O congressista tomou posse no dia 3 de Janeiro, mas já está envolvido em imensos escândalos devido à sua longa lista de mentiras e historial criminoso.
George Santos chamou pela primeira vez à atenção por ser o primeiro representante Republicano que venceu uma eleição sendo abertamente homossexual. Mas nos últimos dias, este congressista estreante com raízes brasileiras tem estado nas notícias por outros motivos, depois de uma investigação do The New York Times ter desvendado uma enorme teia de mentiras no seu currículo.
As mentiras vão até além do seu percurso profissional e até abrangem a sua vida profissional, como relata a New York Magazine.
Avós perseguidos no Holocausto
Uma das mais notórias é a sua alegação de que os seus avós eram judeus e foram perseguidos durante o Holocausto, tendo sobrevivido.
De acordo com registos genealógicos consultados pela CNN, não há sinais de que a sua família fugido aos nazis. “Não há sinais de antepassados judeus ou ucranianos e nenhum indício de mudanças de nomes com o passar dos anos”, explicou a genealogista Megan Smolenyak. Os registos mostram antes que os avós maternos de Santos nasceram no Brasil.
Apesar de alegar ter ascendência judaica, o congressista publicou várias vezes rezas cristãs nas redes sociais. A confusão, de acordo com Santos, deve-se a uma interpretação diferente das palavras — o congressista nunca disse ser judeu (jewish), mas antes que era “mais ou menos judeu” (jew-ish).
Mãe que terá morrido devido ao 11 de Setembro
O Holocausto não é o único evento histórico que se viu embrulhado no meio das mentiras de George Santos. O congressista esccreveu no Twitter, a 21 de Julho de 2021, que o ataque às Torres Gémeas “tirou a vida à minha mãe“.
No entanto, o Republicano disse a 23 de Dezembro do mesmo ano que se assinalavam cinco anos desde a morte da mãe, o que indica que não morreu no próprio dia do atentado.
No site da sua campanha, Santos refere que a mãe trabalhava na Torre Sul e que estava presente na altura do ataque, tendo “morrido alguns anos mais tarde quando perdeu a sua batalha contra o cancro“.
Não há registos de que a mãe de Santos tenha sofrido problemas de saúde causados pelos destroços tóxicos do 11 de Setembro e também não há provas de que estivesse presente nas torres ou que tivesse um emprego num dos edifícios.
O tiroteio numa discoteca gay em Orlando em 2016 também foi arrastado para a teia de falsidades de Santos. Numa entrevista após ser eleito, o congressista alegou que quatro dos seus funcionários morreram na tragédia, mas nenhuma das 49 vítimas mortais trabalharam em qualquer das empresas que refere nas suas biografias.
Mentiras sobre educação e passado profissional
O congressista também mentiu sobre a sua educação, alegando ter estudado na prestigiada Horace Mann School durante os primeiros anos do secundário, mas tendo depois de sair porque os seus pais estavam a atravessar dificuldades financeiras. No entanto, um porta-voz da escola revelou à CNN que não há registos de que Santos lá tenha estudado.
Santos também alegou que se formou em Economia e Finanças da Universidade na Universidade de Baruch em 2010, o que sugere que concluiu um curso que supostamente dura quatro anos em apenas dois, dada a cronologia de quando estudou no secundário. Mais uma vez, não havia registos que mostrassem isto e Santos mais tarde admitiu que não tem qualquer formação superior.
Durante a campanha, o congressista também disse que trabalhou na Goldman Sachs e no Citigroup, mas os representantes de ambas as empresas já o desmentiram.
Outra das suas mentiras refere-se a uma suposta fundação de caridade que Santos terá criado para resgatar cães e gatos. A campanha alegava que salvou 2500 animais entre 2013 e 2018, mas não existem declarações de impostos ou contas nas redes sociais da organização.
Em 2017, esta instituição-fantasma de Santos organizou um peditório conjunto com uma outra instituição de caridade de Nova Jérsia, tendo cobrado 50 dólares pela entrada no evento. O outro grupo alega que nunca recebeu a sua parte dos fundos angariados e que Santos apresentou muitas desculpas para não lhes dar o dinheiro.
Casamento sem registo?
Santos também disse ser casado com o homem e que o casal vive em Long Island. No entanto, o seu marido nunca foi visto consigo durante a campanha e o Daily Beast não encontrou um registo do seu casamento em Nova Iorque. Quando chegou à Câmara dos Representantes, o recém-eleito congressista também não tinha aliança.
Tudo isto tem levantado questões sobre se o seu casamento é verídico e até sobre se Santos é mesmo homossexual, já que se divorciou de uma mulher em Queens em 2019. “Sou gay. Estou confortável com a minha sexualidade. As pessoas mudam. Sou uma dessas pessoas que muda”, esclareceu em Dezembro.
Problemas políticos e com a justiça
Todas estas revelações deixaram George Santos em maus lençóis. Apesar de apenas ter tomado posse no dia 3, o congressista já está a ser alvo de várias investigações.
Daniel Goldman e Ritchie Torres, ambos Democratas também de Nova Iorque, apresentaram uma queixa oficial esta terça-feira ao Comité de Ética da Câmara dos Representantes, pedindo que investigue se Santos quebrou a lei e mentiu nos registos financeiros que os representantes são obrigados a entregar.
As mentiras de Santos estão também a ser averiguadas pelo procurador-geral de Nassau, pelo gabinete da procuradora-geral do estado de Nova Iorque e por procuradores federais, com um foco especial nas suas finanças pessoais e na origem da sua fortuna.
Poucos dias depois de tomar posse, a organização sens fins lucrativos Campaign Legal Center também apresentou uma queixa à Comissão Federal de Eleições, acusando Santos de violar a lei e desviar fundos da campanha para as suas despesas pessoais, como a renda.
Em 2008, quando tinha 19 anos e vivia no Brasil, George Santos também foi acusado de roubar um livro de cheques a um homem de quem a sua mãe cuidava e de ter lucrado 700 dólares com cheques fraudulentos. A investigação foi agora reaberta, visto que as autoridades brasileiras sabem agora do paradeiro de Santos.
Apesar de todos estes escândalos, Santos recusa demitir-se. “Não sou uma fraude. Não sou um criminoso que defraudou o país inteiro e inventou esse personagem fictício e concorreu ao Congresso”, revelou à rádio WABC depois de tudo ter sido descoberto.
A polémica também não o vai “impedir de ter um bom sucesso legislativo”. “Serei eficaz. Serei bom… Pretendo cumprir as promessas que fiz durante a campanha”, garantiu ao New York Post.
Não é só em Portugal que fruta podre chega a cargos de poder antes de ser descoberta!…