Ativista dos direitos humanos, Prémio Nobel da Paz, viajante incansável, artífice dos Acordos de Camp David, presidente de um mandato só. Morreu Jimmy Carter, o 39.º Presidente dos Estados Unidos.
O antigo Presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter, que hoje morreu aos 100 anos, foi um líder de um só mandato (1977-1981), mas alguns não hesitam em apelidar o político democrata como “uma bênção” para o país.
“O senhor é uma bênção para o nosso país”, declarou a senadora democrata Tina Smith, no dia em que a Fundação Carter anunciou que o antigo Presidente dos Estados Unidos estava a receber “cuidados paliativos” em casa, onde desejava passar o tempo que lhe restava após diversas hospitalizações.
“O meu pai era um herói, não só para mim, mas para todos os que acreditam na paz, nos direitos humanos e no amor altruísta”, afirmou o filho, Chip Carter, numa declaração.
“O mundo é a nossa família devido à forma como ele uniu as pessoas, e agradecemos-vos por honrarem a sua memória continuando a viver estas crenças partilhadas”, acrescenta a nota de Chip Carter.
Carter, um homem que falava frequentemente da sua fé cristã, era, após a morte de George HW Bush, o mais velho Presidente norte-americano ainda vivo.
Eleito para a Casa Branca em 1976, vencendo o então Presidente Gerald Ford por uma margem de votos tangencial e numa América ainda marcada pelo escândalo “Watergate” que forçou o Presidente Richard Nixon a demitir-se, Carter assumiu o cargo de 39.º Presidente dos Estados Unidos apenas durante quatro anos.
O seu único mandato foi marcado por importantes acontecimentos no plano internacional. Em 1977, Carter assinou o tratado que assegurou aos Estados Unidos o controlo do Canal do Panamá até 1999.
É considerado o artífice dos Acordos de Camp David que em março de 1979 conduziram à assinatura do tratado de paz israelo-palestiniano e foi durante a sua liderança que ocorreu a crise da tomada de reféns norte-americanos no Irão em 1979-1980, situação que lhe valeu fortes críticas internas.
Carter acabaria por perder a disputa com Ronald Reagan, um antigo ator de Hollywood e senador republicano, quando se candidatou à reeleição.
Após abandonar a Casa Branca, Jimmy Carter fundou o Carter Center em 1982, para promover o desenvolvimento, a saúde e a resolução de conflitos no mundo.
Natural da Georgia, estado que o viu tornar-se governador, Jimmy Carter era caracterizado como um “viajante incansável” que podia ser encontrado em todo o lado: do México ao Peru, passando pela Nicarágua e até Timor-Leste.
Em 2002 recebeu o Prémio Nobel da Paz, designadamente “pelas décadas de esforços infatigáveis com o objetivo de encontrar soluções pacíficas aos conflitos internacionais”.
“Jimmy Carter não ficará provavelmente na história americana como o Presidente mais eficaz, mas é certamente o melhor ex-Presidente que o país jamais teve”, declarou em dezembro de 2002 o presidente do Comité Nobel, Gunnar Berge, durante a cerimónia solene de entrega do galardão.
Nessa altura, os Estados Unidos intensificavam os preparativos para uma eventual intervenção armada contra o regime iraquiano de Saddam Hussein e Carter não esqueceu o assunto no seu discurso de aceitação do Nobel.
“No caso das grandes potências, aderir ao princípio da guerra preventiva poderia criar um precedente que pode ter consequências catastróficas”, declarou na altura.
Em 2019, e confrontado com uma série de problemas de saúde e várias hospitalizações, tornou-se no primeiro Presidente norte-americano da história a atingir os 95 anos.
A ligação entre Jimmy Carter e Joe Biden, atual Presidente norte-americano, percorre várias décadas. Em 1976, Joe Biden, então um jovem senador de Delaware, foi um dos primeiros representantes a apoiar Carter na sua corrida presidencial.
Devido aos seus problemas de saúde, Carter não compareceu à cerimónia de investidura de Biden em janeiro de 2021, na qual participam tradicionalmente os ex-Presidentes dos Estados Unidos.
Poucos meses mais tarde, Jimmy Carter recebeu Joe Biden na sua cidade natal, em Plains na Georgia, onde vivia desde que tinha saído de Washington. Na altura, surgiu com a mulher Rosalynn, com quem percorreu um casamento de mais de sete décadas, numa imagem ao lado do casal presidencial Biden, Jill e Joe Biden.
A paragem de Biden em Plains fez parte de uma viagem pelo estado da Georgia para assinalar os seus primeiros 100 dias no cargo. “Sentámo-nos e falámos sobre os velhos tempos“, disse então Biden.
Rosalynn morreu em 2023, aos 96 anos. A última aparição pública de Jimmy Carter foi precisamente no funeral da mulher, em Plains.
ZAP // Lusa