Caos de 9 dias — e 8 mil toneladas de lixo. “Sem ovos para fazer omeletes”, trabalhadores da higiene urbana fazem greve. Apanhado de surpresa, Moedas pede ajuda, mas “se houver adesão total, ninguém salva esta situação”.
Com os trabalhadores da higiene urbana em greve nos dias 26 e 27 e em greve ao trabalho extraordinário entre o dia de Natal e a véspera de Ano Novo, a capital pode tornar-se uma lixeira a céu aberto durante 9 dias.
No dia de Ano Novo, a paralisação irá decorrer apenas no período noturno, ao trabalho normal e suplementar, entre as 22:00 de dia 1 e as 06:00 de dia 2 de janeiro. O sindicato justifica a greve anunciada com “as não respostas do executivo” da autarquia aos problemas que afetam o setor da Higiene Urbana.
Aas opções da autarquia liderada por Carlos Moedas “permitiram abrir portas ao setor privado para a realização de determinadas funções associadas ao serviço público de higiene urbana, em todas as dimensões inaceitável“, salienta o sindicato.
Moedas pede ajuda, mas freguesias “só se podem acomodar”
O presidente da Câmara de Lisboa apelou a todos os presidentes de junta de freguesia que se juntem à autarquia na defesa da negociação com os sindicatos.
Numa carta enviada a todos os presidentes de junta de freguesia, a que a Lusa teve acesso, Carlos Moedas diz que a autarquia foi apanhada de surpresa com a convocação da greve e apela a que as juntas façam “tudo o que estiver ao seu alcance” para mitigar os efeitos negativos desta paralisação.
Mas “se houver uma adesão total à greve, não há ninguém que salve esta situação”, avisa o presidente da Junta de Freguesia de Marvila em declarações ao Diário de Notícias.
“Só nos podemos praticamente acomodar. Não temos meios em termos de transporte, quem faz a recolha, quem tem este material pesado, é a própria câmara”, reforça José António Videira.
Aos moradores, Moedas, que alertou para o caos, pediu: “tenham consciência do que estamos a viver e evitem depositar o lixo, se puderem”. Para o autarca, este é “um problema de todos” e estima que possam ficar por recolher mais de 8 mil toneladas de lixo.
“Os lisboetas viverão dias muito difíceis”, sublinhou Moedas.
Plano de emergência
Numa reunião com os presidentes de junta de freguesia, a autarquia já decidiu algumas medidas para atenuar os efeitos da greve, como criar uma equipa de gestão de crise, distribuir contentores de obra pelas freguesias, para que os moradores tenham onde depositar o lixo e pedir aos grandes produtores de lixo que façam a sua própria recolha nos dias da greve e equacionar a hipótese de teletrabalho nesses dias.
O autarca socialista de Marvila reforça, apesar de tudo, que “vai tentar auxiliar a Câmara Municipal de Lisboa” ao “identificar os pontos estratégicos” que entende que “haverá maior concentração e acumulação dos resíduos”, de modo a serem colocados “os devidos contentores”, mas sublinha: estes problemas podem afetar mais de 40 mil pessoas só em Marvila.
O problema é “transversal” a toda a cidade, avisa Ricardo Mexia, presidente da Junta de Freguesia do Lumiar, uma vez que a situação é agravada pela época festiva, que provoca sempre um maior acumular de lixo, e por isso admite que pode haver “maior deposição de resíduos junto aos ecopontos e aos próprios contentores”.
“Vai haver constrangimentos importantes, seja na recolha dos ecopontos ou na recolha porta a porta”, avisa.
“Sem ovos não é possível fazer omeletes”
O sindicato acusou ainda a Câmara de Lisboa de ser incapaz de organizar os trabalhadores que tem à sua disposição e de “não responder aos reais problemas que se vivem na limpeza urbana”, reivindicando o “cumprimento e respeito pelo acordo celebrado em junho de 2023” em relação a várias questões, nomeadamente a realização de obras e intervenções nas instalações e a abertura de espaços de toma de refeições para os funcionários.
A organização exige ainda o “respeito pelo direito à conciliação entre a vida profissional e a vida pessoal e familiar”, o fim dos “castigos informais que se continuam a verificar” e a necessidade de uma distribuição equitativa do trabalho suplementar, que deve ser realizado por todos os trabalhadores disponíveis, entre outras matérias.
A necessidade de um “urgente investimento público” no setor é também destacada pelo sindicato, que indica que “45,2% das viaturas essenciais à remoção encontram-se inoperacionais” e que “22,6% da força de trabalho está diminuída fisicamente ou de baixa por acidentes de trabalho”.
“Todas as semanas, inúmeros circuitos ficam por fazer. E culpam-se os trabalhadores por esta realidade? Como é hábito dizer, ‘sem ovos não é possível fazer omeletes'”, salienta o STML, avisando que a luta dos trabalhadores da Higiene Urbana pode não terminar nesta época do Natal e que cabe em exclusivo ao executivo municipal avaliar as opções e soluções para os vários problemas.
“É injusto”, diz Moedas
Na missiva, Moedas pede ainda aos presidentes de junta que juntem a sua voz à da câmara municipal no apelo “à responsabilidade social dos sindicatos”.
“As nossas freguesias serão, pela sua proximidade às pessoas, as mais afetadas pelos efeitos da greve”, escreve Moedas, estendendo o apelo aos autarcas para que todos se juntem na procura de uma solução com os sindicatos para “resolver os problemas concretos da higiene urbana da cidade”.
“Sem radicalismos, sem comprometer a vida das pessoas, sem prejudicar a cidade”, escreve Carlos Moedas, considerando que a cidade precisa de diálogo e não de “posições extremadas”.
Numa conferência de imprensa na quarta-feira, Carlos Moedas assegurou que irá fazer tudo para evitar a greve de recolha de lixo e exortou os sindicatos a negociar com a autarquia.
“É injusto. É injusto desde já, porque este executivo que lidero há apenas três anos tem vindo a fazer tudo o que pode para melhorar as condições do trabalho das mulheres e dos homens da higiene urbana”, disse Moedas, apelando aos sindicatos para se sentarem à mesa com a autarquia.
“Não é criando o caos que se ganha o direito. Nem os lisboetas podem ser vítimas de qualquer estratégia de afirmação política ou sindical. Farei tudo para negociar e evitar a greve”, disse Moedas, considerando que se a greve avançar “os lisboetas viverão dias muito difíceis” ao nível da saúde pública.
Tomás Guimarães // Lusa
Mas se lisboa já é LIXEIRA a céu aberto, logo NÃO estou a ver qual a preocupação mesmo! lisboa É LIXO mesmo! Tal como o porto! Afinal mais ou menos LIXO, NÃO faz grande diferença em lisboa PÁ!
Lisboa já é uma lixeira á cerca de dois anos, que é o tempo que este presidente lá está.