Com um “mar de divergências” entre PCP e PSD, a única ponte foram as críticas a Costa (e os desejos de Rio de ter “Jerónimos” no PSD)

SIC

Num debate marcado pelas enormes discordâncias entre o PCP e o PSD, os dois partidos só concordam numa coisa: a culpa da crise política foi do PS.

É caso para dizer que com um “mar de divergências” entre comunistas e sociais-democratas, as diferenças nas visões para o país ficaram claras como a água.

Neste que foi o primeiro debate com João Oliveira a representar os comunistas enquanto Jerónimo de Sousa recupera de uma cirurgia, o líder parlamentar aproveitou para desejar uma recuperação rápida ao seu camarada e chutar para canto as conversas sobre a sucessão na liderança.

Rui Rio também deixou votos de boa saúde a Jerónimo e até elogiou a coerência do líder do PCP: “Tomara eu que também houvesse no meu partido gente assim com a coerência de Jerónimo de Sousa”.

Apesar de também elogiar a coerência das propostas do PCP, o líder do PSD já não é tão fã do seu conteúdo, referindo-se várias vezes a um “mar de divergências” entre os dois partidos e afirmando o que toda a gente já sabia – um acordo entre comunistas e sociais-democratas é impossível.

Rio acusou também o PCP de ainda defender as mesmas medidas que propôs em 1975 e disse que não entende porque é que o Bloco se senta à sua esquerda no parlamento após ler os programas dos dois partidos.

O PCP quer sair do Euro. Sair da União Europeia. Dissolver a NATO. Nacionalizar os sectores estratégicos. Restringir o capital estrangeiro”, enumerou. Se Rio quer mais iniciativa privada, reduzir impostos, cortar na dívida e privatizar a TAP, o PCP quer o oposto de tudo isto.

Na calculadora do PSD, todas estas ideias já custam “para cima de 50 mil milhões”, o que levaria “o país à ruína económica” devido a um “modelo económico que a História já demonstrou só levar ao retrocesso”.

João Oliveira não perdeu tempo a lembrar Rio de que estavam a debater os problemas de Portugal quando a boca do líder do PSD lhe “fugiu para o estrangeiro” e começou a falar da Venezuela ou de Cuba.

“Estamos muito confortáveis com o que a Constituição prevê, que é uma economia mista. Como caricaturista, Rui Rio não tem um traço muito fino”, respondeu. As alternativas do PSD também não são alternativas nenhumas, já que Rio não se propõe a solucionar os problemas que o PS não resolveu, acusou o deputado do PCP, nem falou no verdadeiro problema estrutural de Portugal: os baixos salários.

O líder da bancada do PCP aponta os benefícios do aumento geral dos salários, que aumenta a “sustentabilidade da Segurança Social”, garante “melhores pensões no futuro” e também melhora o poder de compra dos trabalhadores já agora.

A crítica principal foi para as medidas fiscais “duvidosas ou que não são para levar a sério”, nomeadamente a proposta do PSD de baixar o IRC. “Se a primeira coisa que decidir fazer for isso, faz mal. Porque fazendo isso assim vai beneficiar sobretudo as grandes empresas e não as MPMES (micro, pequenas e médias empresas)”, notou.

Inimigo do meu inimigo meu amigo é

No meio de tanta discordância, nada como um inimigo comum para os unir e a convergência só apareceu quando o chumbo do Orçamento de Estado veio à baila e PSD e PCP se uniram contra o PS.

Questionado sobre o voto contra dos comunistas e sobre se se arrepende, João Oliveira não perdeu tempo em responder que o PCP não se pode arrepender de algo de que não tiveram culpa e atirou a responsabilidade ao Governo por não ceder a uma única exigência do partido.

“Ninguém tem dúvidas de que o PS estava convencido que teria maioria absoluta e fez tudo para que não houvesse um Orçamento aprovado”, acusou João Oliveira e António Costa já “sabia que o desfecho seria este”.

Rui Rio foi acenando em concordância a também culpou a crise política no PS. “Quando o PS se meteu nas mãos do PCP sabiam perfeitamente qual é a lógica de funcionamento do PCP, um partido coerente. Já sabiam o que iam pedir” Costa “anda a culpar tudo e todos, quando ele é que se entregou” à esquerda. “Foi o PS que se pôs nas mãos do PCP. A culpa é integralmente do Governo”, rematou.

Adriana Peixoto, ZAP //

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