Os autores do estudo acreditam que a ferramenta pode complementar os métodos de diagnóstico de autismo tradicionais.
Uma equipa de cientistas desenvolveu uma ferramenta rápida e fácil que pode ajudar a diagnosticar o autismo em crianças utilizando um jogo de vídeo de um minuto.
O estudo publicado na The British Journal of Psychiatry concluiu que a ferramenta pode distinguir as crianças autistas das neurotípicas com 80% de precisão e diferenciar o autismo da Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) com uma taxa de sucesso de 70%.
Liderada por Bahar Tunçgenç, a equipa acredita que esta nova abordagem pode complementar os métodos de diagnóstico tradicionais. “Os nossos sistemas de saúde precisam desesperadamente de métodos objetivos, rápidos e eficazes em termos de custos, com uma base sólida de provas”, disse Tunçgenç ao IFLScience.
O estudo envolveu 183 crianças com idades compreendidas entre os 7 e os 13 anos, às quais foi pedido que imitassem movimentos de dança executados por um avatar de videojogo, à semelhança das danças ao estilo do TikTok.
O seu desempenho foi analisado através do CAMI (Computerized Assessment of Motor Imitation), um algoritmo que atribui uma pontuação entre 0 e 1, sendo que as pontuações mais elevadas indicam uma melhor imitação. Cada criança repetiu o teste duas vezes, juntamente com avaliações de diagnóstico normalizadas.
Os investigadores destacam a imitação motora como um fator distintivo fundamental no diagnóstico do autismo. Os métodos tradicionais centram-se nas dificuldades sócio-comunicativas e nos comportamentos repetitivos, mas estudos recentes indicam que as dificuldades sensoriais e motoras também são comuns nos indivíduos autistas, com algumas estimativas a sugerir que 88% dos indivíduos têm dificuldades relacionadas com o movimento.
Uma vantagem significativa desta abordagem é o facto de as crianças gostarem do teste, o que torna o processo menos stressante e mais interessante. “Não é frequente fazer-se um estudo com crianças e elas quererem ‘fazer outra vez’”, afirmou Tunçgenç.
Apesar dos resultados promissores, a National Autistic Society do Reino Unido manifestou a sua preocupação quanto às implicações do estudo. Anoushka Pattenden, Diretora de Parcerias de Investigação e Participação, advertiu contra a simplificação do diagnóstico de autismo.
“Apesar de precisarmos de soluções para a enorme procura de avaliações do autismo, não se pode cortar nos pormenores”, afirmou. “Uma avaliação deve ser exaustiva e efectuada por profissionais qualificados.”
Outra preocupação é a ênfase na imitação, que pode encorajar o mascaramento – um comportamento em que os indivíduos autistas suprimem as suas caraterísticas naturais para parecerem neurotípicos, potencialmente prejudicando a sua saúde mental.
Os investigadores planeiam mais estudos sobre diversas populações e estão abertos a discussões com clínicas interessadas em implementar o CAMI.
O estudo foi publicado no The British Journal of Psychiatry e pode abrir caminho a métodos de diagnóstico do autismo inovadores e acessíveis.