ONU alerta para baixos níveis de monitorização da qualidade da água e progresso insuficiente na gestão dos recursos hídricos em mais de 100 países.
Em metade dos países do mundo, pelo menos um tipo de ecossistema de água doce, como rios, lagos e aquíferos, está degradado, constatou a Organização das Nações Unidas (ONU).
O fluxo dos rios diminuiu significativamente, cursos de água superficiais estão a encolher ou a desaparecer, a poluição da água ambiente está a aumentar e a gestão da água está fora de controlo.
Estas são algumas das conclusões de três relatórios publicados pela ONU-Água e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Pnuma, que acompanham o progresso em relação aos ecossistemas de água doce.
Degradação generalizada
Cerca de 90 países, principalmente em África, Ásia Central e Sudeste Asiático, estão a enfrentar a degradação dos ecossistemas de água doce. Noutras regiões, como a Oceania, há melhorias.
A alteração destes ecossistemas é agravada por fatores como poluição, construção de barragens, conversão de terras, extração excessiva e alterações climáticas.
Influenciados pelo uso do solo e pelas alterações climáticas, o fluxo dos rios diminuiu em 402 bacias hidrográficas em todo o mundo, um aumento de cinco vezes desde 2000. Num número muito menor de bacias, o fluxo dos rios aumentou.
A perda de manguezais devido a atividades humanas, como aquicultura e agricultura, representa um risco para as comunidades costeiras, recursos de água doce, biodiversidade e clima, devido às suas propriedades de filtração de água e absorção de carbono.
Lagos e manguezais
Foram relatadas diminuições significativas de mangais no Sudeste Asiático, embora a taxa geral de desflorestação tenha estabilizado na última década.
Lagos e outros corpos de água superficiais estão a encolher ou a desaparecer completamente em 364 bacias hidrográficas ao redor do mundo.
O alto nível contínuo de partículas e nutrientes em muitos grandes lagos pode levar à proliferação de algas e águas com baixo teor de oxigénio, causadas principalmente por desflorestação e urbanização, além de eventos climáticos específicos.
Apesar disso, a construção de reservatórios contribui para um ganho líquido global de água permanente, principalmente em regiões como América do Norte, Europa e Ásia.
Baixos níveis de monitorização da qualidade da água
A metade mais pobre do mundo contribui com menos de 3% dos dados globais de qualidade da água, incluindo apenas 4,5 mil medições da qualidade dos lagos de um total de quase 250 mil. Segundo o Pnuma, estes dados revelam uma necessidade urgente de melhorar a capacidade de monitorização.
A falta de dados em larga escala significa que, até 2030, mais de metade da humanidade viverá em países que não possuem dados adequados sobre a qualidade da água para tomar decisões de gestão relacionadas com a seca, cheias, impactos de efluentes de esgoto e escoamento agrícola.
Onde há bons dados disponíveis, observa-se que a qualidade da água doce tem vindo a degradar-se desde 2017. Onde faltam dados, os sinais não são promissores.
Os autores do relatório recomendam a expansão e o desenvolvimento de programas de monitorização financiados pelo governo, bem como a incorporação da ciência cidadã nestes programas nacionais, além de explorar o potencial da observação terrestre por satélite e produtos de dados modelados para ajudar a preencher a lacuna de dados.
Progresso insuficiente na gestão dos recursos hídricos em mais de 100 países
Equilibrar as necessidades concorrentes para o uso sustentável da água pela sociedade e pela economia requer a implementação da gestão integrada dos recursos hídricos, Iwrm, em todos os sectores, níveis e fronteiras até 2030.
Quarenta e sete países já alcançaram ou estão próximos de alcançar a Iwrm. Outros 63 países precisam de acelerar a implementação, enquanto 73 países têm capacidade limitada para a IWRM. Ao ritmo actual de progresso reportado, o mundo só alcançará a gestão sustentável da água em 2049.
Isto significa que, até 2030, pelo menos 3,3 mil milhões de pessoas em mais de 100 países provavelmente terão estruturas de governação ineficazes para equilibrar as demandas concorrentes de água.
As soluções incluem desbloquear financiamento através de arrecadação de receitas e acordos de recuperação de custos, investimentos em infraestruturas e gestão, bem como ação coordenada, maior capacidade institucional e melhores redes de monitorização.
// ONU News