Manuscritos raros da língua Vai permitiram aos antropólogos traçar o processo de evolução dos símbolos usados na escrita

British Library | Wikimedia

Símbolos da língua Vai

Investigadores recorreram a manuscritos presentes em arquivos da Líbia, dos Estados Unidos e na Europa.

Atualmente, a escrita é algo dado como garantido por quase todos os indivíduos face à universalidade dos símbolos usados e pelas crescentes taxas de alfabetização do mundo ocidental. No entanto, a evolução do processo da escrita não deixa de ser algo que intriga os especialistas da área, já que não têm muitos dados sobre os primeiros passos da tecnologia.

Do que é conhecimento comum, a invenção da escrita ocorreu há cinco mil anos no Médio Oriente e tem sofrido readaptações ao longo dos anos. Ainda na atualidade há novos sistemas de escrita a serem criados, nomeadamente na Nigéria e no Senegal. Algo que parece ser claro para os cientistas é o facto de os vários esquemas de linguagens se terem simplificado ao longo dos anos, com os primeiros símbolos a serem representações de figuras do mundo real que foram sendo simplificadas, ainda que abstratas.

Agora, um recém descoberto manuscrito da língua na Libéria, com símbolos Vai, poderá fornecer informações mais extra sobre toda a evolução e ajudar a dar resposta. De facto, um grupo de investigadores do Institute for the Science of Human History de Jena, na Alemanha analisou o documento e sugere, num novo artigo académico, que a escrita rapidamente evolui no sentido de se comprimir para ter uma leitura e escrita mais eficiente.

“A língua Vai da Libéria foi criada do zero em 1834 por oito homens completamente analfabetos que escreveram com tinta feita de bagas esmagadas”, descreveu Piers Kelly, o principal autor da investigação, atualmente docente da University of New England, na Austrália. Tal como nota o site Eureka Alert, a língua Vai nunca tinha sido transposta para a escrita anteriormente.

Segundo Bai Leesor Sherman, professor de Vai, a língua foi sempre ensinada informalmente e partiu do ensino de um professor para um único estudante aprendiz. O seu sucesso, no entanto, prolonga-se até aos dias de hoje, ao ponto de ser usada para transmitir mensagens relacionadas com a saúde durante a pandemia. “Devido ao seu isolamento, e pela maneira como continuou a evoluir até ao presente, pensámos que esta língua nos podia contar algo importante sobre como a escrita evolui durante períodos curtos de tempo.”

Para chegar a conclusões mais concretas, a equipa de investigadores analisou manuscritos da linguagem Vai encontrados em arquivos na Líbia, nos Estados Unidos e na Europa. Ao atentarem nas mudanças registadas anualmente, conseguiram traçar a totalidade da evolução desde 1834 até ao presente. Posteriormente, aplicaram ferramentas computacionais para medir a complexidade visual dos símbolos. Foi assim que chegaram à conclusão de que estes se tornaram efetivamente mais simples à medida que o tempo passa.

“Os seus inventores foram inspirados por sonhos para desenhar símbolos individuais para cada som da linguagem. Um representa uma mulher grávida, outro é um escravo acorrentado, outros são inspirados em emblemas tradicionais. Quando estes sinais foram aplicados a sons falados e ensinados a novas pessoas, os símbolos foram-se tornando mais simples, mais sistemáticos e mais similares uns com os outros”, descreve Kelly.

Esta tendência de simplificação também pode ser observada em períodos de tempo mais longos noutras linguagens. “A complexidade visual é útil se se estiver a criar um novo sistema de escrita. Geram-se mais pistas e mais contrastes entre símbolos, o que ajuda a alfabetizar os indivíduos que estão a aprender. A complexidade pode ser um obstáculo para a leitura e até para a reprodução dos carateres, por isso acaba por desaparecer” continua o investigador.

ZAP //

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