Morreu Celeste Caeiro. A mulher que fez do 25 de Abril a Revolução dos Cravos

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António Cotrim / Lusa

Celeste Caeiro

A mulher que transformou o cravo no símbolo do 25 de Abril de 1974, Celeste Caeiro, morreu esta sexta-feira aos 92 anos no Hospital de Leiria.

Morreu Celeste Caeiro. A mulher que fez a Revolução dos Cravos.

Com a mãe e uma filha de 5 anos a seu cargo e a viver numa “casa humilde, sem rádio e sem televisão”, Celeste só soube que estava a haver uma revolução quando chegou ao emprego, no dia 25 de Abril de 1974.

Nesse dia, o self-service onde celeste trabalhava (não, a “Celeste dos Cravos” não era florista), que completava um ano, não iria abrir portas e o patrão, “que tinha mandado comprar cravos para oferecer aos clientes e decorar o espaço, disse aos funcionários que levassem um ramo cada um”.

Celeste pegou no seu ramo de cravos – “vermelhos e brancos” – e rumou ao Rossio para ver “o que há tanto tempo esperava que acontecesse”.

Foi aí que perguntou a um soldado o que estavam ali a fazer e se precisava de alguma coisa.

O soldado, “de quem nunca soube a identidade, fez sinal que queria um cigarro” e Celeste, que sofria dos pulmões e nunca fumou, deu-lhe antes um cravo, que o militar colocou no cano da arma e que acabaria por ser o símbolo da revolução.

A história de Celeste Caeiro, entrelaçada com aspetos políticos e sociais da época, foi contada num documentário da Comissão dos 50 anos do 25 de Abril, com argumento original de Vilma Reis e Roberto Faustino e produção de Tino Navarro e MGN Filmes Lisboa.

Na sessão solene das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, o deputado do Livre e historiador Rui Tavares pediu que o parlamento homenageie as mulheres do país através da estátua de Celeste, que saiu com uma braçada de cravos no dia 25.

Por proposta do Partido Comunista Português (PCP), a Câmara de Lisboa aprovou por unanimidade, no dia 7 de maio, homenagear-se Celeste Caeiro com a atribuição da medalha de honra da cidade de Lisboa e a realização de uma “intervenção evocativa, a ser implantada num espaço público”, o que ainda não aconteceu.

Nunca foi homenageada em vida

Esta sexta-feira, a neta, Carolina Caeiro Fontela, confirmou à Lusa que a avó morreu de manhã no Hospital de Leiria devido a problemas do foro respiratório, lamentando que Celeste Caeiro nunca tenha sido homenageada em vida.

Em abril passado, por ocasião das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974, ambas, residentes em Alcobaça, esclareceram as lacunas da história: “Há muita gente que ainda pensa que foi uma florista [que deu um cravo a um soldado], mas a minha avó não era florista”, disse a neta à Lusa, lembrando que Celeste trabalhava num ‘self-service’ no edifício Franjinhas, na Rua Braamcamp, em Lisboa.

ZAP // Lusa

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1 Comment

  1. A dr.ª Celeste Caeiro será para sempre lembrada pelo papel que desempenhou no dia do golpe de Estado da OTAN a 25 Abril de 1974 em que “distribuiu” os cravos vermelhos – que só florescem em Portugal no final de Maio e início de Junho – chegados em contentores a Portugal no dia 24 de Abril e foram distribuídos por viaturas da OTAN pelas unidades afectas ao golpe.
    «…Na altura era médico nos Hospitais Civis de Lisboa e tinha no serviço um interno que era oficial da marinha e se achava próximo do MFA (Movimento das Forças Armadas) que veio com a notícia de que estava a chegar ao país muita gente da CIA. Lembro-me que pensei, com os meus botões, se americanos e soviéticos não se tinham juntado para nos tramar. Pouco mais de um mês depois deu-se “o 25 de Abril” e claro que não imaginava que nesse dia estaria uma esquadra da OTAN fundeada no estuário do Tejo num exercício militar de rotina, ‘obviamente’ programado com muita antecedência…» – Lino Oliveira

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