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Os macacos-prego podem ter tido a sua própria Idade da Pedra há 3.000 anos

tfalotico / Flickr

Sapajus libidinosus

Num vale remoto do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Brasil, um grupo de macacos-prego usa pedras redondas de quartzo para abrir as castanhas-de-caju. Os arqueólogos encontraram ferramentas com, pelo menos, 3.000 anos.

Uma comunidade de macacos-prego (Sapajus libidinosus) do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Brasil, faz uso de ferramentas para abrir castanhas-de-caju e sementes há, pelo menos, 3.000 anos e adaptou a sua técnica a diferentes alimentos ao longo do tempo.

Esta não é a mais antiga prova do uso de ferramentas por parte destes animais, uma vez que os chimpanzés da Costa do Marfim usam utensílios de pedra deste género há mais de 4.000 anos. Ainda assim, há algo de especial nesta descoberta.

Durante cerca de 450 gerações, os macacos que passaram por este parque adaptaram as suas ferramentas. A mais recente escavação arqueológica revelou 122 artefactos de pedra de vários tamanhos, com marcas de impacto, superfícies esmagadas, resíduos presos e outros sinais de que tinham sido, de facto, usados como ferramentas.

Os arqueólogos acreditam que cada tamanho era adequado a uma diferente dureza ou tipo de alimento. Além disso, os cientistas afirmam que este é o primeiro exemplo da variação de uma ferramenta a longo prazo. Os seres humanos, enquanto espécie, não são os únicos a ter um registo arqueológico detalhado, e isso “é realmente interessante”, disse o co-autor do artigo científico, Tomos Proffitt, à National Geographic.

As ferramentas mais antigas encontradas neste local são relativamente pequenas e leves, apesar de estarem muito danificadas em quase todas as superfícies. Além disso, não apresentavam qualquer vestígio de caju. Por esse motivo, os cientistas sugerem que este tipo de utensílios foi utilizado para fontes de alimentos menores do que as castanhas-de-caju, criando mais cortes e arranhões na pedra.

Mas, há 300 anos, tudo mudou: as pedras que os macacos-prego usavam nesta altura para martelar eram muito maiores, até maiores do que as usadas atualmente. Esta descoberta sugere que os animais ainda não estavam de olho nas castanhas de caju.

A atividade destes macacos “concentrou-se menos nos cajus e mais na abertura de alimentos mais duros“, lê-se no estudo, publicado recentemente na Nature Ecology & Evolution.

Na mais recente mudança, ocorrida no último século, o tamanho das ferramentas voltou a diminuir, assemelhando-se ao das usadas pelos macacos-prego contemporâneos. “Esta descoberta apresenta o primeiro exemplo de variação no uso de ferramentas a longo prazo fora da linhagem humana”, escreveram os investigadores.

Os cientistas desconhecem as razões exatas para esta mudança nas ferramentas, mas apresentam duas alternativas para explicá-la. Uma delas é que diferentes grupos de macacos-prego, com diferentes comidas favoritas, ocuparam o local em diferentes épocas. Outra é que um único grupo poderia ter ocupado o sítio de forma mais ou menos contínua, e a mudança nas ferramentas pode refletir uma alteração na disponibilidade dos alimentos.

É muito difícil interpretar estes resultados uma vez que os macacos não alteraram a sua técnica de martelar – apenas o tamanho do martelo. Apesar disso, estes animais podem ter tido a sua própria “Idade da Pedra” e ter criado diferentes ferramentas para fins distintos.

ZAP //

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