50 anos passaram desde que os arqueólogos descobriram Lucy. No entanto, os cientistas que a estudaram dizem que o mais famoso hominídeo antigo alguma vez encontrado nos deu uma imagem enganadora da natureza da sua espécie.
Há precisamente 100 anos, a 28 de novembro de 1924, na África do Sul, Raymond Dart revelou ao mundo o crânio da “Criança de Taung”.
Este fóssil mudou a compreensão da evolução humana ao indicar que os primeiros seres humanos evoluíram em África.
Esta descoberta inaugurou o estudo do Australopithecus, com Dart a ser pioneiro na descrição desta nova espécie como Australopithecus africanus: O Homem-Macaco da África do Sul.
Cinquenta anos mais tarde, em 1974, Donald Johanson e a sua equipa descobriram os restos mortais de outro Australopithecus na Etiópia, que viria a ser batizada como “Lucy”, devido à canção “Lucy in the Sky” dos Beatles que estava a tocar nessa noite.
Lucy, com o nome científico de Australopithecus afarensis e vulgarmente descrita como “a bisavó dos humanos”, conquistou a imaginação popular e tornou-se num ícone cultural.
No entanto, apesar do estatuto icónico que alcançou e de o esqueleto estar cerca de 40% completo, Lucy representa uma visão parcial da espécie Afarensis.
À New Scientist, Tim White, da Universidade da Califórnia, referiu que sendo Lucy excecionalmente pequena poderia oferecer uma imagem distorcida do Australopithecus afarensis se fosse o único fóssil encontrado.
O invetigador diz que se pintou, desde sempre, a imagem de uma espécie com base neste único espécime. O facto é que Lucy não é um A. afarensis típico.
No entanto, um ano após a descoberta de Lucy, foram encontrados mais de 200 ossos de pelo menos 13 indivíduos afarensis, formando o que é conhecido como a “Primeira Família”.
“Esta amostra de afarensis é o padrão de ouro para todos os primeiros hominídeos até aos Neandertais. Devido à preservação de tantos indivíduos, temos uma janela para a variação de uma espécie no passado”, disse Carol Ward, da Universidade do Missouri Ward, à New Scientist.
Este grupo, datado de há 3,2 milhões de anos, fornece um padrão de comparação com outros hominídeos primitivos até aos Neandertais, provando que os Afarensis viviam em grupos sociais complexos.
“Se voltássemos a passar a cassete e só encontrássemos Lucy, teríamos uma imagem fundamentalmente enganadora do que é o afarensis“, disse Tim White.
Como compara o investigador, seria como se os extraterrestres raptassem um ser humano ao acaso e apanhassem a pequena ginasta dos anos 70, Olga Korbut, e a partir dela tentassem calcular a nossa altura média.