Ministro responde a Rita Pereira: “Ninguém está a morrer de fome em Cabo Verde”

wipo / Flickr

Abraão Vicente, ministro da Cultura cabo-verdiano

Rita Pereira divulgou um vídeo nas redes sociais, no qual afirma que há crianças a morrer de fome em Cabo Verde. Esta quinta-feira, o ministro da Cultura cabo-verdiano desmentiu a atriz.

O ministro da Cultura cabo-verdiano, Abraão Vicente, afirmou esta quinta-feira que “ninguém está a morrer de fome” no país, numa reação ao pedido de apoio para os cabo-verdianos feito pela atriz portuguesa Rita Pereira, devido à covid-19.

Numa mensagem publicada no Facebook, o ministro da Cultura e das Indústrias Criativas dirigiu-se diretamente à atriz portuguesa, agradecendo a “preocupação”.

Mas quero que saiba que ninguém está a morrer de fome em Cabo Verde. Quero que saiba que ‘fome’ é um tema muito sensível para os cabo-verdianos e agradecíamos que não se tocasse nela assim de forma tão superficial”, escreveu na mensagem, que termina pedindo à atriz para “que retire o vídeo onde diz que há crianças a morrer de fome” no país.

Querida Senhora Rita Pereira estou muito sensibilizado com o seu vídeo e a sua preocupação com Cabo Verde. Mas quero que…

Publicado por Abraão Vicente em Quarta-feira, 6 de maio de 2020

Horas antes, Rita Pereira divulgou um vídeo nas redes sociais, afirmando ter sido alertada pelo músico de ascendência cabo-verdiana Nélson Freitas para os efeitos que a pandemia de covid-19 está a ter no arquipélago.

Há crianças a morrer de fome, mesmo aqui ao nosso lado, num país para onde os portugueses vão de férias, ser felizes e aproveitarem aquelas praias incríveis. Eu sei que há muitas pessoas em Portugal também a passar por isto, mas também há muitos cabo-verdianos a viver aqui. Se vocês puderem ajudar podemos fazer a diferença”, disse a atriz.

Numa alusão ao período colonial português, o ministro reagiu com a história do país: “Caso não saiba, Cabo Verde, ao longo da sua história passou, de facto, por vários ciclos de fome e morte. Ficámos marcados pela perda e pelo desaparecimento de famílias e gerações.”

O governante recordou ainda que, “entre os anos de 1854-56, cerca de 25% da população do arquipélago morreu, também devido à fome”, que “as fomes de 1941-43 e 1947-48, mataram cerca de 45.000 pessoas” e que de 1946 a 1948 só a ilha de Santiago perdeu 65% de sua população “quer pela fome, quer pela emigração em massa”, nomeadamente para S. Tomé e Príncipe.

“É certo que ainda temos pobreza, temos famílias que precisam de auxílio do Estado e da comunidade mas podemos dizer taxativamente que após a independência de Cabo Verde (1975), graças a um esforço coletivo do nosso povo, dos nossos emigrantes e dos nossos parceiros internacionais conseguimos erradicar essa fome que mata crianças e velhos e que deixa cicatrizes na pele da nação”, retorquiu, dirigindo-se à atriz.

As ilhas de Santiago (Praia) e Boa Vista, as únicas com casos ativos da doença em Cabo Verde, permanecem em estado de emergência (desde 29 de março) até às 24:00 de 14 de maio, com a população obrigada ao recolhimento em casa e as empresas fechadas. As restantes seis ilhas sem casos de covid-19 deixaram o estado de emergência em 27 de abril, e a ilha de São Vicente no dia 3 de maio.

Cabo Verde registou, esta quinta-feira, mais cinco casos de infeção pelo novo coronavírus, todos na cidade da Praia, elevando para 191 no país, de acordo com a atualização oficial feita pelas autoridades de saúde. Na mesma atualização, regista-se também mais uma doente recuperada, totalizando agora 38 em todo o arquipélago.

ZAP // Lusa

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