Apesar de terem estado apenas um dia no Monte de Santa Helena, os efeitos dos roedores na recuperação da biodiversidade ainda são notados hoje.
Quarenta anos após a erupção devastadora do Monte St. Helens, uma introdução experimental de toupeiras demonstrou efeitos profundos e duradouros na recuperação dos ecossistemas locais.
A iniciativa, concebida para restaurar a saúde do solo e promover o crescimento das plantas, demonstra como mesmo pequenas intervenções podem produzir benefícios ecológicos a longo prazo.
A erupção de 1980 destruiu toda a vida em quilómetros, deixando a terra estéril e coberta de cinzas e pedra-pomes. Em 1982, os cientistas levantaram a hipótese de que as toupeiras, muitas vezes vistos como pragas, poderiam ajudar na recuperação, trazendo para a superfície o solo enterrado, rico em bactérias e fungos.
Uma investigação recentemente publicada na revista Frontiers in Microbiomes sublinha que a breve presença dos esquilos continua a influenciar a composição microbiana destas parcelas quatro décadas mais tarde.
Esta ideia foi testada com a introdução de exemplares de toupeira-gopher-do-norte (Thomomys talpoides), uma espécie de roedores locais, em duas parcelas cobertas de pedra-pomes durante apenas 24 horas.
“Pensámos que eles pegariam em solo velho, movê-lo-iam para a superfície e seria aí que a recuperação ocorreria”, explica Michael Allen, microbiologista da UC Riverside e coautor do estudo. Os resultados foram transformadores.
Em 1989, estas parcelas, outrora sem vida, suportavam 40.000 plantas, enquanto as áreas intocadas permaneciam maioritariamente estéreis.
A chave para esta recuperação foram as comunidades microbianas do solo, particularmente os fungos micorrízicos.
Estes fungos estabelecem relações simbióticas com as raízes das plantas, facilitando a absorção de nutrientes e água e proporcionando resistência contra agentes patogénicos. Sem estes aliados microscópicos, a maioria das plantas tem dificuldade em estabelecer-se em ambientes pobres em nutrientes.
As áreas introduzidas apresentam maior biodiversidade e resiliência em comparação com as regiões próximas onde os esquilos estavam ausentes, explica o SciTech Daily.
O estudo também examinou a forma como a atividade microbiana influenciou o crescimento de plantas em dois ambientes florestais contrastantes. Em florestas antigas cobertas por cinzas vulcânicas, os fungos micorrízicos ajudaram as árvores a crescer rapidamente, reciclando os nutrientes das agulhas caídas.
Em contraste, uma floresta de corte raso próxima – desprovida de árvores e de fungos do solo – permanece em grande parte estéril, sublinhando o papel crítico das redes microbianas subterrâneas na recuperação ecológica.
A autora principal do estudo, Mia Maltz, salienta a importância de reconhecer a interdependência dos componentes visíveis e invisíveis dos ecossistemas. “Não podemos ignorar o papel dos micróbios e dos fungos para ajudar os ecossistemas a recuperar de catástrofes”, afirmou.