Cônjuges adúlteros, doenças venéreas e demónios preenchem as páginas de dois recém-digitalizados livros astrológicos com 400 anos de idade.
Os livros pertenceram ao astuto astrólogo e curandeiro Simon Forman, que viveu entre 1552 e 1611 na Inglaterra, e o seu protegido, Richard Napier. Forman e Napier eram astrólogos, um papel que incluía a prestação de cuidados de saúde no início do período moderno.
“Entendeu-se que os movimentos celestes influenciavam as vidas humanas e corpos através de raios ocultos, assim como aceitamos que a lua afeta as marés”, disse Lauren Kassell, historiadora da Universidade de Cambridge, num artigo que acompanha a publicação online. “Astrólogos como Forman entenderam como as forças funcionavam.”
Os indivíduos ofereciam curas aos aflitos que podiam variar de sangria a “chinelos de pombo” – ou um pombo inteiro com um fenda aberta usado em cada pé.
Forman nasceu em Wiltshire e estudou astrologia e medicina na Universidade de Oxford. Sobreviveu à peste em 1592, o que reforçou a sua reputação como curandeiro. Seis anos de anotações do caso de Forman, tomadas entre 1596 e 1603, sobreviveram. Agora, todas as notas, constituindo 80 mil casos, estão disponíveis online.
Os livros são pesquisáveis por data, praticante, sintomas do paciente e outros fatores, alguns relacionados aos traços de personalidade mais desagradáveis de Forman – como a tendência de se envolver com os seus pacientes.
Forman era um narcisista desagradável, disse Kassell ao Live Science. O astrólogo frequentemente tentava seduzir os seus pacientes e pouco do seu trabalho resiste às noções modernas de ética médica.
Mas as anotações são um tesouro de informações sobre as preocupações médicas e pessoais típicas da época. Alguns são trágicos, como é o caso de Alice Woodward, de 38 anos, de Stoke Hammond, que Napier atendeu devido à sua oitava gravidez. Todas as gravidezes prévias de Woodward, com exceção de uma, tinham terminado em nado-mortos ela temia a feitiçaria.
Outros casos apresentam contos sórdidos. John Wilkingson, de 28 anos, de Olney, veio a Napier com um caso de gonorreia, que o homem passou a uma mulher casada. Wilkingson, descrito por Napier como “uma pessoa imunda”, também urinava sangue urinar devido a uma lesão na uretra.
As doenças venéreas também pareciam estar difundidas, com muitos casos falando sobre o que foi chamado de “doença francesa”, de acordo com a BBC. Um paciente que sofria de “varíola, com furúnculos e comichão” foi prescrito uma combinação incluindo rosas, violetas, caranguejos cozidos e fezes de veado.
Forman e Napier consultaram mapas astrológicos em busca de respostas para os seus pacientes e também prescreviam “tratamentos” no momento. De acordo com o arquivo, a sangria era uma opção comum, embora o par também prescrevesse remédios à base de plantas, incluindo o tabaco.
Alguns tratamentos eram particularmente desagradáveis, incluindo a ingestão do crânio em pó de um homem morto ou o toque da mão de um homem morto. Em vários casos, os astrólogos recomendaram que a pessoa afligida cortasse os corpos de dois pombos e usasse as carcaças em cada pé. Muitos dos tratamentos eram tóxicos, incluindo compostos que continham mercúrio.
Muitas das doenças trazidas a Napier e Forman não eram físicas, mas mentais. Em 168 casos, os pacientes eram suicidas ou tinham morrido por suicídio. Às vezes, os problemas eram atribuídos a bruxaria ou demónios.
Forman foi banido da prática médica pela Companhia de Cirurgiões-barbeiros e fez algumas passagens na prisão por negligência médica antes de recuperar a licença para praticar medicina na Universidade de Cambridge. Morreu em 1611, deixando para trás uma série de anotações rabiscadas.