De vez em quando, os cientistas detetam sinais misteriosos que chegam à Terra, sem conseguir identificar a sua fonte. Agora, investigadores finalmente resolveram um desses mistérios: um sinal bizarro identificado há 50 anos.
Um novo estudo publicado na Geophysical Research Letters reivindica ter solucionado o enigma dos chamados “ecos de 150 quilómetros”.
Todos os dias, ao amanhecer e entardecer, o fenómeno surge: sinais de radar inicialmente enviados para o espaço por cientistas refletem de volta para o chão, como ecos.
Durante o nascer do sol, algo a uma altura de 150 quilómetros age como um espelho para estes sinais. Já ao meio-dia, o espelho “baixa-se” a uma altura de 20 a 30 quilómetros. O espelho sobe novamente com o pôr do sol, onde desaparece na noite.
As sondas enviadas para a atmosfera durante o nascer e o pôr do sol não conseguiram identificar qualquer fonte potencial para tal efeito de reflexão.
Espelho de iões
Investigadores da Universidade de Boston, nos EUA, liderados pelo astrónomo Meers Oppenheim, decidiram tentar identificar este espelho de uma vez por todas.
Os cientistas observaram que a fonte dos ecos se tornava mais poderosa durante as explosões solares e consideravelmente mais fraca durante os eclipses, e notaram ainda que o aumento da profundidade do sinal durante o dia combinava com o ângulo da radiação solar.
Estas provas circunstanciais pareciam apontar para a nossa estrela mãe como a culpada, mas era improvável que o sinal fosse proveniente do próprio sol.
A luz ultravioleta do sol arranca eletrões das moléculas de oxigénio e azoto na atmosfera superior, e lança esses eletrões a altas velocidades, com energias consideráveis.
As interações destes eletrões com as moléculas ionizadas e outras partículas podem fazer com que os iões vibrem em massa.
Os cientistas sugerem, assim, que esta vibração poderia gerar ondas energéticas suficientemente fortes para refletir os sinais de radar que vêm a partir do solo.
Usando simulações de computador para reproduzir este mecanismo, os investigadores mostraram que, de facto, a energia da radiação solar é suficiente para produzir iões que reflitam os sinais.
À medida que o sol nasce e se move no céu ao longo do dia, o ângulo de radiação solar muda, e os iões vibrantes movem-se mais para baixo no céu. No pôr do sol, o ângulo diminui, e o “espelho” move-se de volta para cima.
Durante as erupções solares energéticas, por sua vez, mais iões podem ser produzidos – e o espelho torna-se ainda mais poderoso.
Olá, ZAP! Obrigado pela notícia. Queria fazer um reparo. Não há moléculas sem electrões, dado que eles são essenciais para formar moléculas (isto é, átomos ligados entre si). Tampouco essa é a definição de ião. Ião é um átomo cuja carga electrónica foi alterada, seja pela adição, seja pela remoção de electrões. Há moléculas formadas por iões, por exemplo o sal comum (cloreto de sódio). Obrigado. 🙂
Caro BGM,
Obrigado pelo seu reparo. A expressão “moléculas sem electrões” pretendia na realidade significar “moléculas com electrões a menos”.
O parágrafo foi reescrito para corrigir o erro e clarificar o seu conteúdo.