Austrália. Diretora de grupo de media denuncia cobertura “irresponsável e perigosa” dos fogos e demite-se

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Sean Davey / EPA

A diretora comercial da News Corp acusou o grupo media de estar a fazer uma “campanha de desinformação” em relação aos fogos na Austrália. Responsável do grupo já reagiu, negando as acusações.

A diretora comercial da News Corp, do magnata Rupert Murdoch, demitiu-se esta sexta-feira, após ter acusado o grupo media de estar a fazer uma “campanha de desinformação”, que classifica como “irresponsável e perigosa”, em relação aos fogos que têm devastado a Austrália.

Num email dirigido ao responsável do grupo, Michael Miller, e que foi divulgado pelo jornal Sydney Morning Gerald, Emily Townsend afirmou que a ansiedade e desapontamento que tem sentido estão inclusive a afetar a sua capacidade de concentração no trabalho. O responsável do grupo discordou da opinião da diretora e defendeu a empresa.

“Tenho sido severamente afetada pela cobertura das publicações da News Corp relativamente aos fogos, especialmente pela campanha de informação falsa que tem tentado desviar a atenção da questão real das alterações climáticas, focando ao invés disso os fogos postos (incluindo factos deturpados)”, escreveu no email.

O email, divulgado pela imprensa australiana, foi removido dos servidores do correio da News Corp uma hora depois de ter sido enviado.

Acho inconcebível continuar a trabalhar para esta empresa, sabendo que estou a contribuir para a disseminação de negações e mentiras sobre as alterações climáticas”, lamentou Townsend, acrescentando: “A cobertura que testemunhei no The Australian, The Daily Telegraph e Herald Sun não são apenas irresponsáveis, mas perigosos e prejudiciais para as nossas comunidades e o belo planeta que precisa que reconheçamos, mais do que nunca, a destruição que causámos e comecemos a fazer algo a respeito disso”.

Após a divulgação do email, Emily Townsend, em declarações ao jornal australiano, manteve a sua posição, acrescentando que se sentiu obrigada a enviar o email a todos os funcionários.

“Mantenho tudo o que eu disse no email. Sinto-me doente, não porque o email foi divulgado, mas porque tenho contribuído para esse engano ao continuar a trabalhar para esta organização. Não tenho conseguido dormir, isto tem ocupado o meu pensamento; é de uma falta de consciência o que esta empresa tem feito quando se trata do tema das alterações climáticas”, lamentou a diretora comercial.

Já Michael Miller, contactado pelo mesmo jornal, manteve-se do lado da News Corp, dizendo que apesar de respeitar o ponto de vista de Townsend não concorda com ele.

“A News Corp apoia a sua cobertura dos incêndios florestais. A dedicação e profissionalismo dos nossos jornalistas e fotógrafos tem mantido a comunidade — particularmente os australianos afetados diretamente — informada e apoiada. Nós respeitamos o direito de a Sra. Townsend defender sua opinião, mas não concordamos com ela”, disse Miller, acrescentando que “contrariamente ao que alguns críticos argumentam, a News Corp não nega as mudanças climáticas ou a gravidade desta ameaça”.

Do ponto de vista da organização, o responsável do grupo explica que os órgãos de comunicação detidos pela News Corp cumprem o seu “papel tradicional”, relatando “uma variedade de pontos de vista e opiniões sobre este assunto e muitos outros que são importantes no discurso público sobre os incêndios”.

A cobertura dos incêndios por parte da empresa do magnata Rupert Murdoch tem despertado interesse internacional nos últimos dias. Esta semana, o New York Times escreveu um artigo sobre a News Corp e a cobertura dos incêndios feita por esta, mencionando alegações exageradas de incêndios criminosos.

Polícia nega mão criminosa

A polícia do estado australiano de Victoria afirmou esta sexta-feira não existir qualquer prova de origem criminosa nos incêndios que estão a devastar o país, ao contrário de notícias divulgadas por jornais conservadores.

Uma porta-voz da polícia negou que 183 pessoas tinham sido detidas por provocar os incêndios das últimas semanas, informação divulgada por jornais da News Corp de Rupert Murdoch, de acordo com a imprensa australiana.

Não há qualquer indício de que os maiores fogos tenham sido causados por mão criminosa”, disse, sobre a informação usada em várias publicações em redes sociais.

A mesma fonte policial explicou que as notícias usaram estatísticas anuais, em alguns casos relativas a um período que terminou em setembro de 2019, “muito antes dos atuais fogos”.

A mesma informação foi confirmada pela polícia em Queensland, que negou as mais de 100 alegadas detenções no estado. A polícia de Queensland afirmou que o número abrange um período muito maior do que os atuais fogos e inclui casos em que não houve fogos postos, mas violações de proibição total de fogo.

Já em Nova Gales do Sul, a polícia confirmou a detenção de 24 pessoas por provocarem deliberadamente incêndios, tendo o serviço de incêndios florestais local confirmado que os maiores fogos foram desencadeados por trovoadas em conjugação com a seca.

Não há ainda um número total de detidos por provocar fogos nas últimas semanas.

// Lusa

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