O mel produzido por uma espécie de formiga da Austrália tem propriedades antimicrobianas que poderão conduzir a novos tratamentos contra algumas infeções bacterianas e fúngicas.
Esta espécie de formiga chama-se formiga pote-de-mel, Camponotus inflatus, e encontra-se nas regiões áridas do centro e oeste da Austrália.
Segundo o NewScientist, as suas colónias são constituídas por formigas trabalhadoras normais e por um grupo especializado, as chamadas repletes.
As repletes recolhem o néctar que colocam nos seus abdómens estendidos, dando-lhes a tonalidade âmbar e vítrea.
Andrew Dong, da Universidade de Sydney, na Austrália, explica que “são basicamente os recipientes de retenção do néctar que é trazido”.
De acordo com Danny Ulrich, um indígena australiano que ajudou os investigadores, durante milhares de anos, este povo ingeriu este mel e usou-o para tratar dores de garganta, feridas e úlceras de pele.
Numa experiência de laboratório, Dong e os seus colegas expuseram uma série de agentes patogénicos bacterianos e fúngicos a diferentes doses de mel.
Descobriram que uma solução aquosa composta por 8% de mel matou a bactéria Staphylococcus aureus — uma das principais causas de infeções da pele e dos tecidos moles, que também pode levar à pneumonia ou penetrar no sangue, nos ossos ou nas articulações.
A uma concentração de 16%, o mel matou algumas espécies de fungos, como o Aspergillus fumigatus e o Cryptococcus deuterogattii, que podem causar complicações médicas graves.
Quando os investigadores compararam o mel de formiga com tipos de mel de abelha, com propriedades antimicrobianas conhecidas como o Manuka, o mel de formiga matou uma gama mais restrita de bactérias e fungos.
Por exemplo, foi ineficaz contra fungos como a Candida albicans, que pode causar aftas, e bactérias como a Escherichia coli, uma causa de intoxicação alimentar. O mel de Manuka e outros tipos de mel de abelha matam estes dois agentes patogénicos.
A maior parte do mel produzido pelas abelhas contém peróxido de hidrogénio, que se pensa ser a fonte das suas propriedades antimicrobianas.
Kenya Fernandes, membro da equipa da Universidade de Sydney, explica que mel de formiga contém muito menos desta molécula, o que sugere que tem algo de quimicamente único.
“A nossa hipótese é que se trata, muito provavelmente, de um péptido antimicrobiano produzido pelas formigas”.
O mel de formiga é raro e culturalmente significativo para os indígenas australianos. Por conseguinte, é pouco provável que venha a ser utilizado diretamente em medicamentos, de acordo com Fernandes.
A equipa espera identificar os compostos ativos do mel para que estes possam um dia ser replicados no desenvolvimento de novos tratamentos.