Cientistas já testaram com sucesso em laboratório que a microgravidade inibe o crescimento de tumores. Agora, os investigadores querem testar em órbita.
Onde quer que esteja, Stephen Hawking permanece presente na ciência, e os seus mais recentes conselhos devem render uma descoberta para lá de impressionante (e revolucionária). Em conversa com um investigador australiano, Hawking falou sobre como nada no universo é capaz de desafiar a gravidade.
Depois do diagnóstico de um amigo com cancro, Joshua Choi, professor na Universidade de Sydney, relembrou a conversa e questionou-se: “O que aconteceria com as células cancerígenas se as tirássemos da gravidade?”.
Agora, a sua equipa vai enviar células cancerígenas para dar uma ‘voltinha’ pela órbita da Terra, na tentativa de comprovar que elas não se desenvolvem na microgravidade — como já demonstraram em testes feitos em laboratório.
Viagens espaciais acarretam uma série de riscos. Afinal de contas, o astronauta é exposto, de maneira mais intensa, à radiação solar e aos raios cósmicos, além dos efeitos que a microgravidade pode causar no corpo humano — que vão desde degeneração muscular e óssea, passando pela diminuição da função dos órgãos, da visão e até alterações a nível genético.
Curiosamente, há alguns benefícios médicos potenciais da microgravidade. Para entender o funcionamento das células cancerígenas, Choi e a sua equipa de investigação vão levar a sua experiência para a Estação Espacial Internacional (ISS) para testar como é que tumores se desenvolvem fora da gravidade terrestre.
Em investigações iniciais, Choi percebeu que o ambiente espacial afeta a compreensão da biologia celular e a progressão de doenças. Aliás, já testou em laboratório os efeitos da microgravidade em células cancerígenas.
Choi, descobriu que, “quando colocadas num ambiente de microgravidade, 80% a 90% das células nos quatro tipos diferentes de cancro testados — ovário, mama, nariz e pulmão — foram desativadas.” Isto significa que as células morrem porque não conseguiram sobreviver à gravidade mínima. Além disso, estes quatro tipos de cancro testados são alguns dos mais difíceis de controlar.
O mais impressionante dos resultados iniciais é o facto de que foram obtidos apenas ao alterar as forças gravitacionais, sem a ajuda de medicamentos. Quando submetidas a condições de microgravidade, as células cancerígenas tinham muita dificuldade em unir-se e não conseguiram desenvolver tumores.
No início de 2020, a equipa iniciará uma nova etapa dos estudos e vai enviar células cancerígenas para a ISS durante 7 dias. No fim, as células serão congeladas para a viagem de volta à Terra, para os investigadores analisarem o material à procura de alterações genéticas.
Caso os resultados confirmem a tese de que as células cancerígenas não se multiplicam na microgravidade, Choi espera desenvolver novos tratamentos que possam ter o mesmo efeito de neutralizar a capacidade de se conectarem.
Longe de uma cura, as novas terapias poderiam auxiliar os tratamentos médicos contra o cancro existentes. Combinada com a medicação atual e a quimioterapia, a investigação poderá reduzir com bastante êxito a propagação do cancro no corpo humano.
ZAP // Canaltech