Mena Mangal, uma das jornalistas mais conhecidas do Afeganistão, foi morta a tiro este sábado, em Cabul. A ativista, conhecida pelo seu trabalho na televisão, denunciava casamentos forçados contra a vontade das mulheres e defendia os seus direitos ao trabalho e à educação.
A jornalista foi alvejada num mercado cerca das 07:30, hora local. Antes de dispararem, dois homens que seguiam de mota atiraram quatro vezes para o ar. Mena Mangal trabalhava agora como assessora na câmara baixa do parlamento afegão – Wolesi Jirga – e esperava pelo carro que a levaria para o emprego, noticiou o Sábado.
Em 2017, a defensora dos direitos das mulheres tornou-se famosa por escrever acerca do seu próprio casamento forçado e o processo de divórcio que se seguiu – e que terminou este mês. No Facebook, Mena Mangal tinha denunciado a 03 de maio que estava a ser alvo de ameaças de morte, mas não foi colocada sob proteção.
Os assassinos de Mena Mangal continuam a ser procurados pelas autoridades, depois de terem conseguido escapar. A mãe da jornalista afirmou que, no passado, a filha tinha sido raptada, mas que os criminosos tinham subornado as autoridades após serem detidos e estavam em liberdade.
A polícia de Cabul ainda não tem suspeitos, nem revela se há motivações terroristas no assassinato, que não foi reivindicado. As autoridades disseram ainda que uma força policial especial irá investigar o crime.
Ativistas dos direitos das mulheres expressaram o seu pesar pela morte de Mena Mangal, alegando que a mesma não recebeu a devida proteção por parte das autoridades.
“Porque é tão fácil nesta sociedade [os homens] poderem continuar a matar as mulheres com que não concordam?”, perguntou Wazhma Frogh, uma advogada dedicada aos direitos humanos no Afeganistão, citada pelo Independent. “Esta mulher já havia partilhado que a sua vida estava em perigo. Por que nada aconteceu? Precisamos de respostas”.
De acordo com o Repórteres sem Fronteiras, 2018 foi o ano mais letal para jornalistas desde a queda do regime talibã em 2001, quando 15 jornalistas foram mortos.
A Amnistia Internacional classificou o país como o pior lugar do mundo para se ser mulher, podendo estas ser atacadas por irem à escola ou ao trabalho. O Afeganistão tem também altos níveis de violação e de violência doméstica, além de abuso físico e sexual por forças do Estado, casamento forçado e infantil e mortes por honra.
Os direitos das mulheres afegãs foram reprimidos quando o regime talibã se encontrava no poder. O país assistiu a vários assassinatos de mulheres em cargos públicos nas últimas duas décadas, incluindo polícias, políticos, educadoras, estudantes e jornalistas.
Alguns desses atos foram classificados como crimes de honra, realizados por familiares ou membros da comunidade. Outras foram assassinadas por insurgentes que se opõem às mulheres que têm um papel na vida pública ou que falam sobre os seus direitos.
Em 2012, Malala Yousafzai, na altura com 15 anos, foi baleada na cabeça por talibãs no Paquistão, devido ao facto de falar sobre o direito das raparigas em receberem educação.
A jornalista era conhecida por uma carreira de mais de dez anos como apresentadora em canais de televisão locais como a LEMAR TV, Shamshad News e Ariana TV.