Microfóssil com 635 milhões de anos pode ter ajudado a descongelar a “Terra bola de neve”

(dr) Andrew Czaja

Imagem do microfóssil encontrado na Formação Doushantuo, no sul da China

Uma equipa internacional de cientistas descobriu acidentalmente, no sul da China, o fóssil terrestre mais antigo já alguma vez encontrado, sendo cerca de três vezes mais velho do que o mais antigo fóssil de dinossauro.

De acordo com o site Science Alert, a investigação ainda se encontra em curso e as suas observações terão ainda de ser verificadas, mas os investigadores argumentam que os “dedos” longos e finos deste organismo se parecem muito com fungos.

Seja o que for, este eucariota parece ter-se fossilizado há cerca de 635 milhões de anos, exatamente quando o nosso planeta estava a recuperar de uma era glacial global. Nesta época, a Terra parecia uma grande bola de neve e, então, numa espécie de “flash” geológico, o mundo começou a descongelar de forma inexplicável, permitindo que a vida prosperasse na terra pela primeira vez.

Os fungos podem ter sido uma das primeiras formas de vida a colonizar este espaço. E a data deste novo microfóssil apoia a ideia emergente de que alguns organismos semelhantes trocaram os oceanos por uma vida na terra mesmo antes das plantas. Na verdade, essa transição pode até ter sido o que ajudou o nosso planeta a recuperar-se desta idade do gelo catastrófica.

“Se a nossa interpretação estiver correta, será útil para compreender as mudanças paleoclimáticas e a evolução da vida inicial”, disse a geobióloga Tian Gan, da Faculdade de Ciências da Virginia Tech, nos Estados Unidos, e uma das autoras do estudo publicado, a 28 de janeiro, na revista científica Nature Communications.

A evolução inicial dos fungos continua a ser um grande mistério, em grande parte porque, sem ossos ou conchas, estes organismos não se fossilizam facilmente. O genoma dos fungos modernos sugere que o seu ancestral comum viveu há mais de mil milhões de anos, mas, infelizmente, pode haver um intervalo de 600 milhões de anos antes de o primeiro fóssil aparecer nos nossos registos.

Nos últimos anos, uma série de descobertas intrigantes ajudaram a preencher essa lacuna, mas a controvérsia sobre se esses organismos antigos eram ou não fungos ainda existe. E este novo microfóssil irá de certeza gerar um debate semelhante.

“Gostaríamos de deixar as coisas em aberto para outras possibilidades, como parte da nossa investigação científica. A melhor forma de o dizer é que talvez não desaprovemos que sejam fungos, mas são a melhor interpretação que temos neste momento”, declarou Shuhai Xiao, professor de Geobiologia da mesma universidade norte-americana e outro dos autores do estudo.

“A pergunta costumava ser: ‘Havia fungos no reino terrestre antes do surgimento das plantas terrestres?’. O nosso estudo sugere que sim“, acrescentou Xiao. Então, a pergunta que agora se coloca é: Como é que este fungo sobreviveu?

O microfóssil foi encontrado escondido dentro de pequenas cavidades de rochas calcárias e dolomitas, localizadas na Formação Doushantuo, no sul da China. A rocha em questão parece ter sido depositada depois de a “Terra versão bola de neve” ter derretido.

Uma vez aberta a todos os elementos, os investigadores suspeitam que o cimento carbonático começou a preencher as cavidades entre as camadas de calcário, possivelmente sepultando os micro-organismos que viviam dentro dessas bolhas.

Segundo o mesmo site, essas formas de vida semelhantes a fungos podem até mesmo ter-se aliado a outros micro-organismos terrestres, que também eram comuns naquela época, como cianobactérias ou algas verdes.

Em terra, podem até ter ajudado a desenterrar minerais de argila para sequestro de carbono no solo do nosso planeta, tornando o ambiente fértil para plantas e animais e possivelmente mudando a própria atmosfera.

“Assim, estes micro-organismos semelhantes a fungos de Doushantuo, por mais enigmáticos que fossem, podem ter desempenhado um papel na catalisação da oxigenação atmosférica e da evolução biosférica no rescaldo da glaciação global do Criogeniano”, concluem os autores.

ZAP //

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