O mau tempo que continua a sentir-se em Portugal levou à suspensão da circulação de comboios na Linha do Norte que liga Lisboa ao Porto. O IP3 foi está cortado em ambos os sentidos no nó do IC2, em Coimbra, e o rio Mondego está a ameaçar várias localidades da zona.
O município de Montemor-o-Velho, na zona do Baixo Mondego, accionou neste sábado o Plano Municipal de Emergência e Protecção Civil devido ao risco muito elevado de cheias.
Em comunicado, a autarquia de Montemor-o-Velho, município tradicionalmente exposto a cheias do rio Mondego, pede “a todos os munícipes que evitem deslocações pelo concelho, principalmente nos locais historicamente mais vulneráveis a alagamentos e inundações rápidas”.
O presidente da Câmara de Montemor-o-Velho, Emílio Torrão, afirmou à Lusa que existe a possibilidade de uma “inundação grave” no concelho.
Situação “muito crítica” em Coimbra
O caudal do rio Mondego no açude-ponte de Coimbra ultrapassou os limites de segurança de 2.000 metros cúbicos por segundo (m3/s) às 09:30 deste sábado, anunciou a autarquia local que classifica a situação de “muito crítica”.
Em comunicado à agência Lusa, a Câmara Municipal de Coimbra, que cita informação da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) enviada à Protecção Civil Municipal, diz que o caudal do rio tem “tendência de subida durante as próximas horas, sendo a situação muito crítica”.
A autarquia adianta que “é expectável uma situação crítica de cheia“, recomendando à população que se mantenha “em estado de permanente alerta e a respeitar todas as indicações das autoridades que estão no terreno e sinalização”.
A possibilidade da situação crítica de cheia decorre, entre outros factores, da albufeira da barragem da Aguieira, a montante de Coimbra, no rio Mondego, estar com 94% da sua capacidade, da barragem das Fronhas, no rio Alva, afluente do Mondego estar “no nível máximo de cheia” e ainda da “intensidade elevada e ausência de monitorização do Rio Ceira”, outro afluente da margem esquerda do Mondego.
Entretanto, o IP3 está cortado em ambos os sentidos no nó do IC2, em Coimbra, conforme fonte da GNR confirmou à TSF. Não há previsões quanto à reabertura do IP3.
Linha do Norte submersa
A circulação de comboios na Linha do Norte foi suspensa devido ao mau tempo, dado que se encontra submersa. Uma fonte oficial da CP – Comboios de Portugal refere à Lusa que, neste momento, não existem condições para se realizarem as viagens de longo curso, pelo que a circulação de comboios (do serviço Intercidades e Alfa Pendular) foi suspensa “até haver condições” para retomar a circulação.
Fonte oficial da Infraestruturas de Portugal (IP) explicou à Lusa que em causa está o troço entre Alfarelos e Ameal Sul, onde a linha ferroviária se “mantém submersa” desde o final de tarde de sexta-feira, devido à subida do nível das águas da Bacia do Mondego.
Descarrilamento de Intercidades em Forno de Algodres
O descarrilamento de um comboio Intercidades na zona de Forno de Algodres, no distrito da Guarda, obrigou à retirada dos passageiros pelos bombeiros, mas não provocou feridos.
O alerta para o “descarrilamento ferroviário” foi dado às 19:47 horas de sexta-feira, envolvendo nas operações de socorro 45 operacionais e 19 viaturas.
Fonte do Comando Distrital de Operações de Socorro da Guarda acrescentou à Lusa que seguiam no comboio, que fazia a ligação entre Fornos de Algodres e Coimbra, entre “50 e 70 passageiros”. O descarrilamento ocorreu entre as estações de Fornos e Gouveia.
De acordo com a Infraestruturas de Portugal (IP), o comboio embateu numa pedra e descarrilou um ‘bogie‘ (equipamento que suporta a instalação dos rodados, eixos e suspensão) da locomotiva.
Devido ao descarrilamento, a circulação na Linha da Beira Alta entre Gouveia e Fornos de Algodres foi interrompida.
Melhoria “significativa” no rio Douro
Na zona mais a norte, o capitão dos portos do Douro e Leixões disse à Lusa que a situação em relação às cheias nas ribeiras do Porto e Gaia é de “melhoria significativa”, devendo a água começar a baixar ao início da tarde.
“Em princípio, da parte da tarde a água vai baixar e não extravasará o leito do rio Douro depois, próximo do final do dia, por volta da meia-noite, irá coincidir novamente o período de maré cheia e aí a água pode eventualmente voltar a aumentar um pouco”, afirmou à Lusa Cruz Martins.
O responsável da Capitania dos portos do Douro e Leixões frisou que “de uma forma geral e face aos dados disponíveis neste momento, a tendência é de melhoria significativa relativamente ao que se passou ontem [sexta-feira] em termos de alagamentos”. “As albufeiras já começam a ter mais alguma capacidade de encaixe de água e isso já permite que não seja necessário fazer descargas de quantidades tão grandes como tem sido necessário fazer até agora”, acrescentou.
Relativamente à costa, o responsável referiu que “está a chegar uma nova depressão, que vai trazer vento forte, com rajadas na ordem dos 40 nós (cerca de 80 quilómetros por hora) e, sobretudo, ondulação forte, na ordem dos sete metros”. Por isso, recomenda à população que “se afaste das zonas dos molhes para não ser surpreendida pela ondulação fruto da depressão bastante cavada que se tem aproximado da costa Norte e que traz bastante força”.
Os distritos do Porto, Viana do Castelo, Aveiro, Coimbra e Braga vão estar até às 12 horas de domingo em aviso vermelho, devido à agitação marítima. O Instituto do Mar e da Atmosfera (IPMA), alerta que as ondas poderão atingir os 15 metros.
Viana do Castelo, Braga e Vila Real vão também estar em aviso vermelho por causa do vento, com rajadas até 140 quilómetros/hora, entre as 18 horas e as 21 horas.
Estão sob aviso laranja os distritos de Bragança, Guarda, Faro, Viseu, Setúbal, Lisboa, Leiria, Beja e Castelo Branco. Para os distritos de Évora, Portalegre e Santarém foi colocado um aviso amarelo (o terceiro mais grave).
Estes avisos do IPMA abrangem o período em que Portugal continental sofre os efeitos de uma nova depressão, denominada Fabien.
Os primeiros efeitos da depressão Fabien chegaram neste sábado, com períodos de chuva persistente e por vezes forte na região Centro, Alto Alentejo e no litoral entre o rio Tejo e o cabo de Sines, até ao final da madrugada; aguaceiros temporariamente intensos no Minho e Douro Litoral até ao meio da tarde; e intensificação do vento, especialmente nas regiões Norte e Centro.
Segundo o IPMA, a depressão Fabien não deverá ter a mesma intensidade da depressão Elsa que, nos últimos dias, provocou milhares de ocorrências e deixou pelo menos dois mortos e um desaparecido.
Num balanço feito pela Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil, os distritos mais afectados pela Elsa são Porto, Viseu, Aveiro, Coimbra, Braga e Lisboa.
ZAP // Lusa