A mineração em alto mar é uma ameaça para a conservação de espécies em vias de extinção. Esta prática pode exterminar espécies que acabamos de descobrir.
As fontes hidrotermais do fundo do mar abrigam algumas das espécies mais extraordinárias do nosso planeta. Situadas a dois ou três quilómetros abaixo da superfície, esses ecossistemas extremos e insulares são alimentados, não pela fotossíntese conduzida pela luz do sol a que estamos acostumados, mas pela energia da água do mar sobreaquecida e rica em minerais.
Isto dá suporte a comunidades animais prósperas e únicas, com uma densidade de vida que rivaliza com as florestas tropicais ou recifes de coral. Essas espécies já foram consideradas intocáveis pela atividade humana, mas isso pode não ser o caso durante muito mais tempo.
Há um crescente interesse industrial nas profundezas do mar. Mais importante, isso inclui a mineração de metais como cobre, chumbo e zinco, que formam as altas estruturas de ventilação hidrotérmica.
A Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos, o órgão da ONU responsável pela gestão do fundo do mar além das jurisdições nacionais, já concedeu 31 contratos de mineração exploratória em alto mar, sete deles em fontes hidrotermais.
Ainda não está claro exatamente como é que essas enormes máquinas de mineração vão afetar o fundo do mar. Mas não há razão para esperar que seja mais ecológico do que a mineração em terra.
No mínimo, a mineração irá destruir habitats e libertar plumas de sedimentos tóxicos. Por isso, os cientistas concordam que não é uma boa notícia para as criaturas do fundo do mar.
Com estas preocupações crescentes, cientistas viram a necessidade de uma abordagem simples, mas eficaz, para ajudar a identificar as prioridades de conservação e comunicar claramente a ameaça da mineração.
A escolha óbvia era colaborar com a principal autoridade de conservação do mundo, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), que publica a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas.
Os investigadores aplicaram os critérios da Lista Vermelha a todas as 184 espécies de moluscos das fontes hidrotermais (caracóis, bivalves e assim por diante).
Assim, descobriram que quase dois terços estão ameaçados de extinção pela mineração em alto mar, com mais de 20% listados como criticamente em perigo. As descobertas agora fazem parte oficialmente da Lista Vermelha atualizada.
Uma espécie, o caracol dragão (Dracogyra subfusca), só é conhecida a partir de uma única fonte hidrotermal do tamanho de dois campos de futebol no Oceano Índico. Esta área do fundo do mar está sob um dos contratos de mineração da fase de exploração acordados pela Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos e, como resultado, o caracol dragão, uma espécie descoberta apenas em 2017, é agora considerada em perigo crítico.
Um ecossistema sob ameaça
Estes moluscos são provavelmente representativos de todo um ecossistema ameaçado. Não é novidade que, uma vez que a mineração é a única razão pela qual estes animais estão listados como ameaçados, quaisquer outros grupos de espécies avaliados sob os mesmos critérios da Lista Vermelha enfrentariam os mesmos níveis de risco de extinção.
As fontes hidrotermais não são o único alvo da indústria de mineração em alto mar. Há contratos para minerar pedaços de metal do tamanho de batatas encontrados espalhados no fundo do mar e as crostas ricas em cobalto das montanhas subaquáticas. Ambos os ecossistemas são o lar de uma série de espécies únicas que podem levar de décadas a milénios para recuperar de qualquer impacto humano.
Porque é que tudo isto importa? A mineração em alto mar e a sua sustentabilidade é uma questão global — o fundo do mar deve ser o “património comum da humanidade”, conforme definido pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, mas é fácil esquecer o alto mar e as suas muitas maravilhas.
ZAP // The Conversation