Morreu Shinzo Abe, ex-primeiro ministro japonês, após ser baleado. Suspeito é antigo militar

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CSIS / Flickr

Shinzo Abe, ex-primeiro-ministro do Japão

O ex-primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, morreu esta sexta-feira, na sequência de um ataque num comício em Nara. O antigo chefe do Governo foi “alvejado pelas costas” e não resistiu aos ferimentos, avançou a rádio japonesa NHK. O suspeito é um ex-membro da força naval do país.

Abe participava num comício eleitoral do Partido Liberal Democrático (PLD) para as eleições parlamentares de 10 de julho, quando foram ouvidos tiros, disse a emissora pública nipónica NHK e a agência noticiosa Kyodo, citadas pela agência Lusa.

O político, de 67 anos, foi transportado de ambulância para um hospital perto da estação Kintetsu Yamato-Saidaiji, acrescentou o jornal Yomiuri Shimbun. Um repórter desta publicação diária disse que, após ouvir o som de um disparo, o ex-primeiro-ministro caiu no chão inconsciente.

Fonte do PLD realçou à agência de notícias japonesa Jiji que o político japonês encontrava-se a sangrar do pescoço. A emissora NHK relatou que, quando Abe foi transportado para o hospital, aparentava estar em paragem cardiorrespiratória.

O suspeito do ataque ao ex-primeiro-ministro japonês é um desempregado de 41 anos e ex-membro da força naval do país, anunciou a polícia japonesa. Yamagami Tetsuya, originário de Nara, foi detido no local do atentado, enquanto segurava uma arma com a qual terá disparado dois tiros contra o antigo líder japonês.

Segundo fontes do Ministério da Defesa japonês, o alegado agressor trabalhou no ramo naval das Forças de Auto-defesa por três anos, até 2005.

Com a morte de Abe, desaparece um governante que bateu recordes de longevidade na chefia do país e resistiu a numerosos escândalos políticos e financeiros que envolveram também a sua família. Foi o mais jovem primeiro-ministro da história do seu país no pós-guerra, quando assumiu o cargo aos 52 anos, em 2006.

No verão de 2020, quando se tornara impopular devido à gestão da pandemia, considerada desastrosa pela opinião pública, Abe admitiu que sofria de uma doença inflamatória intestinal crónica, colite ulcerosa, e demitiu-se. Esta doença tinha já sido uma das razões para o fim abruto do primeiro mandato, em 2007.

Abe tornou-se conhecido a nível internacional sobretudo pela política económica, apelidada de “Abenomics”, lançada no final de 2012. Combinava flexibilização monetária, estímulos fiscais maciços e reformas estruturais. Conseguiu alguns êxitos, como um aumento da taxa de participação das mulheres e dos cidadãos idosos na força de trabalho, e um maior recurso à imigração face à escassez de mão-de-obra.

A ambição última de Abe era rever a Constituição pacifista japonesa de 1947 e recuperar o direito do país a ter forças armadas propriamente ditas. Tendo construído parte da sua reputação com base na posição dura sobre a Coreia do Norte, assumiu um Japão descomplexado com o passado.

Para permanecer no poder, Abe beneficiou largamente da ausência de um rival sério dentro do seu PLD. Ajudou-o ainda a fraqueza da oposição, que ainda não recuperou da desastrosa passagem no poder entre 2009 e 2012. Desde a II Guerra Mundial, o PLD só esteve longe do Governo em dois períodos de dois anos cada.

O primeiro-ministro que mais tempo tinha ficado no cargo antes de Shinzo Abe foi seu tio-avô, Eisaku Sato. Também do PLD, governou entre 1964 e 1972.

Governo do Japão condena ataque

切干大根 / Wikimedia

Fumio Kishida, o primeiro-ministro do Japão.

O Governo japonês condenou o ataque a Abe e disse que ainda está a recolher informações sobre o seu estado de saúde.

“Esta barbárie não pode ser tolerada, independentemente da razão da pessoa, por isso condenamo-la fortemente e faremos o nosso melhor para ajudar”, indicou o porta-voz do Governo nipónico, Hirokazu Matsuno, sem acrescentar mais informações sobre a saúde de Abe.

O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, cancelou a agenda eleitoral e está a caminho de Tóquio.

A ex-ministra do Interior e das Comunicações do Japão, Sanae Takaichi, também condenou o ataque, referindo que espera que Abe esteja vivo e que “não perdoa o terrorismo político”, enquanto o ministro da Defesa no tempo de Abe, Satoshi Nakanishi, disse que “o terrorismo e a violência não devem ser perdoados”.

“Um líder notável do Japão”

As reações internacionais também já se fazem notar. “Estamos tristes e chocados com o ataque ao antigo primeiro-ministro. Abe foi um líder notável para o Japão e um aliado inabalável dos Estados Unidos”, disse o embaixador norte-americano em Tóquio, Rahm Emanuel.

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, também se manifestou “chocado e entristecido com o ataque cobarde” contra o ex-primeiro-ministro japonês.

Já o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, afirmou estar “triste e consternado” com o ataque “desprezível”, também no Twitter.

Profundamente perturbado pelo ataque ao meu querido amigo Abe”, reagiu o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, na mesma rede social. “Os nossos pensamentos e orações estão com ele, com a sua família e o povo japonês”.

Também o Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, reagiu ao assassinato de Abe. Segundo nota publicada no website da Presidência, está “chocado com o vil assassinato”, apresentando ao Estado japonês as suas “respeitosas condolências” e repudia esta “lamentável manifestação de violência”.

ZAP //

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5 Comments

  1. Mas que título mais suave: «Morreu Shinzo Abe, ex-primeiro ministro japonês, após ser baleado. Suspeito é antigo militar»
    Deveria ser: «Assassinado Shinzo Abe, ex-primeiro ministro japonês. Atirador é antigo militar» Essa é que é a realidade. Ou será que é “politicamente incorrecta” ou ofensiva para o assassino?…

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