Jean-Marie Le Pen, líder histórico do partido de extrema-direita francês, Frente Nacional, morreu esta terça-feira aos 96 anos, no hospital onde estava hospitalizado desde novembro em Garches, Hauts-de-Seine. Virou-se “uma página da história francesa “.
“Jean-Marie Le Pen, rodeado pela sua família e amigos, foi chamado de volta a Deus ao meio-dia de terça-feira”, declarou a família num comunicado enviado à AFP.
Jordan Bardella, atual presidente do partido fundado por Le Pen lamentou a perda da figura história da extrema-direita francesa.
“Jean-Marie Le Pen morreu. Envergando o uniforme do exército francês na Indochina e na Argélia, tribuno do povo na Assembleia Nacional e no Parlamento Europeu, serviu sempre a França, defendeu a sua identidade e a sua soberania”, escreveu Bardella.
“Hoje penso com tristeza na sua família, nos seus entes queridos e, claro, na Marine, cujo luto deve ser respeitado”, acrescenta.
Nascido em 20 de junho de 1928 em La Trinité-sur-Mer, oeste da França, Jean-Marie Le Pen foi candidato à Presidência da França cinco vezes e chegou mesmo a disputar a segunda volta das eleições presidenciais de 2002, mas acabou por perder contra Jacques Chirac.
Negacionista do Holocausto e um extremista irredutível em matéria de raça, género e imigração, fundou a Frente Nacional em 1972. A filha, Marine Le Pen, sucedeu-lhe na liderança do partido em 2011, que rebatizou para Rassemblement National.
Em reações à morte do líder histórico da extrema-direita francesa, o primeiro-ministro francês, François Bayrou, disse que quem lutou contra Jean-Marie Le Pen “sabia o lutador que ele era“.
Também o presidente francês, Emmanuel Macron, comentou a morte de Le Pen, afirmando que ”cabe à História julgar” o papel que o político desempenhou, durante quase setenta anos, na vida pública do país..
O ministro do Interior, Bruno Retailleau, apresentou as suas condolências à família de Le Pen e disse que “uma página da história francesa tinha sido virada“.
O nacionalista de extrema-direita Eric Zemmour afirmou no X que, “para além das controvérsias e dos escândalos”, Le Pen será recordado por ter sido “um dos primeiros a alertar a França para as ameaças existenciais que a espreitam”.
No outro extremo do espetro político, Jean-Luc Mélenchon, líder da esquerda radical França Sem Arco (LFI), afirmou que o respeito pela dignidade dos mortos e a dor das suas famílias “não anula o direito de julgar as suas acções. As de Jean-Marie Le Pen são insuportáveis“.
“A luta contra o homem acabou. A luta contra o ódio, o racismo, a islamofobia e o antissemitismo que ele espalhou continua”, acrescenta Mélenchon.
Durante várias décadas, Le Pen foi a figura política mais controversa de França. Os seus críticos denunciaram-no como um fanático de extrema-direita e os tribunais condenaram-no várias vezes pelas suas declarações radicais, recorda a BBC.
Ainda assim, as políticas anti-imigração estridentes de Le Pen atraíram os eleitores. Nas eleições presidenciais de 1988, obteve 14% dos votos. Esse número subiu para 15% em 1995.
Em 2002, Le Pen chegou à última ronda das eleições presidenciais. No entanto, os partidos de todo o espetro político apelaram aos seus apoiantes para que votassem contra ele, e o seu adversário Chirac venceu com 82% dos votos.
Em 2015, Le Pen foi expulso da Frente Nacional depois de ter repetido a sua infame negação do Holocausto.
A expulsão ocorreu também durante uma disputa pública com a sua filha, que o acusou de reiterar a negação do Holocausto para tentar “salvar-se da obscuridade”.
“Talvez, ao livrar-se de mim, ela quisesse fazer algum tipo de gesto para o establishment”, disse Jean-Marie Le Pen mais tarde.