas preventivas tomadas pelas autoridades se devem juntar cuidados básicos de prevenção, como o uso de repelentes e de mosquiteiros por parte das populações e recurso à consulta do viajante e a vacinas (contra a febre amarela) quando em viagem para países de maior risco.

Por outro lado, alerta para a necessidade de os médicos fazerem a notificação de todos os casos de que tomam conhecimento, lamentando que a obrigatoriedade só exista para a febre-amarela e a malária.

/Lusa

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