Os cientistas conseguiram desenvolver um mini-cérebro organóide diretamente com tecidos de um cérebro de um feto.
Um novo estudo publicado na Cell conseguiu um avanço significativo na modelagem de cérebros humanos em miniatura para pesquisa laboratorial, superando alguns dos desafios mais complexos enfrentados até agora.
Em vez de induzir células-tronco a proliferarem-se em milhões e transformarem-se em diferentes tipos de células, como neurónios, a equipa desenvolveu um organóide cerebral diretamente a partir de tecido cerebral fetal.
O resultado é uma estrutura auto-organizável do tamanho de um grão de arroz, que, apesar de não ser um órgão real (não possui pensamentos, emoções ou consciência), promete ser um modelo valioso para o tratamento de doenças e distúrbios cerebrais, especialmente em crianças.
A obtenção de tecido cerebral fetal geralmente provém de abortos eletivos, com variações éticas consideráveis entre países. Alguns proíbem completamente o seu uso, enquanto outros, como os Países Baixos, permitem sob restrições estritas.
Antes deste avanço, os ‘mini-cérebros’ humanos eram cultivados somente a partir de células-tronco. No entanto, diferentemente dos organóides derivados de células, os organóides de tecido refletem um estado de desenvolvimento fixo e nativo, que pode ser mantido por um tempo considerável.
No estudo, pequenos fragmentos de tecido cerebral fetal foram induzidos a se auto-organizar numa estrutura tridimensional e camada, com vários tipos de células, incluindo neurónios e células de suporte, conhecidas como glia radial. A presença da glia radial é particularmente notável, pois são características específicas do ser humano que não são replicadas em modelos de roedores.
Além disso, o organóide cerebral continuou a responder a alguns dos mesmos sinais químicos de um cérebro vivo, permanecendo ativo por mais de seis meses – um período significativamente mais longo do que os organóides feitos de células-tronco, que raramente ultrapassam 80 dias.
Os investigadores até manipularam geneticamente os seus organóides para se assemelharem a tumores cancerígenos e testaram medicamentos neles.
A equipa atribui o seu sucesso, em parte, às proteínas produzidas pelo tecido cerebral, que criam uma estrutura para que as células cerebrais se auto-organizem numa estrutura tridimensional.
Este novo modelo cerebral derivado de tecido pode ajudar a entender melhor como o cérebro em desenvolvimento regula a identidade das células e potencialmente dar mais pistas para nos ajudar a combater doenças neurodesenvolvimentais como a microcefalia ou o cancro cerebral infantil.