“O problema não é da net”: acusação de manobras nas eleições em Timor

Antonio Dasiparu/EPA

José Ramos-Horta, presidente de Timor-Leste

Partido de Xanana Gusmão lidera com margem confortável nos resultados – que estão a demorar muito a ser divulgados e que originam um anúncio de Ramos-Horta.

O partido de Xanana Gusmão está a consolidar a liderança na contagem dos resultados das legislativas em Timor-Leste, com 40,29% dos votos e quanto estão apuradas cerca de 65% das assembleias de voto.

Os dados correspondem a cerca de 400 mil votantes, de um total de mais de 890 mil eleitores recenseados e quando ainda não é conhecida a taxa de participação no escrutínio de domingo.

A contagem foi retomada esta manhã, depois de estar interrompida durante a madrugada.

Os valores são os divulgados até cerca das 15:30 (07:30 em Lisboa), mais de 24 horas depois do fecho das urnas, e correspondem ao total da tabulação nacional e da diáspora.

Depois do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), surge a Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) em segundo lugar, com 27,51%, seguindo-se o Partido Democrático (PD), com 8,97%.

O CNRT venceu as eleições em todos os locais da diáspora: Austrália, Coreia do Sul, Reino Unido e Portugal.

Nesta altura, o Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO) é o quarto partido mais votado, com 7,16% dos votos, seguindo-se o Partido Libertação Popular (PLP), do atual primeiro-ministro, Taur Matan Ruak, que cai de terceira para quinta força no parlamento (6,19% dos votos).

Mais nenhum dos restantes 12 partidos está acima da barreira de 4% dos votos válidos, necessária para eleger deputados.

Ainda assim, o mais próximo de o conseguir é o estreante Partido Os Verdes de Timor (PVT), que tem atualmente cerca de 3,54% do voto.

Estas são as maiores eleições de sempre, tanto em número de eleitores, como de centros de votação.

Ramos Horta duvida do processo

O Presidente timorense vai exigir uma auditoria internacional para investigar as falhas na divulgação dos resultados das eleições legislativas de domingo, disse hoje o chefe de Estado à Lusa.

José Ramos-Horta acusou ainda o Governo de ter partidarizado o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) nos últimos dois anos, retirando pessoas com experiência e capacidade da entidade que está a ser visada pelas falhas na divulgação dos resultados.

“Não compreendo porquê, já estamos no segundo dia, e não há atualização permanente da tabulação, não está sendo feita. O STAE apresenta a desculpa falaciosa de que o problema é da internet, [mas] não é problema da internet”, afirmou o chefe de Estado, após uma reunião com o presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Timor-Leste.

“O problema é que ao longo destes dois anos partidarizaram o STAE, retiraram todo o pessoal com experiência durante muitos anos, e que foram objeto de elogios de todos, que trabalharam na Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e República Centro Africana. Retiraram e puseram pessoas que são políticos”, acusou.

Por uma questão “de transparência”, Ramos-Horta quer explicações, que entende só poderem ser garantidas através de uma auditoria internacional: “Eu vou exigir primeiro uma auditoria, [uma] auditoria aprofundada. E não vai ser uma auditoria nacional. Vai ser uma auditoria internacional, com gente competente, com capacidade de investigação criminal para ver o que se passou”, prometeu.

O STAE admitiu algumas falhas, devido a problemas técnicos e de internet, que estão a atrasar a divulgação dos resultados.

O diretor-geral, Acilino Manuel Branco, disse à Lusa que tem havido problemas nas comunicações por internet dos municípios para Díli, para que a tabulação dos resultados possa ser inserida.

Quase 19 horas depois do fecho das urnas, no domingo, o STAE ainda só tinha divulgado dados correspondentes a cerca de 48% dos centros de votação, o que equivale a cerca de 258 mil votantes, num universo de mais de 890 mil eleitores recenseados.

As únicas formas de conhecer a contagem progressiva do resultado é visitar o próprio STAE, em Díli, e consultar duas televisões disponibilizadas no local ou, em alternativa, acompanhar o quadro da contagem, que é retransmitido pela Rádio Televisão de Timor-Leste (RTTL).

Ainda assim, o sinal para a RTTL não é sempre em tempo real e, em vários momentos há um atraso significativo. Não há qualquer site ‘online’ para consulta, e o STAE optou, este ano, e ao contrário do que fez nas eleições anteriores, de só divulgar os dados da contagem nacional, sem publicar os quadros com as contagens nos municípios e na diáspora, apesar de já estarem fechadas em alguns locais.

Os dados dessa votação nos municípios passam num longo rodapé nos ecrãs, não sendo possível conhecer os votos de cada partido, nem outros dados sobre a votação, como participação, indicando-se apenas as percentagens obtidas pelas forças políticas.

Apesar das falhas na contagem, o STAE tem sido aplaudido, incluindo pelo próprio José Ramos-Horta, pelo trabalho eleitoral realizado no terreno, com mais de 20 mil pessoas destacadas em todo o país.

“Coligação? Vou ver”

O Presidente timorense disse que vai convidar o partido mais votado nas eleições de domingo a formar Governo, e avisou que não aceitará, necessariamente, qualquer coligação que lhe seja apresentada.

Convidarei o partido mais votado, com ou sem maioria absoluta. Se não tiver, cabe ao partido decidir se convida outro partido. Se houver coligação, vou ver quem faz parte dessa coligação”, disse José Ramos-Horta à Lusa.

Há determinados partidos que não passarão pela minha assinatura. Não vou simplesmente aceitar qualquer coligação que venha”, disse, depois de visitar hoje a Comissão Nacional de Eleições (CNE) onde deverá começar na terça-feira a verificação dos votos de domingo.

A manter-se a atual tendência, o CNRT vencerá as eleições, mas sem a maioria absoluta, pelo que necessitará de uma coligação.

O cenário mais provável é de uma coligação com o Partido Democrático (PD), que é atualmente a terceira força mais votada, já que os restantes três partidos estão juntos num acordo de plataforma para governar caso vencessem.

No domingo, depois de votar, Mariano Assanami Sabino, presidente do PD, disse à Lusa que o partido estava disponível para avaliar essa possibilidade de aliança, quer com o CNRT, quer com a Fretilin.

// Lusa

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