Afinal, como foi o último dia da nossa bisavó, Lucy? Sabe-se que estava à beira de um lago, tinha uma dentada no pélvis e várias fraturas nos membros.
Lucy saiu de casa. À distância, poderia parecer que uma criança pequena estava a percorrer a erva ondulante ao longo de um vasto lago.
A nossa “bisavó” pode ter olhado cautelosamente por cima do ombro enquanto caminhava, em alerta para gatos dentes-de-sabre ou hienas. Pode ter usado os seus braços fortes para trepar os arbustos das árvores próximas, à procura de coida. Ou simplesmente descansou nas margens das águas infestadas de crocodilos, bebendo água num dia de calor. Mas certamente que não fazia ideia de que aquele era o seu último dia na Terra.
Cerca de 3,2 milhões de anos mais tarde, há 50 anos, o seu esqueleto foi desenterrado pelo paleoantropólogo Donald Johanson.
O fóssil incrivelmente completo foi apelidado de “Lucy”. E a sua notável espécie, Australopithecus afarensis, pode ter sido o nosso antepassado direto – tanto que Lucy é vulgarmente designada pela nossa bisavó.
Como escreve a Live Science, essas descobertas transformaram a nossa compreensão da emaranhada árvore genealógica da humanidade.
O último dia de Lucy
As investigações dizem que o seu último dia pode ter sido repleto de companhia, tendo também implicado uma busca incessante por comida. Também se diz que aquele dia foi dominado pelo medo sempre presente dos predadores.
“Suspeito que o último dia da vida de Lucy tenha sido cheio de perigos”, explicou Donald Johanson à Live Science.
Lucy e a sua espécie teriam passado uma parte significativa do seu tempo a evitar tornar-se o almoço de outro animal.
“Estas pequenas criaturas teriam sido um bom aperitivo para um dente-de-sabre, um gato grande ou uma hiena”, explicou o paleoantropólogo.
Não é claro se estava sozinha ou em grupo quando Lucy saiu em busca de comida. Não há, no entanto, dúvidas de que passou uma grande parte do seu dia à procura de comida.
É muito provável que tenha comido alguns alimentos básicos, como gramíneas, raízes e insectos, como demonstram elementos químicos no esmalte dos seus dentes. Pode ter encontrado ovos de pássaros ou tartarugas e tê-los devorado prontamente como guloseimas saborosas e ricas em proteínas.
Lucy, “à beira do rio”
Mas uma coisa já se descobriu. Lucy estava à beira de um lago. Não se sabe exatamente porque é que ali estava. Talvez estivesse com sede, ou talvez fosse um ótimo local para procurar comida.
Mas há duas teorias principais sobre a forma como ela morreu.
“Talvez ela estivesse lá embaixo, na água, e – zás! – um crocodilo apareceu…“, disse Johanson. “Os crocodilos são incrivelmente rápidos e é um sítio perigoso se formos uma criatura pequena como Lucy”, continuou.
Na sua descoberta a 30 de novembro de 1974, Johanson e a sua equipa encontraram uma marca de dente de carnívoro na pélvis de Lucy, e não tinha cicatrizado, o que significa que ocorreu por volta da altura da sua morte.
“Embora o animal que fez a marca não tenha sido identificado de forma conclusiva, sabemos que os australopitecíneos eram predados porque há uma série de exemplos”, explcicou Johanson.
Num estudo publicado em 2016, na Nature, John Kappelman, paleoantropólogo da Universidade do Texas, e os seus colegas apresentaram um final alternativo para Lucy: uma queda catastrófica de uma árvore.
Com base em tomografias computadorizadas de alta resolução e reconstruções em 3D do esqueleto de Lucy, foram identificadas fracturas no ombro direito, costelas e joelhos que eram diferentes das fracturas típicas que ocorrem em fósseis esmagados sob o peso de terra e rochas durante milhões de anos.
Os tipos de fracturas que Lucy sofreu são consistentes com uma queda de uma altura considerável, talvez de uma árvore alta onde estava a procurar comida.
“Ela bateu com os pés e depois com as mãos, o que significa que estava consciente quando bateu no chão. Eu não acho que ela tenha sobrevido por muito tempo”, disse Kappelman, citado pela Live Science.
Não é claro se ela estava sozinha quando morreu. Mas mesmo que estivesse acompanhada, provavelmente não teria salvação.
Não há provas de, naquele tempo, os corpos do A. afarensis eram tratados.