O candidato da Lista C à liderança da Associação Mutualista que detém o Banco Montepio fala da “situação extremamente difícil” do grupo e revela que já enviou “um plano” de alerta a todos os órgãos de poder, desde Marcelo Rebelo de Sousa ao Governo, defendendo que é preciso “o apoio do Estado” para resolver os problemas.
Eugénio Rosa, de 80 anos, volta a concorrer à liderança da Associação Mutualista nas eleições de 17 de Dezembro. “Achei que não podia “abandonar o barco””, refere em entrevista ao Eco, notando que “a Associação Mutualista e o grupo Montepio enfrentam uma situação extremamente difícil“.
O candidato da Lista C revela que antes de avançar com a sua candidatura, fez “um esforço para se criar uma lista de unidade”. “Propunha-me a não ir para o conselho de administração, mas ficar no conselho fiscal, a fiscalizar e a ter uma intervenção”, mas “não foi possível essa unidade, porque a outra parte queria ficar com totalidade dos lugares do conselho de administração”, refere.
“A situação é absolutamente complicada”
Na entrevista ao Eco, Eurico Barros traça um quadro complicado quanto ao grupo Montepio, criticando a “má aplicação das poupanças dos associados” na Mutualista e “o grande problema que está nas empresas onde essas poupanças estão aplicadas”.
“Uma parte substancial das poupanças dos associados está aplicada no banco. As poupanças dos associados na Associação Mutualista andam à volta dos três mil milhões de euros. São poupanças de uma vida das pessoas. A garantia dessas poupanças, do reembolso e da rentabilidade, é fundamental”, sublinha.
“A situação é absolutamente complicada”, realça. “A compra do Finibanco foi através da Associação Mutualista, através de uma OPA. Depois a Associação Mutualista financiou a Caixa Económica Montepio Geral com 450 milhões de euros de poupanças dos associados e foi com esse dinheiro que a Caixa Económica comprou o Finibanco à Associação Mutualista”, refere.
“Depois, houve uma política de concessão de crédito por parte da Caixa Económica [hoje em dia Banco Montepio] sem uma análise do risco, com as sucessivas administrações de Tomás Correia. Concederam-se créditos que depois não se cobraram, perderam-se mais de mil milhões de euros de crédito”, aponta ainda numa crítica ao anterior presidente.
“Houve depois uma delapidação do capital do banco e a Associação Mutualista foi obrigada a recapitalizar o banco com poupanças dos associados. Tomás Correia e os seus amigos dizem que não tiveram de recorrer à ajuda do Estado, mas foram ao bolso dos associados“, acrescenta.
“Uma parte das poupanças que foram investidas no Banco Montepio para o recapitalizar acabaram por se perder. Se eu somar essas poupanças ao capital social do banco que existia, quando se adquiriu o Finibanco, dá 2.400 milhões de euros. Mas os capitais próprios do banco, o que existe, é de apenas 1.300 milhões. Portanto, a diferença desapareceu“, alerta também.
“Precisamos do apoio do Estado”
Eugénio Rosa diz que espera que não seja preciso cortar os benefícios dos associados e aponta que enviou “um plano” a “todos os órgãos de poder, do Presidente da República aos reguladores”, a alertar para a situação do grupo Montepio.
“Em Portugal, geralmente, vem-se com a desculpa de que não se sabia, o que não será o caso aqui. Temos alertado continuamente“, sublinha.
“Uma das coisas que nós defendemos é que precisamos do apoio do Estado, mas não em dinheiro. É um apoio mais de garantia, aquilo que o ministro Mário Centeno disse uma vez na Assembleia da República que o Governo não deixaria cair o Montepio”, diz ainda Eugénio Rosa.
“O Montepio precisa de ir ao mercado para obter meios financeiros para libertar o banco dos créditos improdutivos, os NPE. Tem mais de 1.000 milhões de euros de créditos que não produzem nada, mas comem capital, reduzem os rácios de capital. É preciso passá-los para uma empresa”, constata ainda.
Assim, “a garantia do Estado serve para ganhar tempo em relação ao enorme valor que foi destruído e para não se perder a poupança dos associados”, conclui.
Cortar o seu próprio salário de 30 mil euros por mês
A primeira coisa que Eugénio Rosa vai fazer se for eleito é cortar nos salários e nas benesses dos membros do conselho de administração.
O actual presidente da Associação Mutualista ganha mais de 30 mil euros por mês, mas Eugénio Rosa admite cortar o valor para metade, embora note que o assunto ainda vai ser discutido com os membros da lista.
“A administração tem de dar o exemplo. Se a gente pede aos outros, a primeira coisa que temos de fazer é dar o exemplo”, aponta na mesma entrevista.
“Um conflito com Tomás Correia” por causa de Jaguares
Além disso, Eugénio Rosa nota que os elementos da administração “têm um conjunto de benesses”, incluindo “carros de alta gama com todas as despesas pagas pela Associação Mutualista”, que não se justificam.
O candidato da Lista C chega a revelar que teve “um conflito com Tomás Correia, porque queria comprar carros da marca Jaguar com a justificação de que não ia comprar Mercedes porque a chanceler alemã Angela Merkel estava a comportar-se mal com Portugal”. “Ainda comprou um ou dois. Eu disse-lhe que era um escândalo”, realça.
Outro ponto que merece críticas de Eugénio Rosa são “as pensões dos administradores”.
“Enquanto os trabalhadores para terem uma pensão completa precisam de 40 anos de descontos, na Associação Mutualista, cada ano de serviço vale 5%. Ou seja, ao fim de 20 anos de serviço, um administrador tem direito à pensão completa. Em metade do tempo de um trabalhador normal”, lamenta.