D. Martinho, o rei de Portugal de que provavelmente nunca ouviu falar (e que ia ser padre)

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Vitor Oliveira / Flickr

Túmulo de D. Sancho I

Baptizado como Martinho, D. Sancho I foi obrigado a mudar de nome após uma morte trágica ter alterado a linha de sucessão de D. Afonso Henriques.

Quando alguém lhe pede que diga nomes de reis portugueses, é provável que os primeiros a lhe vir à cabeça sejam João, Afonso ou Pedro — no final de contas, houve seis reis chamados Afonso e João e outros cinco Pedros.

Mas e se lhe dissermos que houve um monarca português chamado Martinho? É provável que não se lembre de ouvir esse nome nas aulas de história, e na realidade, nem era suposto este monarca ter chegado ao trono.

D. Martinho I é, na verdade, D. Sancho I, filho do primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, com D. Mafalda de Saboia. Foi baptizado com este nome por ter nascido a 11 de Novembro de 1154, no dia de S. Martinho, explica a RFM.

Mas Martinho não era o único filho do primeiro rei português e era o mais novo de cinco irmãos. O primogénito era o seu irmão Henrique, que era sete anos mais velho, e deveria assumir o trono após a morte do pai. Entre os dois irmãos, nasceram ainda três filhas: Urraca, Teresa e Mafalda.

Henrique deveria ser rei, as suas irmãs casariam fora para selar alianças importantes com outros reinos e Martinho, que até foi nomeado em honra a um santo, estaria predestinado a uma carreira na Igreja. Era este o plano da família real.

Até que uma tragédia lhes trocou as voltas. O Infante D. Henrique acabou por morrer com apenas 8 anos de idade, desferindo um duro golpe nas pretensões da realeza portuguesa. Afinal, D. Afonso Henriques não teria um sucessor com o nome do seu pai, o Conde D. Henrique, e, caso alguma coisa lhe acontecesse, seria um bebé com poucos meses a assumir a liderança de Portugal, já que os filhos homens tinham sempre prioridade sobre as filhas na linha de sucessão.

O monarca também tinha quase 50 anos, tendo já superado a esperança média de vida da época — D. Afonso Henriques acabou por morrer aos 76 anos, algo quase inédito na altura. A situação não estava famosa para o recém-criado reino independente de Portugal.

Sem outra opção, a família real acabou por optar por usar um outro nome para Martinho quando este assumisse o trono. A escolha recaiu em Sancho, um nome rico em história e tradição nas casas reais hispânicas e considerado mais adequado para um rei do que Martinho.

D. Sancho I, acabou por suceder ao seu pai no trono aquando da morte deste, em 1185. Conquistou o cognome “o Povoador” por ter apostado em povoar locais remotos do reino, em áreas que pertencem hoje a Trás-os-Montes e à Beira Interior, e chegou a fundar a cidade da Guarda em 1199.

Ficou também conhecido por ser um amante das artes e da literatura, tendo publicado vários livros de poemas e apoiado o intercâmbio de estudantes portugueses em universidades no estrangeiro.

Morreu a 26 de março de 1211, com 56 anos, e foi sucedido pelo filho D. Afonso II. O seu túmulo pode ser visitado no Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, tal como o túmulo do seu pai, D. Afonso Henriques.

Adriana Peixoto, ZAP //

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