João Oliveira rejeita suceder a Jerónimo e diz que pode até “não haver secretário-geral”

Paulo Cunha / Lusa

O presidente do grupo parlamentar do PCP, João Oliveira

Numa entrevista ao Público e à Renascença, o líder do grupo parlamentar do PCP falou sobre o resultado do partido nestas eleições e sobre os tempos difíceis que se avizinham, não só para si mas para o Governo socialista.

Nestas eleições Legislativas, a Coligação Democrática Unitária (CDU) obteve 6,33% dos votos, garantindo na Assembleia da República 12 deputados, quando em 2015 tinha conseguido 17.

O Partido Comunista Português (PCP) não escondeu que este foi um mau resultado, assumindo até que há militantes e ex-militantes do partido que estão em discordância radical com o rumo dos últimos quatro anos.

Numa entrevista à Renascença e ao Público, João Oliveira, líder parlamentar do PCP, abordou este e outros assuntos, deixando desde já a ideia que vai continuar no cargo. “Não temos ainda essa questão decidida, mas em princípio sim, manterei as minhas responsabilidades no grupo parlamentar”, afirmou.

Questionado sobre a não existência de um acordo escrito com o Governo socialista — ou “posição conjunta” como o PCP gosta de chamar — o comunista declara que, em 2015, isso só aconteceu porque as circunstâncias eram completamente diferentes, nomeadamente por causa da “resistência do então Presidente da República”.

Neste momento, João Oliveira considera que “não se trata de uma questão de opção, trata-se de uma questão de desnecessidade” e lembra que o facto de o PS “andar ou não de mãos livres, não depende tanto das convergências a que se chegue em soluções”, mas sim “da circunstância da nova composição da Assembleia da República”.

E garante: “O PCP vai apresentar no arranque da legislatura um conjunto de propostas decisivas para alguns avanços que foram alcançados nestes quatro anos poderem ir mais longe”.

São caso disso o alargamento da oferta dos transportes públicos e os aumentos dos salários e das pensões, com o comunista a considerar que “nada fica limitado por não haver uma posição conjunta assinada”, porque “havendo vontade do PS de convergir, pode-se avançar em tudo isso”.

O PS conhece as nossas posições, sabe aquilo que valorizamos e que, sendo refletido no programa de Governo, podia ser valorizado positivamente. Também conhecem as nossas posições absolutamente antagónicas”, diz ainda.

Sobre o Orçamento do Estado que aí vem, o líder parlamentar afirma que o partido ainda não discutiu sobre quais são as prioridades, no entanto, entende que são de “discussão no quadro da contratação coletiva e medidas de decisão do Governo” medidas que se centrem nos “direitos dos trabalhadores” e “aumento geral dos salários, em que se inclui o salário mínimo”.

Questionado sobre se há algum tabu sobre o líder do partido, Jerónimo de Sousa, e a sua continuidade na liderança, João Oliveira nega essa situação, assim como nega também a possibilidade de algum dia vir a suceder-lhe.

Não há tabu nenhum; há é uma grande coerência na abordagem dessa questão. Não me aproximo sequer de quem tem uma maior experiência sobre a vida do meu partido; o meu partido já leva 98 anos de existência e eu estou muito longe disso”.

“Da experiência que tenho, não há alteração rigorosamente nenhuma na forma como essas questões são tratadas. É no momento certo, em função dos nossos próprios critérios, das nossas opções e da forma como nós consideramos essas responsabilidades do secretário-geral, que nem sequer são aquelas que existem noutros partidos. Por exemplo, uma coisa que os estatutos preveem é até a possibilidade de não haver secretário-geral. É uma decisão do comité central e há-de ser tomada no momento em que tiver de ser tomada”.

ZAP //

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